domingo, 30 de dezembro de 2012

Melhores de 2012 - Parte 2

2012 foi um ano repleto de filmes medianos. Alguns decepcionaram bastante (Prometheus e Na Estrada, para citar dois). Outros, mesmo bons, foram muito superestimados (Cosmópolis e O Homem da Máfia, por exemplo). O ano não foi bom principalmente para o cinema americano. Da lista a seguir, apenas um dos longas presentes foi produzido nos EUA. Dos blockbusters, apesar de Os Vingadores e O Cavaleiro das Trevas Ressurge terem se saído bem, ainda assim apresentaram problemas óbvios. E não vou nem citar bombas como O Espetacular Homem Aranha, John Carter e Abraham Lincoln: O Caçador de Vampiros.

Mas esse post não é para falar daqueles que desapontaram, mas para indicar os bem sucedidos. Por que o ano também foi pródigo em nos presentear com grandes obras cinematográficas. A seguir, o que 2012 nos trouxe de melhor.



10. Políssiadirigido por Maïwenn

Um filme quase documental sobre o trabalho da polícia francesa. Uma obra que emociona por seu realismo.




9. Era Uma Vez na Anatóliadirigido por Nuri Bilge Ceylan

Ceylan transforma um filme policial em um belo exercício de estilo, com ótimos personagens e uma fotografia de tirar o fôlego.




8. Histórias que Só Existem Quando Lembradasdirigido por Júlia Murat

A quebra da rotina em uma cidadezinha do interior, retratada de forma doce por Murat. Histórias que nunca mais serão esquecidas.





7. O Artistadirigido por Michel Hazanavicius

Hazanavicius resgata a magia do cinema mudo, numa obra que age simultaneamente como homenagem e exercício de linguagem cinematográfica.




6. Drivedirigido por Nicolas Winding Refn

Estiloso, moderno e clássico ao mesmo tempo, um estudo de personagem sangrento e muito bem dirigido.




5. Tabudirigido por Miguel Gomes

Mais um trabalho espetacular do diretor português, que mistura experimentalismo audiovisual com um texto elegante.




4. O Espião que Sabia Demaisdirigido por Tomas Alfredson

Alfredson cria um drama de espionagem estudado e frio, refletindo a própria personalidade de seu protagonista.




3. A Separaçãodirigido por Asghar Farhadi

Uma simples história de separação que serve de veículo para Farhadi analisar a sociedade iraniana moderna.




2. Isto Não É Um Filmedirigido por Jafar Panahi e Mojtaba Mirtahmasb

O pesadelo de um diretor proibido de filmar. Uma obra relevante política e artisticamente.




1. Holy Motorsdirigido por Leos Carax

Reflexões sobre a identidade humana e os papeis sociais num mundo em que tudo é espetáculo audiovisual. Ao mesmo tempo, uma homenagem ao cinema e a todos os seus gêneros. A obra-prima de 2012.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Melhores de 2012 - Parte 1

Mais um ano chega ao fim e vamos às famosas listas. Como já é tradição no blog, fiz uma lista com os 20 melhores filmes do ano. Neste post, publico a primeira parte, do 20° ao 11°. Amanhã, os dez primeiros.



20. Marcados para Morrerdirigido por David Ayer

Tenso, divertido e emocionante na medida certa.



19. 007 - Operação Skyfalldirigido por Sam Mendes

Um James Bond autoral, com um ótimo vilão e que renova a franquia ao mesmo tempo em que homenageia os seus 50 anos.



18. 13 Assassinosdirigido por Takashi Miike

Inspirado em Os Sete Samurais, um Miike mais contido mas ainda assim muito belo - e com a violência característica de sua filmografia.




17. As Vantagens de Ser Invisíveldirigido por Stephen Chbosky

Uma história sobre adolescentes sensível, engraçada e doce.




16. O Segredo da Cabana, dirigido por Drew Goddard

Uma paródia/homenagem aos filmes de horror, com o humor típico de Joss Whedon.



15. Argodirigido por Ben Affleck

Affleck chega à maturidade como cineasta em um filme tenso sobre a capacidade do cinema de resolver crises através de sua linguagem universal.



14. Looperdirigido por Rian Johnson

A ficção científica inteligente do ano, equilibrando ação e reflexão (ou: tudo o que Prometheus gostaria de ser, mas não é).



13. Pinadirigido por Wim Wenders

Wenders mostra que o 3D pode servir ao cinema e não apenas ser uma distração com objetivos comerciais.



12. Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábiosdirigido por Beto Brant e Renato Ciasca

História comovente de como a obsessão amorosa pode destruir uma pessoa.



11. Moonrise Kingdomdirigido por Wes Anderson

Anderson volta a realizar um grande filme, desta vez retratando o amadurecimento e a descoberta do amor.

sábado, 15 de dezembro de 2012

O Hobbit: Uma Jornada Inesperada



Depois de quase dez anos, voltamos à Terra Média. Ao contrário de nossa viagem inicial, já conhecemos muitas de suas paisagens, raças e costumes. A equipe que nos transporta para o universo criado por J.R.R. Tolkien é praticamente a mesma: o diretor Peter Jackson e suas companheiras roteiristas Philippa Boyens e Fran Walsh. A novidade é a presença do produtor e também roteirista Guillermo Del Toro (que, a princípio, deveria também dirigir o filme). Revemos personagens queridos, como Gandalf, Bilbo e Galadriel, e acompanhamos uma história que expande o universo cinematográfico de O Senhor dos Anéis. Só que, apesar de ser bastante fiel à obra original (talvez até mais que a trilogia original), falta a O Hobbit: Uma Jornada Inesperada a mesma alma e emoção.

O mais provável é que, depois de quebrar recordes de bilheteria e serem imensamente premiados pela crítica, Peter Jackson e seus colaboradores tenham se convencido de que qualquer nova viagem ao universo tolkeniano fosse ter o mesmo tipo de recepção. Talvez por isso, a primeira parte de O Hobbit soe mais como uma versão extendida feita para os fãs do que como uma narrativa sólida. Com um ritmo irregular e elementos que não acrescentam nada à história (acabando até por retardá-la), suas mais de três horas de duração são bastante questionáveis (assim como a ideia de dividir um livro relativamente pequeno em três filmes).

É essa a sensação deixada pelo extenso prólogo e pela introdução do filme, que apresenta a trama principal. Conhecemos Thorin Escudo de Carvalho (Richard Armitage), herdeiro de Erebor, o reino dos anões que foi invadido e ocupado pelo dragão Smaug. Pare recuperar seu antigo lar, Thorin lidera um grupo de 13 anões que, com ajuda do mago Gandalf (Ian McKellen), precisa recrutar um ladrão para conseguir invadir a Montanha Solitária, onde vive o dragão, e recuperar o tesouro de seus antigos habitantes. Assim, chegam ao Condado, onde vive o pacato hobbit Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) e tentam convencê-lo a acompanhá-los nessa aventura.

Aqui temos o primeiro grande problema de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada: somente para estabelecer sua premissa e apresentar seus principais personagens, o filme leva quase uma hora. Ao contrário de O Senhor dos Anéis, onde o ritmo frenético ajudava a criar um sentido de urgência na narrativa, aqui são incluídas muitas cenas desnecessárias e descartáveis. O diálogo entre o Bilbo e Frodo, por exemplo, pode agradar aos fãs da trilogia original por trazer uma rápida aparição de Elijah Wood, mas não serve em nada ao propósito do longa. O mesmo pode-se dizer das canções: seus momentos são divertidos e até bonitos, mas poderiam muito bem ser cortados e inseridos em uma versão extendida sem prejuízo algum.


Mas não é só isso. Por ser um livro mais leve e infantil, o filme acaba falhando em criar personagens fortes ou uma ameaça grande aos heróis. Aqui não temos Sauron, o Um Anel ou os Nazgûl para manter os protagonistas sempre em alerta. O vilão principal - Smaug - sequer aparece e as ameaças - como os três trolls - são episódicas. A impressão que se tem é que o filme não possui uma estrutura clara, pulando de uma situação para outra de forma brusca e deselegante. Essa sensação aumenta pelo fato do roteiro incluir no filme tramas paralelas, como aquela envolvendo o mago Radagast (Sylvester McCoy) e o necromante. Sim, quem leu o livro sabe que essa subtrama é importante para a história, mas a forma como é realizada acaba servindo mais como distração do que como aprofundamento da narrativa.

Reconhecendo os problemas do roteiro - causados, principalmente, pela ideia de dividir a história em três filmes - Jackson tenta criar um vilão mais palpável na figura do orc Azog. Da mesma forma, cria-se um clímax forçado, culminando num diálogo constrangedor entre Bilbo e Thorin. O anão, aliás, é vivido com energia por Richard Armitrage, mas acaba sendo uma versão empobrecida (e vários centímetros menor) de Aragorn. Os outros anões - à exceção de Balin e Kili - são quase irreconhecíveis em termos de personalidade e a maioria deles não desempenha papel algum na trama. Essa é a grande diferença entre a trilogia Senhor dos Anéis e esta nova: naquela, por mais que não se possa dizer que os personagens fossem bem desenvolvidos, havia uma melhor preocupação dos roteiristas em diferenciá-los e em criar momentos memoráveis para cada um, tornando-os facilmente reconhecíveis e carismáticos.

Não é surpresa, portanto, que o melhor momento de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada seja aquele que envolve Bilbo, Gollum (Andy Serkis) e as charadas no escuro, exatamente por envolver o personagem mais complexo da história e retratar um momento chave que teria como consequência os acontecimentos de O Senhor dos Anéis. O trabalho de Serkis e da equipe de efeitos visuais mais uma vez é soberbo. O Gollum de O Hobbit consegue ser ainda mais realista e chamam a atenção suas expressões faciais. É, de longe, o personagem mais carismático e bem trabalhado do longa (apesar de Freeman e, claro, McKellen também entregarem ótimas atuações).


Aliás, tecnicamente, O Hobbit não deixa em nada a dever a O Senhor dos Anéis. Os efeitos visuais são bastante eficientes e os seres digitais, desde os trolls até o rei goblin, passando pelas grandes águias, estão perfeitos em seus mínimos detalhes. O mesmo pode ser dito da maquiagem e figurino dos anões, que conseguem criar diferentes cortes de cabelo, peças de vestuário e detalhes que ajudam a diferenciá-los (por mais que o roteiro falhe em lhes dar personalidade). Já o 3D é eficiente em determinadas cenas e falho em outras, principalmente nas sequências de ação. E a grande novidade prometida pelo filme, os 48 quadros por segundo, servem para dar mais realismo à Terra Média, encantando o espectador. Enquanto isso, o design de produção, apesar das composições brilhantes e singulares, como Valfenda, Erebor e o Condado, traz pouca coisa nova com relação à trilogia original.

É essa falta de novidade, essa sensação de estarmos voltando a um mesmo local, que torna O Hobbit bastante inferior à trilogia Senhor dos Anéis. E o maior culpado por isso é exatamente Peter Jackson. O seu estilo de direção, apostando em tomadas aéreas que acompanham os viajantes, closes e travellings, soam muito como auto-homenagem e só servem para lembrar-nos do quanto essas mesmas técnicas melhor usadas naqueles três filmes do início dos anos 2000. Exemplificando, a sequência que envolve Gandalf e os 13 anões fugindo dos goblins nas cavernas lembra demais aquela que se passa em Moria, em A Sociedade do Anel, mas sem a mesma urgência ou desespero. Até a brilhante trilha sonora de Howard Shore aqui soa repetitiva e dá a sensação de estarmos vendo uma versão mais frágil de uma mesma história.

Sofrendo ainda com um excesso de situações que envolvem o artifício do deus ex machina (papel desempenhado pelas águias e por Gandalf duas vezes), O Hobbit: Uma Jornada Inesperada não pode ser considerado um filme ruim. Longe disso: possui sequências divertidas, boas cenas de ação e expande a fabulosa mitologia de uma série de sucesso. Mas se empalidece bastante diante das comparações feitas com a primeira viagem de Jackson e cia. à Terra Média.

The Hobbit: An Unexpected Journey (EUA, Nova Zelândia; 2012). Dirigido por Peter Jackson. Com Martin Freeman, Ian McKellen, Richard Armitage, Cate Blanchett, Ken Stott, Graham McTavish, William Kircher, James Nesbitt, Stephen Hunter, Dean O'Gorman, Aidan Turner, John Callen, Peter Hambleton, Jed Brophy, Mark Hadlow, Adam Brown, Sylvester McCoy, Hugo Weaving, Christopher Lee, Elijah Wood, Ian Holm, Manu Bennett e Benedict Cumberbatch.