quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Os Melhores de 2010 - Parte 2

Antes da derradeira lista dos 10 melhores filmes de 2010, faço aqui uma menção honrosa às seguintes obras, que por pouco não entraram neste post: In the Loop, de Armando Ianucci; Um Profeta, de Jacques Audiard; A Estrada, de John Hillcoat; Amor Sem Escalas, de Jason Reitman; Atração Perigosa, de Ben Affleck; Tudo Pode Dar Certo, de Woody Allen; O Escritor Fantasma, de Roman Polanski; Enterrado Vivo, de Rodrigo Cortés; e Homem de Ferro 2, de Jon Favreau.

Os Melhores filmes de 2010 - 2ª parte:

10. Onde Vivem os Monstros, de Spike Jonze

Poético, traduz em imagens os conflitos, a insegurança e as dúvidas de um menino de 10 anos. Um filme sobre crianças feito para os adultos enxergarem os monstros que vivem dentro de todos nós.

9. A Origem, de Christopher Nolan

O mais novo filme "quebra-cabeças" de Christopher Nolan. Menos ambicioso que Amnésia, mas ainda assim genial, A Origem é provavelmente o filme mais comentado do ano. Mais do que um longa com final espirituoso, Nolan cria um novo universo mitológico.


8. Um Homem Sério, de Joel Coen e Ethan Coen

Um conto brilhante sobre a necessidade humana de explicar o mundo a seu redor. Junte a isso o humor peculiar dos irmãos Coen, que fazem referências e ótimas piadas com a cultura judaica. Uma pequena obra-prima.


7. A Rede Social, de David Fincher

A Rede Social é o Clube da Luta da geração anos 2000. Mais do que a história de como Mark Zuckerberg criou o Facebook, Fincher faz uma leitura de como as relações humanas se dão depois do advento da internet. É o triunfo dos nerds sem tato para com as pessoas sobre os playboys ricos, populares e malhados.


6. Guerra ao Terror, de Kathryn Bigelow

Justo vencedor do Oscar, Guerra ao Terror só chegou aos cinemas brasileiros depois da projeção que ganhou com as premiações. Kathryn Bigelow cria um filme de guerra completo, como há muito não se via: deixa de lado as tramas políticas para ir direto ao front e tratar dos traumas eternos que a presença num campo de batalha pode causar ao ser humano. 

5. Mother - Em Busca da Verdade, de Bong Joon-Ho

O amor de uma mãe pelo seu filho acima de qualquer coisa. Bong Joon-Ho deixou para trás o monstro de O Hospedeiro e voltou a fazer um thriller como o fantástico Memórias de um Assassino. Atuação soberba de Hye-Ja Kim, como a mãe do título.

4. O Segredo dos Seus Olhos, de Juan José Campanella

A obra-prima de Campanella consegue juntar em um mesmo filme diferentes estilos: passa pelo suspense, pelo filme político, pelo romance e pela comédia sem que percebamos a transição. O apuro estético do diretor - que plano fantástico aquele no estádio do Huracán! - não impede que nos esqueçamos do fundamental: os belíssimos personagens.


3. Toy Story 3, de Lee Unkrich

Não dá para esperar menos da Pixar do que uma obra-prima, e mais uma vez o estúdio surpreende. Demonstrando uma enorme sensibilidade, Toy Story 3 já entra para o rol das animações que fazem chorar (e muito). Uma história fundamental sobre amadurecimento e escolhas.

2. Tropa de Elite 2, de José Padilha

Menos polêmico que o original, Tropa de Elite 2 melhora muito o que já era ótimo no primeiro. Com menos ação e mais política, José Padilha traça de maneira brilhante a situação de violência vivida pelo Rio de Janeiro e pelo Brasil. Desta vez o espectador saiu do cinema refletindo sobre o país e não apenas repetindo frases engraçadinhas.


1. Scott Pilgrim Contra o Mundo, de Edgar Wright

A tradução em imagens do que é ser jovem nos últimos 30 anos. Milhares de referências pop, montagem hipnotizante, personagens cativantes. O longa mais criativo do ano. Edgar Wright ensina com maestria como se fazer um filme-videogame.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Os Melhores de 2010 - parte 1

2010 foi um bom ano para o cinema. A seguir, vai a lista com os melhores filmes lançados no cinema brasileiro este ano. São 20 filmes no total, divididos em duas partes, sendo esta a primeira. A segunda parte virá antes do fim do ano.

Os melhores de 2010 - 1ª parte:


20. À Prova de Morte, de Quentin Tarantino

Depois de três anos de espera, filnalmente À Prova de Morte chegou aos cinemas brasileiros. Não é um Tarantino épico como em Bastardos Inglórios, mas numa época repleta de reboots e remakes, nada como a criatividade do diretor/roteirista para combater o marasmo que tomou conta do cinema norte-americano. Uma homenagem ao cinema que não deixa de ser original.

19. Mary e Max, de Adam Elliot

A animação mais depressiva do ano. Estaticamente belo e com uma história sensível, emociona mais do que 90% dos filmes live action lançados no ano. Difícil não se tocar (e chorar horrores) com a história dos solitários protagonistas.


18. A Fita Branca, de Michael Haneke


Haneke novamente mostra toda a sua falta de otimismo na humanidade, desta vez retratando, em forma de alegoria, o surgimento do nazismo na Alemanha. Mais do que isso, é um filme obrigatório para quem quer entender o autoritarismo e a origem do mal. Destaque para a belíssima fotografia em preto e branco, uma das mais belas do ano.

17. Ilha do Medo, de Martin Scorsese


Scorsese mostrou mais uma que sabe fazer filme de gênero. Como profundo conhecedor da história do cinema, aproveitou para homenagear os clássicos do suspense. Ele aproveita a paranoia norte-americana durante a Guerra Fria para fazer uma interessante reflexão sobre a loucura e suas consequências.


16. Como Treinar o Seu Dragão, de Chris Sanders e Den DeBlois


A melhor animação da DreamWorks desde Shrek (o primeiro). Uma bela história de amizade, que consegue ao mesmo tempo divertir e emocionar sem muito esforço.


15. Vício Frenético, de Werner Herzog


Refilmagem do filme de 1992, o longa de Herzog traz o mesmo protagonista amoral do original. O diretor alemão muda completamente o tom do filme, apelando mais para o deboche e o nonsense, superando a obra de Abel Ferrara. E traz Nicolas Cage em uma das melhores atuações de sua carreira.

14. Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1, de David Yates

A decisão de dividir o último livro em duas partes tem claro propósito comercial, mas ajudou David Yates a produzir o melhor filme da série. Muito mais maduro, aproveita o tempo extra para desenvolver seus personagens e criar grandes expectativas para o derradeiro capítulo da história.


13. As Melhores Coisas do Mundo, de Laís Bodanzky


Um filme que trata a adolescência de maneira sensível, sem os clichês e esquematismos de sempre. Difícil não se identificar com o jovem Mano e seus dilemas e dúvidas. A cena em que ele toca desajeitadamente Something no violão para a menina por quem está interessado já se tornou memorável.


12. Sede de Sangue, de Park Chan-Wook


Um filme de vampiros que casa bem com o sueco Deixa Ela Entrar como antídoto aos intoxicados com a água açucarada de Crepúsculo. Chan-Wook retrata um amor às avessas e aproveita para tecer comentários sobre a natureza humana. Tudo com muito sangue e violência, típicos da filmografia do coreano.


11. Kick Ass - Quebrando Tudo, de Matthew Vaughn


A surpresa do ano. Um filme de super-heróis sem superpoderes que realizam o sonho de todo nerd: vestir uma fantasia e sair por aí salvando o planeta. Violento, politicamente incorreto e com a personagem do ano: Hit Girl, vivida pela revelação Chloe Moretz.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Os piores de 2010

Chegou o final do ano e com ele as famosas listas de melhores e piores. Começo hoje com aqueles filmes que fariam um grande favor se tivessem passado bem longe de nossos cinemas. Destaco a presença de diretores que costumam fazer bons trabalhos e que neste ano falharam feio, como Tim Burton, Ridley Scott e Peter Jackson. Nos próximos dias, coloco no ar a lista dos melhores, que virá em duas partes.

Os piores filmes de 2010:

10. A Hora do Pesadelo, de Samuel Bayer
Um horror que deixou os fãs de Freddy Krueger muito irritados. O charme do personagem se foi e ficaram apenas os adolescentes aborrecidos dos outros filmes da série. Um caça-níqueis sem graça.


9. Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton
Tim Burton desfigura completamente a história criada por Lewis Carroll e a transforma uma espécie de As Crônicas de Narnia piorada. Nem Johnny Deep se salva dessa vez, num filme que contribuiu ainda para baixar o ânimo sobre o cinema 3D depois do sucesso de Avatar.


8. Eclipse, de David Slade
A piada do ano. Os dois primeiros filmes da "saga" Crepúsculo ajudaram a alimentar listas como esta, e Eclipse não podia ser diferente. Nada mudou na história e nem deve mudar no próximo. Um filme para adolescentes virgens de todas as idades.


7. Fúria de Titãs, de Louis Leterrier
A segunda refilmagem da lista. O original era divertidinho e só. Já a nova versão tem algumas modificações, mas a história perde totalmente seu charme. De que adianta efeitos digitais sem conteúdo? Sou muito mais os bonecos de massinha do longa de 1981.


6. Robin Hood, de Ridley Scott
Alguém aí se lembra daquele Riley Scott que fazia filmes como Alien e Blade Runner? Robin Hood é mais um passo para trás na carreira desse bom diretor que passou a se contentar em apenas ganhar uma graninha com filmes-pipoca meia-bocas e nada mais.


5. Um Sonho Possível, de John Lee Hancock
Um filme "Sessão da Tarde" (no pior sentido), que ganhou projeção por ter sido indicado ao Oscar. Não fosse por isso, seria lançado diretamente em DVD. Sandra Bullock ganhou sua primeira (e única, esperemos!) estatueta em um filme que prega um american way of life superficial e falido.


4. Nosso Lar, de Wagner de Assis
Um filme honesto. Mas isso não é suficiente para ser bom. Nosso Lar, representante nesta lista da "onda espírita" que atingiu o cinema nacional neste ano, não seguiu o exemplo do bom Chico Xavier, se transformando em um filme artificial em todos os sentidos: das atuações à direção.


3. Meu Malvado Favorito, de Chris Renaud e Pierre Coffin
Uma animação que tinha tudo para ser boa, mas que não funciona exatamente por querer copiar o tem dado certo em outros estúdios. Não diverte nem emociona, o que torna ainda mais gritante a incompetência dos produtores em querer copiar a Pixar.


2. O Último Mestre do Ar, de M. Night Shyamalan
A história e a mitologia da série animada até parecem interessantes. Faltou alguém mais talentoso que Shyamalan para levá-las à tela. Uma confusão do começo ao fim. Faz a gente torcer para que o diretor indiano volte já aos suspenses.


1. Um Olhar do Paraíso, de Peter Jackson
Peter Jackson já demonstrou em outras oportunidades ser um diretor completo, capaz de trafegar por diferentes gêneros em um mesmo filme sem perder a mão. Por causa disso Um Olhar do Paraíso tenha sido tão decepcionante. Um filme que não sabe o que quer ser. Resultado: desastre total. A bomba do ano.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Filmes da semana

Os Mercenários, de Sylvester Stallone
Pode um filme valer por uma cena? Os breves cincos minutos em que Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis dividem a tela em Os Mercenários já se tornaram antológicos pelo fato de reunir três lendas do cinema de ação dos anos 80. Difícil não se divertir com as piadas e as referências à carreira dos próprios atores. Mas a graça do filme termina aí.
No mais, temos os velhos clichês dos gênero: muitas explosões, tiroteios, uma mocinha bonita e indefesa, além de, claro, um ditador latino-americano. Só resta mesmo a curiosidade de ver os nomes consagrados dos filmes de ação juntos, por mais que o longa nem faça jus a tanto glamour. 

A Hora do Pesadelo, de Samuel Bayer
Uma sugestão a Hollywood: ao invés de gastar milhões produzindo uma refilmagem infinitamente pior que o filme original, não seria melhor resgatar o longa de 1984 e levá-lo novamente aos cinemas? Vejamos: o Freddy Krueger original era muito mais divertido, insano e sádico que essa coisa sem graça interpretada pelo Jackie Earle Haley. E querem mesmo comparar o mestre do terror Wes Craven com o novato Samuel Bayer – que tem no currículo só meia dúzia de clipes de Metallica e Green Day?
Além disso, seria muito mais fácil vender o filme como “estreia de Johnny Deep” do que “protagonizado por Kyle Gallner” (quem?). Ajudaria, nesse caso, a dizer para os mais novos o porquê de Krueger ter se tornado uma figura icônica do cinema de horror e não apenas mais um vilão besta que persegue adolescentes chatos. Exatamente o que é mostrado nessa refilmagem sem graça – e sem sustos.

O Último Mestre do Ar, de M. Night Shyamalan
Dizer que Shyamalan atingiu o fundo do poço já se transformou em um clichê. Até porque não podemos duvidar da habilidade do cara em sempre fazer um filme pior. O Último Mestre do Ar é tão ruim que nem sei por onde começar. Seria pela história confusa, sem pé nem cabeça, que a todo momento abandona personagens para trás e não explica conceitos básicos? Ou pelos personagens mal desenvolvidos e sem o menor de carisma? E o que dizer de Dev Patel, atuando pessimamente desde Skins?
Shyamalan pelo menos sempre foi um bom diretor de suspense. O problema é que O Último Mestre do Ar não pertence a esse gênero. E ao invés de seguir a cartilha básica dos filmes de fantasia, o cara resolve inventar: como explicar as sequências de ação filmadas em longos planos, extremamente mal coreografadas e confusas? Será que Shyamalan – que chegou a ser comparado a Hitchcock – quer se tornar o novo John Woo com tantas câmeras lentas? Se essa era a intenção, ele não conseguiu chegar perto nem do Zack Snyder (aquele de 300 e Watchmen e que também adora esse recurso).

segunda-feira, 8 de março de 2010

Observações sobre o Oscar


 Guerra ao Terror dominou o Oscar 2010: cerimônia chata e previsível
# A vitória de Guerra ao Terror indica muito menos do que estão querendo fazer parecer. A disputa com Avatar foi incessantemente caracterizada como uma briga entre Davi e Golias, entre o cinemão milionário e cineastas independentes, o que não é uma avaliação errada. Mas dizer que a vitória do filme de Kathryn Bigelow vai fazer com que Hollywood aposte mais em filmes pequenos e gaste menos em orçamento é simplesmente absurdo, já que o sucesso comercial de Avatar prova que essa ideia nem passe pela cabeça dos produtores. Da mesma forma, é complicado dizer que uma possível vitória de Avatar indicaria a falência dos filmes de menor orçamento. O Oscar é uma festa que não deve ser levada a sério a esse ponto nem servir como parâmetro para as escolhas pragmáticas (comerciais e artísticas) dos estúdios.
# Não é a primeira vez nos últimos anos que filmes independentes são premiados. Aliás, isso tem se tornado uma constante nesses últimos tempos, como provam as vitórias de Onde os Fracos não Têm Vez e de Quem Quer Ser um Milionário? (que, apesar de ser uma besteira conformista, também foi feito com baixo orçamento e com atores desconhecidos). Talvez Avatar tenha assustado a Academia, como aponta Chico Fireman; talvez tenha pesado o histórico preconceito contra filmes de fantasia. De qualquer forma, a vitória de Guerra ao Terror é importante para quem gosta de cinema, além de ser justíssima com aquele que de fato era o melhor filme entre os indicados.
# Jeff Bridges levou mais pelo conjunto da obra que pela atuação em si. Prêmio justo, já que nenhum dos outros atores ofereceu uma atuação arrebatadora (ainda não vi Direito de Amar, então Colin Firth não está sendo considerado nesta frase). Sandra Bullock ganhou só por ser carismática. Um Sonho Possível é um filme ruim e a atuação dela é uma das poucas coisas que se salvam (apesar de estar longe de ser espetacular). A vitória de Meryl Streep seria mais justa, mas dar dois Oscars pela carreira na mesma noite ia pegar mal. Fantástica seria se Gaborey Sidibe levasse, mas isso era muito difícil. Já Christoph Waltz e Mo’Nique apenas coroaram suas brilhantes atuações com mais um prêmio .
# Fiquei contente com o Oscar de Filme Estrangeiro para O Segredo dos Seus Olhos. Mas depois de comemorar, veio uma sensação de vazio. Por mais belo que seja o filme argentino, fiquei com a impressão de injustiça. Michael Haneke é um dos diretores mais importantes do planeta hoje e, de certa forma, A Fita Branca é um filme mais interessante esteticamente (uma pena ter perdido Fotografia). Gosto mais do filme de Juan José Campanella, mas teria sido mais importante dar o prêmio para Haneke. Não que ele precise de um Oscar (ele é maior que isso), mas premiá-lo valorizaria mais a premiação.
# Amor Sem Escalas, que antes do sucesso avassalador de bilheteria de Avatar e da onda de prêmios para Guerra ao Terror era o principal favorito da noite, saiu de mãos abanando. Perdeu até Melhor Roteiro Adaptado, em que era favorito, para Preciosa. Up levou os dois que já se esperava: Melhor Animação e Melhor Trilha Sonora (e finalmente premiaram Michael Giacchino!). E por mais que o roteiro de Guerra ao Terror seja ótimo, não era melhor que os de Bastardos Inglórios e Um Homem Sério.
# Sobre a vitória de Kathryn Bigelow: ela venceu porque fez o melhor trabalho dos cinco indicados. O fato de ser mulher ajudou, afinal era a chance da Academia acabar com um vergonhoso tabu. Mas a vitória tem que ser creditada muito mais à sua brilhante direção do que por seu sexo.
# Foi uma festa chata, com piadas sem graça e, mesmo sem a cantoria e algumas homenagens de anos anteriores, longa. A maioria das categorias saiu conforme o previsto (com exceção de uma ou duas, como Roteiro Adaptado  e Melhor Som). Enfim, o mesmo de sempre sobre a cerimônia. O Oscar é assim, a gente reclama, é chato, muitas vezes injusto e incoerente. Mas todos que amamos cinema acompanhamos mesmo assim. Vai entender!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A Estrada


A Estrada, filme baseado no livro de Cormac McCarthy (Onde os Fracos Não Têm Vez), se passa num mundo pós-apocalíptico, em que praticamente toda a vida na Terra foi dizimada, com exceção de alguns poucos humanos. Estes estão divididos entre aqueles que caçam outras pessoas para se alimentar e aqueles que buscam sobreviver a qualquer custo. Muitos não resistem a esta horrível realidade e acabam optando pelo suicídio a encarar tal mundo.

O roteiro de Joe Penhall não perde tempo tentando dar explicações sobre o desastre ocorrido no planeta. Aqui, ao contrário dos filmes-catástrofe de Roland Emmerich (O Dia Depois de Amanhã, 2012), o foco da narrativa se concentra na relação os dois protagonistas: pai (Viggo Mortensen) e filho (Kodi Smit-McPhee) que, abandonados pela mãe (Charlize Theron), tentam sobreviver seguindo um caminho que teoricamente os levará a um local melhor e onde encontrarão pessoas igualmente em busca de alimento e de um novo lar.

A Terra do filme é retratada de uma forma cinzenta e desolada. A belíssima fotografia de Javier Aguirresarobe ajuda a construir esse universo devastado, que contrasta com as cenas iniciais antes do desastre e dos rápidos flashbacks durante a história, retratadas com cores muito mais saturadas e vivas. O diretor de arte Gershon Ginsburg também realiza um ótimo trabalho criando cenários completamente devastados, com ruínas por toda parte e cidades-fantasmas.  Já os humanos canibais são retratados quase como os zumbis dos filmes de George A. Romero, vagando pelas sombrias florestas, atrás principalmente de crianças. A Estrada, aliás, conta com algumas sequências de puro suspense e terror muito bem realizadas pelo diretor John Hillcoat.

Mas a história não teria o mesmo impacto se não fosse pelas grandes atuações.  Viggo Mortensen mais uma vez se entrega completamente ao personagem, ao demonstrar o carinho e o instinto de proteção que possui em relação ao filho acompanhados de uma crescente perda de esperanças de conseguir sobreviver – e ele merecia ter sido melhor lembrado nessa temporada de premiações. Já o jovem Kodi Smit-McPhee interpreta o filho como uma criança que, desconhecendo o mundo antes da tragédia, se encanta com o pouco que ainda resta da antiga civilização, ao mesmo tempo em que  ajuda o pai a manter a humanidade que ainda lhe resta. O filme ainda conta com uma curta e ótima participação de Robert Duvall, como um velho sobrevivente que também vaga sem rumo pelo mundo desolado.

A travessia incompleta do filme simboliza a capacidade do ser humano de sempre dar um sentindo a sua existência, mesmo diante das mais profundas privações e horrores. Pessoas que têm a habilidade de crer que no final a distância que percorrem e as dificuldades por que passam serão sempre recompensados. Por mais que nunca saibam o que irão encontrar no fim da estrada, sempre resta a esperança de que lá existirá um mundo melhor.

The Road (2009) - Dirigido por John Hillcoat; Com Viggo Mortensen, Kodi Smit-McPhee, Charlize Theron, Robert Duvall, Guy Pearce, Molly Parker e Michael K. Williams.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Os Curtas de Animação do Oscar

De todos os filmes indicados ao Oscar, os curtas de animação são os mais fáceis de se assistir, já que estão quase todos disponíveis já na rede. Aqui disponibilizo quatro deles. O único que não encontrei foi A Matter of Loaf and Death. Curtam (com trocadilho):

Granny O'Grimm's Sleeping Beauty



La Dama y la Muerte (The Lady and the Reaper)


Logorama (parte 1)


Logorama (parte 2)


French Roast


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Guerra ao Terror


O maior mico cinematográfico de 2009 no Brasil pertence à distribuidora de Guerra ao Terror. Influenciada pelo pouco sucesso no país dos filmes sobre os conflitos recentes no Iraque e Afeganistão, a Imagem Filmes decidiu lançar a obra direto em DVD antes mesmo da estréia do filme nos cinemas americanos. Meses depois, o longa de Kathryn Bigelow já havia vencido quase todos os prêmios e festivais dos quais participou, culminando com as nove indicações ao Oscar nesta semana – largando como um dos principais favoritos.
Percebendo a besteira que fez, além de querer faturar mais com a visibilidade que o Oscar traz para o filme, Guerra ao Terror chega finalmente aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira. O filme acompanha três especialistas em bombas do exército norte-americano com a difícil tarefa de localizar e desarmar estes artefatos, num trabalho que mistura o risco iminente de morte e a alta adrenalina. É dessa premissa simples que Bigelow fez aquele que já está sendo chamado lá fora de “o novo Platoon”.
Mas ao contrário do filme de Oliver Stone (curiosamente, o último filme sobre uma guerra moderna a vencer o Oscar, em 87), Guerra ao Terror foge das discussões políticas em torno do conflito, evitando os já extensos discursos antiguerra presente em inúmeras outras obras. Não que aqui eles estejam ausentes, mas a mensagem é muito mais sutil. Bigelow se preocupa mais em estudar as sequelas que os conflitos causam na mente humana e em como aqueles que participam de uma guerra são incapazes de escapar incólumes de suas consequências.
Ajuda neste aspecto a belíssima interpretação de Jeremy Renner como William James, um experiente soldado que entra para a equipe depois que um dos integrantes morre ao tentar desarmar um explosivo. Ele é o arquétipo do herói de guerra: corajoso, ousado, arrogante, mas com uma ponta de sentimento, um restante de humanidade que mesmo o pior conflito não consegue apagar. O caminho do personagem – que volta para a casa só para perceber que a guerra deixou sequelas demais para se viver naquele mundo “normal” – representa o maior trunfo do ótimo roteiro de Mark Boal.
Bigelow filma tudo apostando num grande realismo, como se nós mesmos estivéssemos dentro do conflito. As cenas em que os personagens têm que desarmar alguma bomba sempre são tensas e não se tornam repetitivas. A presença dos paisanos que observam seus trabalhos – e que podem ser tanto pessoas comuns curiosas quanto o próprio inimigo – ajudam a gerar uma apreensão constante nos espectadores. Três sequências se destacam e ficaram bastante tempo na memória de quem assiste o filme: a primeira quando William tem que desarmar um explosivo que se localiza dentro de um carro; a segunda durante um tenso duelo de armas de alta-precisão no meio do deserto, que faz lembrar mais um faroeste que um filme de guerra comum; e por fim, já próximo ao fim do filme, numa cena que se passa à noite e em que Bigelow (junto com o fotógrafo Barry Ackroyd) jogam os personagens numa escuridão total contraposta apenas às cores quentes do fogo ao redor, ilustrando o terror e as incertezas do conflito.
Contando com participações rápidas – quase pontas – de atores mais conhecidos do público, como Guy Pierce e Ralph Fiennes, Guerra ao Terror é a prova de que ainda dá para produzir uma obra rica em significados em um gênero tantas vezes já trabalhado. E num gênero considerado masculino, Kathryn Bigelow conseguiu captar com perfeição como é estar dentro de uma guerra de verdade.

The Hurt Locker (2009) - Dirigido por Kathryn Bigelow; Com Jeremy Renner, Anthony Mackie, Brian Geraghty, Guy Pearce, Ralph Fiennes, David Morse, Evangeline Lilly e Christian Camargo.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Os indicados ao Oscar

Guerra ao Terror: o grande favorito

Quando a Academia decidiu aumentar o número de indicados ao Oscar de Melhor Filme de cinco para dez, essa escolha foi feita principalmente, para dar espaço para longas de apelo popular que por algum motivo ficaram de for da lista dos cinco melhores filmes do ano. E, assim, aumentar a audiência da festa, que vem caindo ano após ano.
Só que, ao contrário de 2008, quando tivemos O Cavaleiro das Trevas e Wall-E, filmes que foram sucesso tanto de público quando de crítica (e que, de fato, eram os dois melhores filmes americanos daquele ano), 2009 não foi um bom ano para os blockbusters. Tirando Star Trek (e, de certa forma, Distrito 9), que teve boa recepção da crítica, a maioria dos outros filmes ou foram bombas ou não tão bons para merecer uma indicação (não à toa, teremos mais sucessos no Framboesa de Ouro que no Oscar). Isso faz com que o número de 10 indicados pareça exagerado e filmes como Um Sonho Possível e Educação dão a impressão que estão lá só para ocupar espaço.
Claro que quando falo dos grandes sucessos, não estou contando Avatar. Este estaria na lista mesmo se ela tivesse apenas cinco filmes. Os números de bilheteria e a vitória no Globo de Ouro dão a impressão de que ele é realmente o favorito. Mas não é bem assim. Sim, é muito provável que Avatar leve boa parte dos prêmios técnicos e saia como o mais premiado. Mas James Cameron possui uma concorrente muito forte: sua ex-mulher Kathryn Bigelow e seu Guerra ao Terror – não à toa, os dois filmes foram os com mais indicações, nove no total.
O filme de guerra ganhou muita força ao vencer os prêmios dos Sindicatos dos Produtores e dos Diretores. Bigelow é aposta certa para o Oscar de Direção, não só por ter feito o melhor trabalho dos cinco indicados, mas também pelo fato da Academia querer acabar com o tabu de uma mulher nunca ter vencido o prêmio de Direção. Guerra ao Terror também está um nariz à frente de Avatar na disputa por Melhor Filme, mas a competição parece bastante acirrada e só deve ser resolvida na noite do dia 7 de março.
Quanto aos atores, os prêmios de Ator e Atriz Coadjuvante já possuem donos, não só pelas atuações fantásticas, mas também pela falta de concorrência: Christoph Waltz, por Bastardos Inglórios e Mo’Nique, por Preciosa. O Oscar de Melhor Ator também parece certo para o “dude” Jeff Bridges, por Coração Louco. Já Sandra Bullock se consolida de vez como favorita a Melhor Atriz por Um Sonho Possível, já que o filme parece ter recebido indicação ao prêmio principal graças ao carisma da atriz – única explicação para a presença de um filme muito mal recebido pela crítica nessa categoria.
Já Melhor Animação deve ir novamente para a Pixar, que teve pela primeira vez um longa indicado a Melhor Filme. O que é curioso, já que Up é o trabalho menos impactante do estúdio nos últimos anos (é menor que Procurando Nemo, Os Incríveis, Ratatouille e Wall-E, por exemplo). Eu até torço para o prêmio ir para Wes Anderson e seu Fantástico Sr. Raposo, mas é difícil. As indicações a filme estrangeiro também ficaram dentro do esperado, com os favoritos A Fita Branca (Alemanha), O Segredo de seus Olhos (Argentina), Um Profeta (França) e A Teta Assustada (Peru) comparecendo entre os finalistas.
Agora é só esperar pouco mais de um mês para sabermos quem sairá da festa com mais estatuetas.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Framboesa de Ouro - Os indicados


Transformers - A Vigança dos Derrotados é o líder em indicações


Saíram hoje os indicados ao Framboesa de Ouro, paródia do Oscar - muitas vezes mais "justo" que o irmão sério. O que se pode destacar é a grande presença de filmes que foram sucesso de bilheterias - ou que foram feitos pensando em tal fim. Os líderes em indicações são Transformers - A Vingança dos Derrotados, com sete, e G.I. Joe - A Origem do Cobra, com seis. 

Quem também está na lista é o segundo filme da saga Crepúsculo, Lua Nova, com o triâgulo amoroso formado por Kristen Stewart, Robert Pattinson e Taylor Lautner concorrendo a Pior Casal/Dupla (Pattinson também concorre a Pior Ator Coadjuvante). Artistas queridinhos do público jovem, como os Jonas Brothers e Myley Cirus (a Hannah Montana) também estão entre os indicados.

Outra curiosidade é Sandra Bullock entre as indicadas a Pior Atriz, por All About Steve. Bullock ganhou recentemente o prêmio de Melhor Atriz do sindicato dos atores de Hollywood (DGA) e é a favorita ao Oscar nesta mesma categoria.
Este que vos escreve até achou Lua Nova menos ruim que o original (apesar da indicação de Robert Pattinson ser justíssima) e torce para que Michael Bay e seus cinco cortes por segundo levem a maior parte dos "prêmios".

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Invictus



A última década foi bastante fértil para Clint Eastwood. O veterano ator/diretor fez em seqüência alguns de seus melhores filmes (Sobre Meninos e Lobos, Menina de Ouro, Cartas de Iwo Jima, Gran Torino), além de levar seu segundo Oscar de direção, por Menina de Ouro. Provando estar em um momento bastante produtivo em sua carreira mesmo aos 79 anos, chega nesse fim de semana aos cinemas brasileiros o terceiro filme do diretor no espaço de um ano.

Invictus pode ser considerado um filme menor na carreira de Eastwood, abaixo daqueles citados acima – e de Os Imperdoáveis, clássico maior do diretor. Ainda assim, é um bom filme. O longa retrata a importante fase da história da África do Sul, logo após o fim do apartheid e a eleição de Nelson Mandela (Morgan Freeman) a presidente. Para tentar unir o país e abrandar o histórico preconceito entre negros e brancos, Mandela se alia ao capitão da seleção sul-africana de rugby , François Pienaar (Matt Damon), em busca da conquista da Copa do Mundo realizada no país.

Eastwood já começa o filme retratando bem o sentimento de hostilidade racial existente no país. Logo na primeira sequência vemos jovens negros jogando futebol em um campo de várzea, em contraponto aos ricos brancos em seu clube de rugby com um gramado verde impecável. O medo de um atentado contra o presidente também é bem retratado, demonstrando o clima tenso que existia no país durante aquele período. Infelizmente, o diretor não tem o mesmo sucesso nas cenas das partidas, já que os planos muito fechados e uma edição pouco elegante tornam tudo muito confuso e enfadonho, principalmente para aqueles que não estão familiarizados com o esporte.

Talvez exatamente pensando nessa adaptação àqueles que não acompanham rugby o roteiro de Anthony Peckham muitas vezes siga um caminho bastante didático, para não dizer expositivo.  A direção também se equivoca ao filmar praticamente toda a partida final em câmera lenta – se a princípio poderia ser uma boa escolha, o fato de a cena se estender demais torna a experiência repetitiva e bastante piegas (uma falha que Eastwood cometeu em outro filme recente, A Troca).

Contando com uma ótima atuação de Morgan Freeman, que retrata muito bem as convicções e o desgaste físico e psicológico de Mandela no cargo, Invictus talvez agrade mais aos fãs de rugby, já que o filme mostra em ação o lendário ex-jogador neozelandês Jonah Lomu (interpretado pelo ator Jak Feaunati). E mesmo com algumas falhas narrativas, Clint Eastwood ainda demonstra energia para continuar produzindo filmes em sua brilhante carreira.

Invictus (2009) - Direção: Clint Eastwood; Com Morgan Freeman, Matt Damon, Tony Kgoroge, Patrick Mofokeng, Matt Stern, Julian Lewis Jones, Adjoa Andoh, Marguerite Wheatley, Patrick Lyster, Jak Feaunati.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O recorde de Avatar e o futuro do cinema


Ninguém é páreo para o Avatar de James Cameron - pelo menos em termos de bilheteria

A notícia já é velha: no início desta semana, Avatar superou Titanic como a maior bilheteria de todos os tempos no mundo (o filme de 97 ainda lidera nos EUA - por enquanto). James Cameron superou todas as expectativas e alcançou o que parecia impossível, superando seu próprio recorde. Os números são ainda mais expressivos se consideramos que Titanic ficou cerca de 10 meses em cartaz até atingir a marca de US$ 1.843.201.268 arrecadados. Avatar precisou de 41 dias para superar este número - que hoje é de US$ 1.878.025.999.

Uma das explicações para a arrecadação recorde de Avatar é o preço dos ingressos mais caros para filmes em 3D ou no formato IMAX. Segundo o site Box Office Mojo, especializado em bilheterias, 72% dos US$ 1,32 bilhões arrecadados no planeta (sem contabilizar o mercado norte-americano) provém dos ingreços para sessões 3D. Além disso, a expansão do mercado chinês - reponsável por mais de US$ 103 milhões, atrás apenas da França e dos EUA - ajudou também a atingir a marca.

A nova marca de Cameron deu uma grande animada na indústria do cinema, que agora tem um trunfo na manga para combater a pirataria e trazer de volta o público à sala escura. A Warner acaba de anunciar que os próximos dois filmes da série Harry Potter serão adaptados ao 3D. O mesmo caminho deve seguir a nova franquia do Homem-Aranha (dirigida por Mark Webb, de (500) Dias com Ela) e todos os próximos grandes lançamentos de Hollywood. E até animação de Ivete Sangalo vai contar a com a nova tecnologia.

Muito se tem falado se esse pode ser o futuro do cinema. Ainda é cedo para se dizer qualquer coisa. O próximo grande lançamento nos cinemas 3D é a versão de Alice nos País das Maravilhas de Tim Burton, com estréia marcada para 16 de abril. Até lá, Avatar já pode ter ultrapassado a marca de US$ 2 bilhões arrecadados. Revolução ou não, o filme de James Cameron já garantiu seu lugar na história do cinema.