2012 foi um ano repleto de filmes medianos. Alguns decepcionaram bastante (Prometheus e Na Estrada, para citar dois). Outros, mesmo bons, foram muito superestimados (Cosmópolis e O Homem da Máfia, por exemplo). O ano não foi bom principalmente para o cinema americano. Da lista a seguir, apenas um dos longas presentes foi produzido nos EUA. Dos blockbusters, apesar de Os Vingadores e O Cavaleiro das Trevas Ressurge terem se saído bem, ainda assim apresentaram problemas óbvios. E não vou nem citar bombas como O Espetacular Homem Aranha, John Carter e Abraham Lincoln: O Caçador de Vampiros.
Mas esse post não é para falar daqueles que desapontaram, mas para indicar os bem sucedidos. Por que o ano também foi pródigo em nos presentear com grandes obras cinematográficas. A seguir, o que 2012 nos trouxe de melhor.
10. Políssia, dirigido por Maïwenn
Um filme quase documental sobre o trabalho da polícia francesa. Uma obra que emociona por seu realismo.
9. Era Uma Vez na Anatólia, dirigido por Nuri Bilge Ceylan
Ceylan transforma um filme policial em um belo exercício de estilo, com ótimos personagens e uma fotografia de tirar o fôlego.
8. Histórias que Só Existem Quando Lembradas, dirigido por Júlia Murat
A quebra da rotina em uma cidadezinha do interior, retratada de forma doce por Murat. Histórias que nunca mais serão esquecidas.
7. O Artista, dirigido por Michel Hazanavicius
Hazanavicius resgata a magia do cinema mudo, numa obra que age simultaneamente como homenagem e exercício de linguagem cinematográfica.
6. Drive, dirigido por Nicolas Winding Refn
Estiloso, moderno e clássico ao mesmo tempo, um estudo de personagem sangrento e muito bem dirigido.
5. Tabu, dirigido por Miguel Gomes
Mais um trabalho espetacular do diretor português, que mistura experimentalismo audiovisual com um texto elegante.
4. O Espião que Sabia Demais, dirigido por Tomas Alfredson
Alfredson cria um drama de espionagem estudado e frio, refletindo a própria personalidade de seu protagonista.
3. A Separação, dirigido por Asghar Farhadi
Uma simples história de separação que serve de veículo para Farhadi analisar a sociedade iraniana moderna.
2. Isto Não É Um Filme, dirigido por Jafar Panahi e Mojtaba Mirtahmasb
O pesadelo de um diretor proibido de filmar. Uma obra relevante política e artisticamente.
1. Holy Motors, dirigido por Leos Carax
Reflexões sobre a identidade humana e os papeis sociais num mundo em que tudo é espetáculo audiovisual. Ao mesmo tempo, uma homenagem ao cinema e a todos os seus gêneros. A obra-prima de 2012.
domingo, 30 de dezembro de 2012
sábado, 29 de dezembro de 2012
Melhores de 2012 - Parte 1
Mais um ano chega ao fim e vamos às famosas listas. Como já é tradição no blog, fiz uma lista com os 20 melhores filmes do ano. Neste post, publico a primeira parte, do 20° ao 11°. Amanhã, os dez primeiros.
20. Marcados para Morrer, dirigido por David Ayer
Tenso, divertido e emocionante na medida certa.
Tenso, divertido e emocionante na medida certa.
19. 007 - Operação Skyfall, dirigido por Sam Mendes
Um James Bond autoral, com um ótimo vilão e que renova a franquia ao mesmo tempo em que homenageia os seus 50 anos.
Um James Bond autoral, com um ótimo vilão e que renova a franquia ao mesmo tempo em que homenageia os seus 50 anos.
18. 13 Assassinos, dirigido por Takashi Miike
Inspirado em Os Sete Samurais, um Miike mais contido mas ainda assim muito belo - e com a violência característica de sua filmografia.
Inspirado em Os Sete Samurais, um Miike mais contido mas ainda assim muito belo - e com a violência característica de sua filmografia.
17. As Vantagens de Ser Invisível, dirigido por Stephen Chbosky
Uma história sobre adolescentes sensível, engraçada e doce.
Uma história sobre adolescentes sensível, engraçada e doce.
16. O Segredo da Cabana, dirigido por Drew Goddard
Uma paródia/homenagem aos filmes de horror, com o humor típico de Joss Whedon.
Uma paródia/homenagem aos filmes de horror, com o humor típico de Joss Whedon.
15. Argo, dirigido por Ben Affleck
Affleck chega à maturidade como cineasta em um filme tenso sobre a capacidade do cinema de resolver crises através de sua linguagem universal.
14. Looper, dirigido por Rian Johnson
A ficção científica inteligente do ano, equilibrando ação e reflexão (ou: tudo o que Prometheus gostaria de ser, mas não é).
A ficção científica inteligente do ano, equilibrando ação e reflexão (ou: tudo o que Prometheus gostaria de ser, mas não é).
13. Pina, dirigido por Wim Wenders
Wenders mostra que o 3D pode servir ao cinema e não apenas ser uma distração com objetivos comerciais.
Wenders mostra que o 3D pode servir ao cinema e não apenas ser uma distração com objetivos comerciais.
12. Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios, dirigido por Beto Brant e Renato Ciasca
História comovente de como a obsessão amorosa pode destruir uma pessoa.
História comovente de como a obsessão amorosa pode destruir uma pessoa.
11. Moonrise Kingdom, dirigido por Wes Anderson
Anderson volta a realizar um grande filme, desta vez retratando o amadurecimento e a descoberta do amor.
Anderson volta a realizar um grande filme, desta vez retratando o amadurecimento e a descoberta do amor.
sábado, 15 de dezembro de 2012
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
Depois de quase dez anos, voltamos à Terra Média. Ao
contrário de nossa viagem inicial, já conhecemos muitas de suas paisagens,
raças e costumes. A equipe que nos transporta para o universo criado por J.R.R.
Tolkien é praticamente a mesma: o diretor Peter Jackson e suas companheiras
roteiristas Philippa Boyens e Fran Walsh. A novidade é a presença do produtor e
também roteirista Guillermo Del Toro (que, a princípio, deveria também dirigir
o filme). Revemos personagens queridos, como Gandalf, Bilbo e Galadriel, e
acompanhamos uma história que expande o universo cinematográfico de O Senhor dos Anéis. Só que, apesar de
ser bastante fiel à obra original (talvez até mais que a trilogia original),
falta a O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
a mesma alma e emoção.
O mais provável é que, depois de quebrar recordes de
bilheteria e serem imensamente premiados pela crítica, Peter Jackson e seus
colaboradores tenham se convencido de que qualquer nova viagem ao universo
tolkeniano fosse ter o mesmo tipo de recepção. Talvez por isso, a primeira
parte de O Hobbit soe mais como uma
versão extendida feita para os fãs do que como uma narrativa sólida. Com um
ritmo irregular e elementos que não acrescentam nada à história (acabando até
por retardá-la), suas mais de três horas de duração são bastante questionáveis
(assim como a ideia de dividir um livro relativamente pequeno em três filmes).
É essa a sensação deixada pelo extenso prólogo e pela
introdução do filme, que apresenta a trama principal. Conhecemos Thorin Escudo
de Carvalho (Richard Armitage), herdeiro de Erebor, o reino dos anões que foi
invadido e ocupado pelo dragão Smaug. Pare recuperar seu antigo lar, Thorin
lidera um grupo de 13 anões que, com ajuda do mago Gandalf (Ian McKellen),
precisa recrutar um ladrão para conseguir invadir a Montanha Solitária, onde
vive o dragão, e recuperar o tesouro de seus antigos habitantes. Assim, chegam
ao Condado, onde vive o pacato hobbit Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) e tentam
convencê-lo a acompanhá-los nessa aventura.
Aqui temos o primeiro grande problema de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada:
somente para estabelecer sua premissa e apresentar seus principais personagens,
o filme leva quase uma hora. Ao contrário de O Senhor dos Anéis, onde o ritmo frenético ajudava a criar um
sentido de urgência na narrativa, aqui são incluídas muitas cenas
desnecessárias e descartáveis. O diálogo entre o Bilbo e Frodo, por exemplo,
pode agradar aos fãs da trilogia original por trazer uma rápida aparição de
Elijah Wood, mas não serve em nada ao propósito do longa. O mesmo pode-se dizer
das canções: seus momentos são divertidos e até bonitos, mas poderiam muito bem
ser cortados e inseridos em uma versão extendida sem prejuízo algum.
Mas não é só isso. Por ser um livro mais leve e infantil, o
filme acaba falhando em criar personagens fortes ou uma ameaça grande aos
heróis. Aqui não temos Sauron, o Um Anel ou os Nazgûl para manter os
protagonistas sempre em alerta. O vilão principal - Smaug - sequer aparece e as
ameaças - como os três trolls - são episódicas. A impressão que se tem é que o
filme não possui uma estrutura clara, pulando de uma situação para outra de
forma brusca e deselegante. Essa sensação aumenta pelo fato do roteiro incluir
no filme tramas paralelas, como aquela envolvendo o mago Radagast (Sylvester
McCoy) e o necromante. Sim, quem leu o livro sabe que essa subtrama é
importante para a história, mas a forma como é realizada acaba servindo mais
como distração do que como aprofundamento da narrativa.
Reconhecendo os problemas do roteiro - causados,
principalmente, pela ideia de dividir a história em três filmes - Jackson tenta
criar um vilão mais palpável na figura do orc Azog. Da mesma forma, cria-se um
clímax forçado, culminando num diálogo constrangedor entre Bilbo e Thorin. O
anão, aliás, é vivido com energia por Richard Armitrage, mas acaba sendo uma
versão empobrecida (e vários centímetros menor) de Aragorn. Os outros anões - à
exceção de Balin e Kili - são quase irreconhecíveis em termos de personalidade
e a maioria deles não desempenha papel algum na trama. Essa é a grande
diferença entre a trilogia Senhor dos
Anéis e esta nova: naquela, por mais que não se possa dizer que os
personagens fossem bem desenvolvidos, havia uma melhor preocupação dos
roteiristas em diferenciá-los e em criar momentos memoráveis para cada um,
tornando-os facilmente reconhecíveis e carismáticos.
Não é surpresa, portanto, que o melhor momento de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada seja
aquele que envolve Bilbo, Gollum (Andy Serkis) e as charadas no escuro,
exatamente por envolver o personagem mais complexo da história e retratar um
momento chave que teria como consequência os acontecimentos de O Senhor dos Anéis. O trabalho de Serkis
e da equipe de efeitos visuais mais uma vez é soberbo. O Gollum de O Hobbit consegue ser ainda mais
realista e chamam a atenção suas expressões faciais. É, de longe, o personagem
mais carismático e bem trabalhado do longa (apesar de Freeman e, claro,
McKellen também entregarem ótimas atuações).
Aliás, tecnicamente, O Hobbit não deixa em nada a dever a O Senhor dos Anéis. Os efeitos visuais são
bastante eficientes e os seres digitais, desde os trolls até o rei goblin,
passando pelas grandes águias, estão perfeitos em seus mínimos detalhes. O
mesmo pode ser dito da maquiagem e figurino dos anões, que conseguem criar
diferentes cortes de cabelo, peças de vestuário e detalhes que ajudam a
diferenciá-los (por mais que o roteiro falhe em lhes dar personalidade). Já o
3D é eficiente em determinadas cenas e falho em outras, principalmente nas
sequências de ação. E a grande novidade prometida pelo filme, os 48 quadros por
segundo, servem para dar mais realismo à Terra Média, encantando o espectador.
Enquanto isso, o design de produção, apesar das composições brilhantes e
singulares, como Valfenda, Erebor e o Condado, traz pouca coisa nova com
relação à trilogia original.
É essa falta de novidade, essa sensação de estarmos voltando
a um mesmo local, que torna O Hobbit
bastante inferior à trilogia Senhor dos
Anéis. E o maior culpado por isso é exatamente Peter Jackson. O seu estilo
de direção, apostando em tomadas aéreas que acompanham os viajantes, closes e
travellings, soam muito como auto-homenagem e só servem para lembrar-nos do
quanto essas mesmas técnicas melhor usadas naqueles três filmes do início dos
anos 2000. Exemplificando, a sequência que envolve Gandalf e os 13 anões
fugindo dos goblins nas cavernas lembra demais aquela que se passa em Moria, em
A Sociedade do Anel, mas sem a mesma
urgência ou desespero. Até a brilhante trilha sonora de Howard Shore aqui soa
repetitiva e dá a sensação de estarmos vendo uma versão mais frágil de uma mesma
história.
Sofrendo ainda com um excesso de situações que envolvem o
artifício do deus ex machina (papel desempenhado
pelas águias e por Gandalf duas vezes), O
Hobbit: Uma Jornada Inesperada não pode ser considerado um filme ruim.
Longe disso: possui sequências divertidas, boas cenas de ação e expande a
fabulosa mitologia de uma série de sucesso. Mas se empalidece bastante diante
das comparações feitas com a primeira viagem de Jackson e cia. à Terra Média.
The Hobbit: An
Unexpected Journey (EUA, Nova Zelândia; 2012). Dirigido por
Peter Jackson. Com Martin Freeman, Ian McKellen, Richard
Armitage, Cate Blanchett, Ken Stott, Graham McTavish, William Kircher, James
Nesbitt, Stephen Hunter, Dean O'Gorman, Aidan Turner, John Callen, Peter
Hambleton, Jed Brophy, Mark Hadlow, Adam Brown, Sylvester McCoy, Hugo Weaving, Christopher
Lee, Elijah Wood, Ian Holm, Manu Bennett e Benedict Cumberbatch.
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