quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Biutiful

"Pai, como se escreve beautiful?"
"Da mesma forma que se diz."
"Com i?"
"Sim."

Uxbal (Javier Bardem) é um sujeito que vive no submundo. Alicia imigrantes ilegais, principalmente chineses, que vivem de forma desumana e em regime de trabalho praticamente escravo. É pai de duas crianças e cuida sozinho delas, já que a mãe passa boa parte de seus dias bêbada, drogada ou se prostituindo. Diante de todos esses problemas, ele descobre que está com câncer terminal e tem menos de dois meses de vida.

Alejandro González Iñarritu sempre apostou no melodrama e na tragédia como motores de seu filme. Em Biutiful, ele desiste do mosaico de histórias paralelas, marca de sua parceria com o roteirista Guillermo Arriaga em Amores Brutos, 21 Gramas e Babel, e aposta em apenas um protagonista. Não que aqui não exista a tentativa de desenvolver outros personagens, principalmente em pequenas narrativas envolvendo os imigrantes ilegais, mas o centro do filme é Uxbal.

Iñarritu continua com o mesmo estilo de direção mostrado em suas obras anteriores: câmera na mão e planos fechados, quase claustrofóbicos, no rosto de seus atores. Isso reforça o tom dramático e intimista do filme. O problema, talvez um resquício de Babel, seu último filme, é que seu roteiro (escrito junto com Armando Bo e Nicolás Giacobone) não se resume apenas ao drama dos personagens, tentando dar ares políticos à obra. Mesmo assim, a reflexão que o filme tenta fazer sobre imigração ilegal e os problemas da globalização, fica apenas na superficialidade e desvia o foco do longa.


Da mesma forma, apesar de seu estilo melodramático, Biutiful é bem mais frio do que se poderia imaginar. Muito pelo artificialismo do roteiro, que força a barra ao tentar criar sempre uma tragédia maior do que a outra. Ou também pelos personagens mal desenvolvidos, que beiram à caricatura, como a esposa de Uxbal, interpretada por Maricel Álvarez de forma constrangedora. Já a relação homossexual entre dois chineses que comandam o trabalho dos demais ilegais não acrescenta em nada à história principal, servindo apenas como engodo, tornando o filme mais longo do que deveria.

Uma pena, portanto, que a obra esteja aquém de seu protagonista. Uxbal, por mais que suas atitudes e ações sejam condenáveis, não faz as coisas por mal. Ele realmente acredita que, ao dar uma oportunidade aos ilegais, está ajudando a melhorar suas vidas. Sua reação ao saber da doença e o fato de saber que irá deixar seus filhos da mesma forma que foi abandonado por seu pai torna o personagem ainda mais complexo. A atuação de Javier Bardem é soberba, fazendo por merecer o prêmio recebido em Cannes e a indicação ao Oscar. O diálogo que abre esse texto, de Uxbal com a filha, resume bem o personagem: uma pessoa que tenta ao máximo fazer o que acredita ser certo, mesmo que não esteja correto perante à sociedade.

No meio de Biutiful há um belo drama sobre o amor entre pai e filhos. Mas a insistência de Iñarritu no melodrama e na relevância política de sua obra acaba enfraquecendo o que podia ser uma bela história.

Biutiful (2010). Dirigido por Alejandro González Iñarritu. Com Javier Bardem, Maricel Álvarez, Hanaa Bouchaib, Guillemo Estrella, Eduard Fernández, Diaryatou Daff, Cheng Tai Shen e Luo Jin.

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