domingo, 15 de setembro de 2013

Bling Ring: A Gangue de Hollywood


É interessante notar como a carreira de Sofia Coppola como diretora e roteirista tem girado em torno do que se chama lá fora de "first world problems" (ou o nosso "classe média sofre"): narrativas sobre indivíduos de classe média/alta que, mesmo com fácil acesso ao conforto, não conseguem se realizar emocionalmente. Não é a toa que a história de Bling Ring: A Gangue de Hollywood a tenha atraído: seu roteiro, baseado em uma reportagem real da revista Vanity Fair, acompanha um grupo de adolescentes ricos de Los Angeles que começa a assaltar casas de celebridades apenas para exibir os objetos roubados (roupas, bolsas, jóias) como 'troféus' em seus círculos de amizade.

Bling Ring, aliás, casa perfeitamente como o longa anterior da diretora, Um Lugar Qualquer, na crítica feroz que faz ao mundo das celebridades e a toda futilidade que o cerca. Enfocando durante várias passagens do longa a trajetória de escândalos que envolvem algumas vítimas da gangue (como Paris Hilton e, principalmente, Lindsay Lohan), o filme faz questão de mostrá-las como modelo para um geração de jovens superficiais, cuja obsessão pela fama é potencializada pelas redes sociais onde todo momento pode ser registrado e compartilhado - as fotos tiradas pelo celular são onipresentes em toda a história. Essa busca pelo reconhecimento a qualquer custo fica estampado em diversos momentos da história - seja quando Marc (Israel Broussard), um dos membros da grupo, mostra-se frustrado pela sua aparência 'comum', ou quando Rebecca (Katie Chang), a líder da gangue, fica curiosa para saber a reação de Lohan quando esta soube que foi roubada por ela.

O fato é que Coppola conhece bem a situação retratada aqui. Filha de um cineasta famoso e com parentes influentes dentro da indústria, ela possui um olhar de quem conviveu de perto com esse mundinho das celebridades de ocasião. Se em Um Lugar Qualquer, a diretora/roteirista focava o lado dos famosos e sua vida vazia de entrevistas coletivas enfadonhas, jornalistas superficiais e solidão, aqui ela destaca o outro lado da moeda: os consumidores de fofoca. Isso porque os membros da Gangue de Hollywood do título nada mais são do que a representações dessas pessoas - especialistas em celebridades (e subcelebridades), assíduos expectadores de veículos como TMZ e E! Entertainment e adeptos de filosofias baratas de auto-ajuda do momento (no caso, o best-seller O Segredo), Coppola não hesita em mostrá-los como figuras medíocres e tolas. Mas a autora também não perde a oportunidade de cutucar os protagonistas desse mundinho ridículo - e Paris Hilton é retratada, através da decoração de sua casa, repleta de fotos de si mesma, como dona de um ego à la Norma Desmond, personagem do clássico Crepúsculo dos Deuses (com direito até a macaco de estimação).

Ainda assim, o maior defeito de Bling Ring é exatamente o tom da crítica do filme: por mais que seja divertido ver esse universo ser desconstruído, o discurso do longa soa bastante batido, já tendo sido comentado em diversas outras ocasiões - inclusive pela própria diretora. Não há muita originalidade ao ligar a obsessão por roupas e sapatos de marca à futilidade e superficialidade consumistas - ou ao mostrar as jovens meninas que tentam começar a vida em Hollywood e atrair a atenção agentes e produtores através de seu corpo. Coppola até tenta dar certa profundidade aos personagens - principalmente à relação de carência emocional de Marc que faz com que ele se aproxime de Rebecca e acabe sendo usado por ela -, mas esse não é o verdadeiro foco da história. Além disso, as sequências dos roubos, que ocupam boa parte do longa, tornam-o bastante repetitivo e dão impressão de narrativa estagnada, com o filme só voltando a engrenar depois que a gangue é presa.

Com um elenco jovem bastante eficiente e homogêneo, Bling Ring é um filme divertido e na média dos trabalhos anteriores de Coppola - melhor que Maria Antonieta e As Virgens Suicidas, mas inferior a Encontros e Desencontros e Um Lugar Qualquer. Por mais que ela já pareça se repetir nessa temática, ainda demonstra talento e olhar crítico sobre o mundo que a cerca. Afinal, de ricos sofridos Sofia Coppola parece entender muito bem.

The Bling Ring (EUA, 2013). Dirigido por Sofia Coppola. Com Katie Chang, Israel Broussard, Emma Watson, Clarie Julien, Taissa Farmiga, Georgia Rock, Leslie Mann, Carlos Miranda, David Rossdale e Annie Fitzgerald.