sábado, 19 de fevereiro de 2011

Burlesque

Uma jovem sonhadora deixa o interior dos Estados Unidos rumo à Hollywood para tentar a vida no mundo do show business. Assim que chega lá tem que provar a todos o seu talento até que, finalmente reconhecida, chega ao estrelato. A história, como podem perceber, é extremamente batida. Os personagens e as situações também. Pior: serve somente como promoção de uma cantora pop medíocre e de uma veterana sumida de quem ninguém sentia falta. Este é Burlesque, e por mais que Christina Aguillera e Cher tenham fãs, o filme não possui nenhum tipo de atrativo sequer para justificar sua existência.

O longa já traz em seus minutos iniciais a falta de sutileza do péssimo roteiro, quando Alice (Aguillera) demonstra sua bondade e coragem ao enfrentar o malvado (sim, esse é o adjetivo) patrão e deixar a cidade rumo a seu sonho. Em Los Angeles, acaba chegando à casa noturna Burlesque, comandada pela ex-dançarina Tess (Cher). Lutando para ser aceita na casa, Alice acaba sendo a esperança da proprietária para aumentar a renda do local e pagar as dívidas acumuladas durante anos.

Piegas e esquemático, o texto escrito pelo diretor estreante Steve Antin é também extremamente artificial. A protagonista, por exemplo, muda de comportamento de um instante a outro, surgindo em alguns momentos como uma moça tímida e insegura para, na cena seguinte, aparecer confiante e cheia de si. Além disso, Burlesque possui uma narrativa bastante problemática, com personagens entrando e saindo de cena convenientemente e com conflitos dramáticos bastante artificiais - em um momento, Jack (Cam Gigandet), barman do Burlesque que recebe Alice em sua casa, praticamente a expulsa do local para, logo em seguida, propor à moça que continue morando com ele.


Ambientando toda a ação em uma casa noturna (um clichê em se tratando de musicais), a produção sequer tenta apostar em uma identidade visual para o local, que surge convencional e sem vida. Além disso, os números musicais surgem sem nenhuma graça, com todas as músicas e coreografias sendo falcilmente esquecíveis. Antin as dirige de uma forma burocrática e sem emoção - e nesse ponto, Burlesque parece um Nine piorado. Todos as canções não possuem finalidade narrativa, não servindo para desenvolver a história ou os personagens. Num determinado momento, o técnico de som do Burlesque chama Tess para um ensaio, num artifício do roteiro criado só para que Cher tenha um número musical, já que, durante o filme, nunca vemos a personagem se apresentando no palco, a não ser em uma breve cena inicial.

Cher, aliás, ressucita com este filme e está inexpressiva como sempre. Felizmente tem uma voz bonita, o que torna suas canções menos desagradáveis. O mesmo não pode ser dito de Aguillera. A moça faz parte dessas cantoras que gostam de ficar berrando por aí e isso ela faz o filme inteiro, para desespero dos ouvidos mais refinados. A cantoria só não é pior que sua atuação, sem nenhuma sutileza ou emoção. Enquanto isso, o sempre ótimo Stanley Tucci se esforça para criar o único personagem simpático e tridimensional do filme apesar do péssimo roteiro. Já Kristen Bell é bonita e só (não que seu papel ajude, claro).

Burlesque é no final mais uma bobeira inventada para atrair fãs de cantoras pop passageiras para dentro das salas de cinema. Já tivemos as Spice Girls e Britney Spears e agora chegou a vez de Aguillera (com o aval de Cher, o equivalente a ela nos anos 80). Quanto tempo até uma Lady Gaga da vida se juntar a essa nada honrosa lista?

Burlesque (2010). Dirigido por Steve Antin. Com Christina Aguillera, Cher, Cam Gigandet, Stanley Tucci, Kristen Bell, Eric Dane, Julianne Hough e Alan Cumming.

Um comentário:

  1. Não verei esse filme em respeito a Stanley Tucci, Eric Dane e Cher, que devem ter tomado o mesmo LSD antes de aceitar o roteiro.

    (e sim, eu curto Splash - Uma Sereia em Minha Vida)

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    No mais, adorei o texto. E tive calafrios com a expressão "Nine piorado", coisa que achava impossível até então.

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