terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A Estrada


A Estrada, filme baseado no livro de Cormac McCarthy (Onde os Fracos Não Têm Vez), se passa num mundo pós-apocalíptico, em que praticamente toda a vida na Terra foi dizimada, com exceção de alguns poucos humanos. Estes estão divididos entre aqueles que caçam outras pessoas para se alimentar e aqueles que buscam sobreviver a qualquer custo. Muitos não resistem a esta horrível realidade e acabam optando pelo suicídio a encarar tal mundo.

O roteiro de Joe Penhall não perde tempo tentando dar explicações sobre o desastre ocorrido no planeta. Aqui, ao contrário dos filmes-catástrofe de Roland Emmerich (O Dia Depois de Amanhã, 2012), o foco da narrativa se concentra na relação os dois protagonistas: pai (Viggo Mortensen) e filho (Kodi Smit-McPhee) que, abandonados pela mãe (Charlize Theron), tentam sobreviver seguindo um caminho que teoricamente os levará a um local melhor e onde encontrarão pessoas igualmente em busca de alimento e de um novo lar.

A Terra do filme é retratada de uma forma cinzenta e desolada. A belíssima fotografia de Javier Aguirresarobe ajuda a construir esse universo devastado, que contrasta com as cenas iniciais antes do desastre e dos rápidos flashbacks durante a história, retratadas com cores muito mais saturadas e vivas. O diretor de arte Gershon Ginsburg também realiza um ótimo trabalho criando cenários completamente devastados, com ruínas por toda parte e cidades-fantasmas.  Já os humanos canibais são retratados quase como os zumbis dos filmes de George A. Romero, vagando pelas sombrias florestas, atrás principalmente de crianças. A Estrada, aliás, conta com algumas sequências de puro suspense e terror muito bem realizadas pelo diretor John Hillcoat.

Mas a história não teria o mesmo impacto se não fosse pelas grandes atuações.  Viggo Mortensen mais uma vez se entrega completamente ao personagem, ao demonstrar o carinho e o instinto de proteção que possui em relação ao filho acompanhados de uma crescente perda de esperanças de conseguir sobreviver – e ele merecia ter sido melhor lembrado nessa temporada de premiações. Já o jovem Kodi Smit-McPhee interpreta o filho como uma criança que, desconhecendo o mundo antes da tragédia, se encanta com o pouco que ainda resta da antiga civilização, ao mesmo tempo em que  ajuda o pai a manter a humanidade que ainda lhe resta. O filme ainda conta com uma curta e ótima participação de Robert Duvall, como um velho sobrevivente que também vaga sem rumo pelo mundo desolado.

A travessia incompleta do filme simboliza a capacidade do ser humano de sempre dar um sentindo a sua existência, mesmo diante das mais profundas privações e horrores. Pessoas que têm a habilidade de crer que no final a distância que percorrem e as dificuldades por que passam serão sempre recompensados. Por mais que nunca saibam o que irão encontrar no fim da estrada, sempre resta a esperança de que lá existirá um mundo melhor.

The Road (2009) - Dirigido por John Hillcoat; Com Viggo Mortensen, Kodi Smit-McPhee, Charlize Theron, Robert Duvall, Guy Pearce, Molly Parker e Michael K. Williams.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Os Curtas de Animação do Oscar

De todos os filmes indicados ao Oscar, os curtas de animação são os mais fáceis de se assistir, já que estão quase todos disponíveis já na rede. Aqui disponibilizo quatro deles. O único que não encontrei foi A Matter of Loaf and Death. Curtam (com trocadilho):

Granny O'Grimm's Sleeping Beauty



La Dama y la Muerte (The Lady and the Reaper)


Logorama (parte 1)


Logorama (parte 2)


French Roast


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Guerra ao Terror


O maior mico cinematográfico de 2009 no Brasil pertence à distribuidora de Guerra ao Terror. Influenciada pelo pouco sucesso no país dos filmes sobre os conflitos recentes no Iraque e Afeganistão, a Imagem Filmes decidiu lançar a obra direto em DVD antes mesmo da estréia do filme nos cinemas americanos. Meses depois, o longa de Kathryn Bigelow já havia vencido quase todos os prêmios e festivais dos quais participou, culminando com as nove indicações ao Oscar nesta semana – largando como um dos principais favoritos.
Percebendo a besteira que fez, além de querer faturar mais com a visibilidade que o Oscar traz para o filme, Guerra ao Terror chega finalmente aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira. O filme acompanha três especialistas em bombas do exército norte-americano com a difícil tarefa de localizar e desarmar estes artefatos, num trabalho que mistura o risco iminente de morte e a alta adrenalina. É dessa premissa simples que Bigelow fez aquele que já está sendo chamado lá fora de “o novo Platoon”.
Mas ao contrário do filme de Oliver Stone (curiosamente, o último filme sobre uma guerra moderna a vencer o Oscar, em 87), Guerra ao Terror foge das discussões políticas em torno do conflito, evitando os já extensos discursos antiguerra presente em inúmeras outras obras. Não que aqui eles estejam ausentes, mas a mensagem é muito mais sutil. Bigelow se preocupa mais em estudar as sequelas que os conflitos causam na mente humana e em como aqueles que participam de uma guerra são incapazes de escapar incólumes de suas consequências.
Ajuda neste aspecto a belíssima interpretação de Jeremy Renner como William James, um experiente soldado que entra para a equipe depois que um dos integrantes morre ao tentar desarmar um explosivo. Ele é o arquétipo do herói de guerra: corajoso, ousado, arrogante, mas com uma ponta de sentimento, um restante de humanidade que mesmo o pior conflito não consegue apagar. O caminho do personagem – que volta para a casa só para perceber que a guerra deixou sequelas demais para se viver naquele mundo “normal” – representa o maior trunfo do ótimo roteiro de Mark Boal.
Bigelow filma tudo apostando num grande realismo, como se nós mesmos estivéssemos dentro do conflito. As cenas em que os personagens têm que desarmar alguma bomba sempre são tensas e não se tornam repetitivas. A presença dos paisanos que observam seus trabalhos – e que podem ser tanto pessoas comuns curiosas quanto o próprio inimigo – ajudam a gerar uma apreensão constante nos espectadores. Três sequências se destacam e ficaram bastante tempo na memória de quem assiste o filme: a primeira quando William tem que desarmar um explosivo que se localiza dentro de um carro; a segunda durante um tenso duelo de armas de alta-precisão no meio do deserto, que faz lembrar mais um faroeste que um filme de guerra comum; e por fim, já próximo ao fim do filme, numa cena que se passa à noite e em que Bigelow (junto com o fotógrafo Barry Ackroyd) jogam os personagens numa escuridão total contraposta apenas às cores quentes do fogo ao redor, ilustrando o terror e as incertezas do conflito.
Contando com participações rápidas – quase pontas – de atores mais conhecidos do público, como Guy Pierce e Ralph Fiennes, Guerra ao Terror é a prova de que ainda dá para produzir uma obra rica em significados em um gênero tantas vezes já trabalhado. E num gênero considerado masculino, Kathryn Bigelow conseguiu captar com perfeição como é estar dentro de uma guerra de verdade.

The Hurt Locker (2009) - Dirigido por Kathryn Bigelow; Com Jeremy Renner, Anthony Mackie, Brian Geraghty, Guy Pearce, Ralph Fiennes, David Morse, Evangeline Lilly e Christian Camargo.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Os indicados ao Oscar

Guerra ao Terror: o grande favorito

Quando a Academia decidiu aumentar o número de indicados ao Oscar de Melhor Filme de cinco para dez, essa escolha foi feita principalmente, para dar espaço para longas de apelo popular que por algum motivo ficaram de for da lista dos cinco melhores filmes do ano. E, assim, aumentar a audiência da festa, que vem caindo ano após ano.
Só que, ao contrário de 2008, quando tivemos O Cavaleiro das Trevas e Wall-E, filmes que foram sucesso tanto de público quando de crítica (e que, de fato, eram os dois melhores filmes americanos daquele ano), 2009 não foi um bom ano para os blockbusters. Tirando Star Trek (e, de certa forma, Distrito 9), que teve boa recepção da crítica, a maioria dos outros filmes ou foram bombas ou não tão bons para merecer uma indicação (não à toa, teremos mais sucessos no Framboesa de Ouro que no Oscar). Isso faz com que o número de 10 indicados pareça exagerado e filmes como Um Sonho Possível e Educação dão a impressão que estão lá só para ocupar espaço.
Claro que quando falo dos grandes sucessos, não estou contando Avatar. Este estaria na lista mesmo se ela tivesse apenas cinco filmes. Os números de bilheteria e a vitória no Globo de Ouro dão a impressão de que ele é realmente o favorito. Mas não é bem assim. Sim, é muito provável que Avatar leve boa parte dos prêmios técnicos e saia como o mais premiado. Mas James Cameron possui uma concorrente muito forte: sua ex-mulher Kathryn Bigelow e seu Guerra ao Terror – não à toa, os dois filmes foram os com mais indicações, nove no total.
O filme de guerra ganhou muita força ao vencer os prêmios dos Sindicatos dos Produtores e dos Diretores. Bigelow é aposta certa para o Oscar de Direção, não só por ter feito o melhor trabalho dos cinco indicados, mas também pelo fato da Academia querer acabar com o tabu de uma mulher nunca ter vencido o prêmio de Direção. Guerra ao Terror também está um nariz à frente de Avatar na disputa por Melhor Filme, mas a competição parece bastante acirrada e só deve ser resolvida na noite do dia 7 de março.
Quanto aos atores, os prêmios de Ator e Atriz Coadjuvante já possuem donos, não só pelas atuações fantásticas, mas também pela falta de concorrência: Christoph Waltz, por Bastardos Inglórios e Mo’Nique, por Preciosa. O Oscar de Melhor Ator também parece certo para o “dude” Jeff Bridges, por Coração Louco. Já Sandra Bullock se consolida de vez como favorita a Melhor Atriz por Um Sonho Possível, já que o filme parece ter recebido indicação ao prêmio principal graças ao carisma da atriz – única explicação para a presença de um filme muito mal recebido pela crítica nessa categoria.
Já Melhor Animação deve ir novamente para a Pixar, que teve pela primeira vez um longa indicado a Melhor Filme. O que é curioso, já que Up é o trabalho menos impactante do estúdio nos últimos anos (é menor que Procurando Nemo, Os Incríveis, Ratatouille e Wall-E, por exemplo). Eu até torço para o prêmio ir para Wes Anderson e seu Fantástico Sr. Raposo, mas é difícil. As indicações a filme estrangeiro também ficaram dentro do esperado, com os favoritos A Fita Branca (Alemanha), O Segredo de seus Olhos (Argentina), Um Profeta (França) e A Teta Assustada (Peru) comparecendo entre os finalistas.
Agora é só esperar pouco mais de um mês para sabermos quem sairá da festa com mais estatuetas.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Framboesa de Ouro - Os indicados


Transformers - A Vigança dos Derrotados é o líder em indicações


Saíram hoje os indicados ao Framboesa de Ouro, paródia do Oscar - muitas vezes mais "justo" que o irmão sério. O que se pode destacar é a grande presença de filmes que foram sucesso de bilheterias - ou que foram feitos pensando em tal fim. Os líderes em indicações são Transformers - A Vingança dos Derrotados, com sete, e G.I. Joe - A Origem do Cobra, com seis. 

Quem também está na lista é o segundo filme da saga Crepúsculo, Lua Nova, com o triâgulo amoroso formado por Kristen Stewart, Robert Pattinson e Taylor Lautner concorrendo a Pior Casal/Dupla (Pattinson também concorre a Pior Ator Coadjuvante). Artistas queridinhos do público jovem, como os Jonas Brothers e Myley Cirus (a Hannah Montana) também estão entre os indicados.

Outra curiosidade é Sandra Bullock entre as indicadas a Pior Atriz, por All About Steve. Bullock ganhou recentemente o prêmio de Melhor Atriz do sindicato dos atores de Hollywood (DGA) e é a favorita ao Oscar nesta mesma categoria.
Este que vos escreve até achou Lua Nova menos ruim que o original (apesar da indicação de Robert Pattinson ser justíssima) e torce para que Michael Bay e seus cinco cortes por segundo levem a maior parte dos "prêmios".