terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Deixe-me entrar


Não escondo a minha paixão por Deixa ela entrar, filme sueco de 2008 que fez grande sucesso em festivais no ano seguinte, sendo presença certa nas listas de melhores filmes de 2009. Não foi surpresa quando logo anunciou-se que o filme seria refilmado nos Estados Unidos, numa prática que infelizmente tem se mostrado cada vez mais frequente. Portando, foi com uma mistura de ansiedade e medo que fui assistir à Deixe-me entrar, longa dirigido por Matt Reeves, de Cloverfield.

A história não muda em nada com relação ao original: Owen (Kodi Smit-McPhee), um menino solitário e com tendência à psicopatia, sofre bullying na escola, mas apesar do ódio contido que sente, não tem coragem de revidar à violência que sofre. Logo ele começa a se relacionar com Abby (Chloe Moretz), uma menina de doze anos que se muda para sua vizinhança junto com o pai (Richard Jenkins). Só que a menina aparentemente inocente na verdade é uma vampira e a relação entre ela e Owen se transforma em mais do que uma simples amizade.

O conceito de refilmagem parece se encaixar perfeitamente em Deixe-me entrar. Não há nenhuma mudança significativa com relação ao original. Pior: até mesmo alguns planos e sequências são filmados exatamente como no filme de Tomas Alfredson. Não há sequer diferença no tom do filme: se poderíamos pensar que Reeves adaptaria a história para o público médio norte-americano (e brasileiro), dando maior velocidade e ação à história, fica claro que isso não vai acontecer já nas primeiras cenas. Não que seja ruim no todo: os acertos do original estão lá, com a diferença de que alguns detalhes que eram mais sutis no longa sueco aqui estão mais óbvios e claros, o que tira a graça da história.


Aqui temos uma discussão interessante: até que ponto uma refilmagem como essa faz bem para o cinema? É conhecida a antipatia que os americanos têm com filmes legendados. Para eles, vale muito mais a pena produzir uma refilmagem do que lançar o original nos cinemas. Mas e no Brasil? Qual o critério de distribuição/escolha do público? O longa sueco teve lançamento restrito nas salas nacionais, enquanto essa refilmagem tem recebido muito mais atenção. Só que aqui não existe a desculpa das legendas, já que ambos os filmes são estrangeiros. A única explicação é pelo fato de ser americano: e nesse ponto, há uma mistura clara de ignorância e preconceito por parte do público e das distribuidoras.

Apesar de tudo, Deixe-me entrar acaba funcionando, já que o material do qual foi adaptado é sensacional e praticamente nenhuma mudança drástica com relação ao original foi feita. A maior parte do público, infelizmente, terá mais contato com esse filme do que com o longa de Tomas Alfredson. É como se um museu, tendo a possibilidade de trazer uma grande obra de arte para suas galerias, escolhesse, ao invés dela, uma cópia idêntica, feita com material barato e sem a profundidade do original.

Let me in (2010). Dirigido por Matt Reeves. Com Kodi Smit-McPhee, Chloe Moretz, Richard Jenkins, Elias Koteas, Dylan Minnette, Cara Buono, Sasha Barrese e Ritchie Coster.

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