sexta-feira, 1 de abril de 2011

Sucker Punch - Mundo Surreal

Poderia existir um filme bacana por trás de Sucker Punch. É natural que Zack Snyder, em seu primeiro trabalho "autoral", faça diversas referências a símbolos próprias de sua geração, que cresceu influenciada por videogames grandiosos e filmes repletos de efeitos especiais. Por "autoral" entenda-se com roteiro original, escrito pelo próprio Snyder junto com o estreante Steve Shibuya. Se seus  trabalhos anteriores, baseados em livros (A Lenda dos Guardiões), quadrinhos (300, Watchmen) e em clássicos do cinema (Madrugada dos Mortos), têm suas qualidades estéticas (uns mais, outros menos), é exatamente aqui que ele mais parece perdido.

Snyder tem lá certo talento, devemos admitir. Ele sabe construir belos planos, possui boas noções estéticas e valoriza bastante a imagem. Só que, em algum momento de sua curta carreira, alguém virou para ele e o chamou de "genial". É aquela velha história. Basta lembrarmos que M. Night Shyamalan, depois dos sucessos de O Sexto Sentido e Corpo Fechado começou a ser tratado por alguns como "o novo Alfred Hitchcock". O fim dessa história todo mundo conhece. Snyder não chegou ao fundo do poço, mas Sucker Punch mostra que ele tem que começar a abrir os olhos. Afinal, estilo não é tudo.

Já se comentou muito a obsessão quase sexual do diretor com a câmera lenta. É como se ele tivesse um orgasmo a cada redução do tempo dos planos. Mas o que para ele pode ser prazeroso, para o espectador é torturante. Em determinado momento, durante um confronto entre as mocinhas do filme e robôs dentro de um trem, Snyder usa o slow motion a cada dois segundos. Nesse momento a vontade era de dar um tiro na cabeça.


A isso se somam os planos gratuitos, o abuso dos efeitos e a artificialidade da história. Provavelmente, a intenção era mesmo fazer referências ao universo dos games, à capacidade imaginativa desse tipo de linguagem. A cada delírio da protagonista (interpretada pela sem graça Emily Browning), a impressão que temos é de uma fasa diferente do jogo, cada uma com um vilão mais forte que o anterior. Há também uma relação um tanto estranha e mal resolvida com os musicais. Cada "fase" representaria uma música, sempre embalado por algum clássico do rock (afinal, Snyder é pop). Aliás, Sucker Punch consegue fazer o pior uso de uma música dos Pixies da história (sem falar dos Beatles, Björk e Stooges - mas desses eu até gostei).

Nesse meio termo, o roteiro trabalha uma história boba que abusa dos clichês e da falta de emoção. Não se cria empatia nenhuma entre as heroínas do longa e o espectador. Elas parecem existir apenas para ocupar espaço na tela e servir como tara sexual para o diretor e seus espectadores. Sim, porque no sonho erótico-obsessivo de Snyder, além da câmera lenta e dos efeitos especiais, é preciso existir mocinhas com roupas curtas e armadas até os dentes. Ana Maria Bahiana acertou em cheio ao dizer que esse filme era uma espécie de Crepúsculo para meninos.

Sucker Punch, no fim, acaba sendo um passatempo chatíssimo. Tenta reverenciar a cultura pop, mas acaba por destruí-la. Compare, por exemplo, com o brilhante Scott Pilgrim Contra o Mundo e veja a diferença. Zack Snyder não deveria se levar tão a sério. Faria um bem danado à sua carreira e ao seu verdadeiro talento.

Sucker Punch (EUA, 2011). Dirigido por Zack Snyder. Com Emily Browning, Abbie Cornish, Jena Malone, Vanessa Hudgens, Jamie Chung, Carla Gugino, Oscar Isaac e Scott Glenn.

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