terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Cisne Negro

Cisne Negro é o irmão mais velho de O Lutador, filme anterior de Darren Aronofsky. Em diversos aspectos os longas se assemelham, seja pela temática ou pelo estilo. Se no primeiro o diretor mergulhava em um mundo intrinsecamente masculino (as lutas de vale-tudo) agora ele entra no universo feminino (o balé) com a mesma paixão. A protagonista é Nina (Natalie Portman), uma bailarina dedicada e superprotegida pela mãe que realiza seu sonho ao ser escolhida como protagonista do espetáculo "O Lago dos Cisnes", produzido pelo renomado Thomas Leroy (vivido por Vincent Cassel).

Assim como no longa de 2008, a câmera na mão de Aronofsky acompanha a protagonista em longas tomadas, seguindo seus passos. Essa dedicação à personagem fica clara com os planos fechados, esquecendo todo o mundo à sua volta - uma escolha acertada, já que o centro de Cisne Negro é exatamente o íntimo da protagonista. O trabalho de câmera também é primoroso durante as cenas dos ensaios e durante todo espetáculo final, retratando a fluidez de movimentos do balé - é como se tivéssemos sido transportados para dentro do filme e bailássemos junto com os atores.

Mas o filme não seria nada sem a atuação soberba de Natalie Portman. Vivendo uma personagem frágil, retratada pelo olhar inocente e pelo tom de voz inseguro, a protagonista esconde em seu interior sentimentos obscuros e complexos. É um insulto pensar que Portman não ganhe um mais que merecido Oscar por esse papel (apesar de eu ainda não ter visto Nicole Kidman em Rabbit Hole e de achar Jennifer Lawrence em Inverno da Alma espetacular). Quem também se destaca é Mila Kunis, que vive uma bailarina rival, esbanjando sensualidade.

Cisne Negro, acima de tudo, é um filme sobre a obsessão. Seus momentos mais chocantes lembram as obras do início da carreira de Aronofsky, como Réquiem para um sonho e Pi. Só que aqui eles vêm à tona como um pronfundo estudo de personagem e não são nada gratuitos. Nina, no fundo, é apenas mais uma dessas meninas frágeis de corpo e espírito, que se entregam à anorexia e à auto-mutilação em busca de um sonho. Nesse ponto, mais uma vez, ela não difere em nada do lutador vivido por Mickey Rourke, que também se flagelava ao tentar dar realismo às lutas que encenava. Aronofsky, mais uma vez, nos faz questionar até que ponto um ser humano pode ir por amor à sua arte.

Um longa maravilhoso de um diretor que a cada filme amadurece mais um pouco.

Black Swan (2010). Dirigido por Darren Aronofsky. Com Natalie Portman, Vincent Cassel, Mila Kunis, Barbara Hershey e Winona Ryder.

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