segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Balanço do Oscar

Equipe de O Discurso do Rei no palco  

Um filme tradicional, de época, com atuações marcantes, roteiro inteligente, direção segura e impecável, abordando um tema que não ofende a ninguém e que agradou a maioria do público. Sim, eu estou falando de Bravura Indômita. Se eram esses os critérios da Academia para honrar seu grande vencedor, por que não escolher o longa dos irmãos Coen? Bravura saiu da premiação com mãos vazias, tornando-se o terceiro maior perdedor da história, tendo sido indicado em 10 categorias (A Cor Púrpura e Momento de Decisão tiveram 11 indicações e também não levaram nada). Um fato que mostra o porquê do Oscar 2011 ter sido um dos mais vergonhosos de todos os tempos.

Como já escrevi no outro post, ao premiar o medíocre Tom Hooper e seu insoso O Discurso do Rei, a Academia desprezou outras figuras como os próprios irmãos Coen, cineastas talentosos que vivem o auge da carreira e que garantem o sucesso da indústria diante de seu público. Não é preciso entender muito para perceber que a direção de Hooper é capenga, que ele não sabe o que quer passar direito com as imagens. Fincher, Coens, O. Russell e até Aronofsky tem muito mais bagagem e experiência, sendo mais maduros e com a fama já estabelecida. Não será surpresa se daqui a pouco tempo o nome de Hooper desaparecer no limbo.

Não que Discurso só tenha recebido Oscars imerecidos. Havia um (apenas um!) em que era a grande barbada. A vitória de Colin Firth era óbvia e esperada, um prêmio justíssimo para uma figura que retira de vez a aura de "ator de comédia romântica inglesa". Já em Melhor Atriz, Natalie Portman também confirmou o favoritismo com sua presença fantástica em Cisne Negro. Annette Bening perdeu pela quarta vez e agora esperamos que ela tenha novamente uma chance, de preferência por um filme melhor que o problemático Minhas Mães e Meu Pai.

A grande incerteza nas categorias de atuação era mesmo Melhor Atriz Coadjuvante. E, mais uma vez, a Academia se rendeu ao tradicionalismo e ao lobby, ao premiar Melissa Leo. Não que seu trabalho em O Vencedor seja ruim (sua vitória não é catastrófica como a de O Discurso do Rei), mas dar o Oscar para a jovem Hailee Steinfeld, a melhor de todas, ajudaria a tirar do prêmio a imagem de que vale tudo para se auto-promover e que quanto mais marketing e lobismo, melhor. Já quanto à vitória de Christian Bale, pelo mesmo filme, nem é preciso comentar: justa e merecida.

O balanço final colocou dois filmes empatados no topo: O Discurso do Rei, vencedor de filme, direção, ator e roteiro original, e A Origem, que ficou apenas com prêmios técnicos de mixagem e edição de som, fotografia (um crime contra Roger Deakins, de Bravura Indômita) e efeitos visuais. A Rede Social veio logo a seguir, vencendo merecidamente em trilha sonora, roteiro adaptado e montagem. Toy Story 3, O Vencedor e Alice no País das Maravilhas saíram com duas estatuetas e Cisne Negro com apenas uma. Dos indicados a Melhor Filme, além de Bravura, Minhas Mães e Meu Pai, 127 Horas e Inverno da Alma também ficaram de mãos abanando.

Como podemos ver, foi uma festa óbvia. Como sempre (já virou clichê dizer isso), o Oscar foi previsível e chato. Não houve nenhuma surpresa. Sempre que o teoricamente favorito perdia, quem ganhava a estatueta era o segundo colocado. Mesmo nas categorias menos badaladas, deu o esperado: Toy Story 3 como Melhor Animação, Trabalho Interno como Melhor Documentário e Em um Mundo Melhor como Melhor Filme Estrangeiro. Não à toa, eu acertei 16 previsões em 21, sendo que nas outras cinco venceram o que havia apostado como segundo favorito.

Quanto à cerimônia, ela teve seus altos e baixos como sempre. Anne Hathaway e James Franco são simpáticos e carismáticos, mas já estão sendo bastante criticados lá fora, o que deve indicar que não voltam para o ano que vem. Foi uma festa que lembrou aquelas dos anos 90: montagens engraçadinhas com os atores dentro do filme e uma participação especial de Billy Crystal, apresentador símbolo daquela época. Infelizmente, a Academia resolveu resgatar outra tradição daquela época: o lobismo de Weinstein e a sensação de injustiça e desonestidade em cinéfilos do mundo inteiro.


Repercussão

Alguns posts e comentários que também valem a pena ser lidos:

Chico Fireman - Oscar 2011: De volta para o passado, bem passado
Renato Silveira - Vencedores do Oscar 2011
Luiz Carlos Merten - Eis o 'lead'
Ana Maria Bahiana - Pautada pelo consenso, Academia não consegue fugir da previsibilidade

Entrando na história (pela porta dos fundos)

O Discurso do Rei: alguém lembrará desse filme daqui a dez anos?

Existem instantes em que temos a impressão de estarmos acompanhando um momento histórico. A noite de ontem pode com certeza entrar nessa lista. Infelizmente, pela porta dos fundos. Ao premiar O Discurso do Rei, o Oscar, mais uma vez, resolveu apostar em lobistas profissionais como Harvey Weinstein do que em dialogar com o que é realmente produzido diariamente em Hollywood. Não adianta nada escalar jovens como Anne Hathaway e James Franco como apresentadores se o grande prêmio da noite vai para um filme que só poderia ser considerado original e "melhor do ano" se tivesse sido filmado em 1940.

Dos dez indicados, O Discurso do Rei era o mais careta e convencional. Até mesmo longas que não mereciam ser lembrados como os melhores do ano, como Minhas Mães e Meu Pai e 127 Horas, tentavam ao menos ser mais ousados artística ou tematicamente. Não que isso seja um demérito do filme de Tom Hooper. Ele funciona e tem bons momentos, nada que seja memorável. Mas também possui problemas sérios no roteiro e, principalmente, na direção confusa de Hooper, só para ficar com duas categorias em que o filme foi premiado. A vitória acaba gerando, entre aqueles que amam e se importam de verdade com cinema, uma antipatia contra o longa, como se ele fosse pior do que realmente é.

É claro, aqui, mais uma vez, que a presença de Harvey Weinstein ajudou nessa vexaminosa vitória. Seu poder de lobby já havia dado o Oscar a Shakespeare Apaixonado, para ficar num exemplo, um romance bonitinho e igualmente convencional. Só que naquele ano, a Academia deu o prêmio de direção para Steven Spielberg. E fez muito bem, porque John Madden, diretor de Shakespeare, nunca mais fez algo memorável (nem havia feito antes). Por ironia do destino (ou não!), foi o próprio Spielberg quem entregou a estatueta a Hooper, num momento que ficará para a história como uma das maiores injustiças do Oscar.

Isso quer dizer que a estatueta deveria ir para A Rede Social? Não necessariamente. Haviam vários filmes concorrendo que são muito mais memoráveis do que Discurso. A Academia simplesmente deixou de premiar a loucura expressionista de Cisne Negro; a crueza e sensibilidade do cinema independente norte-americano de Inverno da Alma; a originalidade de um blockbuster de sucesso como A Origem; a beleza de personagens animados capazes de emocionar mais do que muita gente de carne e osso em Toy Story 3; a homenagem a um gênero clássico, transcrita de forma moderna, em Bravura Indômita; a complexidade familiar de O Vencedor; e, sim, o retrato perfeito de uma geração em A Rede Social.

Ao consagrar O Discurso do Rei, a Academia não apenas insultou milhares de cinéfilos que acompanham diariamente o que é feito em seus estúdios. Ela simplesmente ignorou toda uma geração de talentos produzidos dentro da própria indústria. Nomes como David Fincher, Darren Aronofsky, Joel e Ethan Coen, Christopher Nolan e David O. Russell foram preteridos por um inglês marketeiro que tem mais chances de terminar no vácuo (como Madden) do que escrever seu nome na história.

O Oscar nunca foi uma festa coerente, variando muito de ano a ano. Desta vez, eles deram um tiro certeiro no meio do pé.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Apostas para o Oscar

Todos os indicados ao Oscar: quem sairá da festa com as estatuetas amanhã?
(Foto: Divulgação)

Chegamos finalmente ao fim de semana do Oscar. Como o mais legal da festa sempre é tentar prever quais serão os vencedores, neste post eu coloco minhas apostas. Quais são as suas?

Melhor Filme

Quem deve ganhar: O Discurso do Rei
Também tem chances: A Rede Social
Em quem eu votaria: Qualquer um entre A Rede Social, Toy Story 3, Cisne Negro ou Bravura Indômita

O Discurso do Rei começou a aparecer como nome forte e certeza entre os indicados quando venceu o Festival de Toronto em novembro do ano passado. Mas por um bom tempo foi A Rede Social que deu pinta de ser o favorito. Isso começou a mudar depois do prêmio dos sindicados dos produtores e o favoritismo do filme de Tom Hooper se consolidou desde então. Ainda há chances para a obra de David Fincher, mas são menores do que já foram. O terceiro na disputa é Bravura Indômita, mas sua vitória seria uma zebra histórica.

Melhor Diretor

Se a Academia tiver a cabeça no lugar, deve ganhar: David Fincher, A Rede Social
Tem chances: Tom Hooper, O Discurso do Rei
Em quem eu votaria: David Fincher

Alguém aí se lembra de John Madden? Não? Ele era o diretor de Shakespeare Apaixonado, vencedor do prêmio de melhor filme em 1999. Naquele ano, a Academia premiou como diretor o já consagrado Steven Spielberg. Fez bem: Madden nunca mais fez nada que fosse memorável (e o próprio Shakespeare só é lembrado hoje por ter vencido o Oscar). Por causa disso, acredito que a Academia deva homenagear Fincher pelo conjunto da obra e por já ter realizado obras mais relevantes. Mesmo que Hooper tenha vencido o prêmio do sindicato dos diretores, ele ainda tem que comer muito feijão com arroz para chegar perto do realizador de Seven, Clube da Luta e Zodíaco. Além disso, a direção de A Rede Social é soberba e impecável, enquanto que O Discurso do Rei tem problemas mais que evidentes.

Melhor Ator

Praticamente já ganhou: Colin Firth, O Discurso do Rei
Não vai ganhar, mas deve ser o segundo mais votado: James Franco, 127 Horas
Em quem eu votaria: Colin Firth (me coçando para não escolher o Jesse Eisenbeg)

Por eliminação: James Franco e Jesse Eisenberg estão fantásticos em seus filmes, mas são jovens e devem concorrer outras vezes; Javier Bardem venceu recentemente (como coadjuvante) e atua em filme falado em língua estrangeira, o que sempre acaba pesando contra; e, por fim, Jeff Bridges venceu no ano passado, tornando sua presença aqui mais como uma homenagem. Sobra Colin Firth, que pelo segundo ano seguido produziu uma atuação fantástica, tendo batido na trave em 2010. É o Oscar mais certo da noite.

Melhor Atriz

Deve levar: Natalie Portman, Cisne Negro
Se a Academia resolver fazer "justiça histórica", tem chances: Annette Bening, Minhas Mães e Meu Pai
Em quem eu votaria: Natalie Portman

Aparentemente, este é o ano de Natalie Portman, que já venceu todos os prêmios na categoria. Seguramente, sua atuação é a mais chamativa do ano e a protagonista de Cisne Negro é o papel de sua carreira. Só que Annette Bening é veterana, tem uma atuação ótima em um filme não tão bom, já foi indicada outras duas vezes, perdendo por pouco (coincidentemente para a mesma atriz, Hilary Swank) e é casada com um dos caras mais influentes e importantes da indústria, Warren Beatty. Esses fatos tornam a disputa um pouco acirrada, mas ainda acho que Portman leva.

Melhor Ator Coadjuvante

Pode apostar: Christian Bale, O Vencedor
Briga em segundo plano: Geoffrey Rush, O Discurso do Rei
Em quem eu votaria: Bale

Christian Bale tem uma atuação fantástica em O Vencedor, roubando todas as cenas em que aparece. Ele destoa dos outros candidatos (também ótimos) na transformação física por que passou, o que sempre conta pontos a favor no Oscar. Rush, veterano e já premiado, também rouba as cenas em O Discurso do Rei. Mas a vitória é de Bale e seria muito injusto se não acontecesse.

Melhor Atriz Coadjuvante

Minha aposta: Hailee Steinfeld, Bravura Indômita
Favorita até fazer besteira: Melissa Leo, O Vencedor
Em quem eu votaria: Steinfeld

Hailee Steinfeld é a verdadeira protagonista de Bravura Indômita e só foi indicada aqui por ter maiores chances de vencer. E elas são reais. Melissa Leo era a favorita até começar a pagar anúncios do próprio bolso na mídia, o que gerou bastante antipatia por parte dos votantes. Aí ela abriu espaço para o crescimento da jovem. É um dos prêmios mais acirrados da noite e as duas têm muitas chances.

Melhor Roteiro Original

Favorito: David Seidler, O Discurso do Rei
Pode vencer: Christopher Nolan, A Origem
Em quem eu votaria: Nolan

Acreditem: o roteiro esquemático de O Discurso do Rei é o mais citado nas listas de apostas para o Oscar, na frente do trabalho de Christopher Nolan. Aparentemente, o número de detratores de A Origem dentro da Academia é grande, mas esse Oscar poderia servir de consolação para Nolan pelo fato dele ter sido esnobado como diretor. Tudo bem, A Origem não é perfeito, mas tem muito mais originalidade que o texto de David Seidler. Nesse ponto, até mesmo o roteiro maduro e complexo de O Vencedor mereceria mais. Agora, se Minhas mães e meu pai levar seria uma tragédia completa. Como podemos ver, é uma categoria que tem uma briga boa, mas deve ficar entre os filmes expostos acima.

Melhor Roteiro Adaptado

Deve ganhar: Aaron Sorkin, A Rede Social
Com menos chances: Joel Coen e Ethan Coen, Bravura Indômita
Em quem eu votaria: Sorkin

Por melhores que sejam os indicados, nenhum se compara em termos de estrutura e diálogos inspirados quanto o roteiro de Aaron Sorkin. Bravura Indômita também é sensacional, mas os Coen já venceram outras vezes. Os outros três indicados (127 Horas, Inverno da Alma e Toy Story 3) são meros figurantes.

Melhor Filme Estrangeiro

Favorito: Em um Mundo Melhor (Dinamarca)
Também têm chances: Incêndios (Canadá) e Biutiful (México)
Em quem eu votaria: Só vi um dos indicados (Biutiful), então não poderia votar

Se toda a Academia pudesse votar neste prêmio, é certo que o vencedor seria Iñarritu, para compensar o fato de já ter sido indicado a Melhor Diretor e perdido. Mas aqui não funciona bem assim. Como são poucos os votantes, geralmente acontece alguma surpresa. O favorito é o dinamarquês Em um Mundo Melhor, vencedor do Globo de Ouro, mas qualquer outro resultado não pode ser descartado.

Melhor Animação

Já ganhou: Toy Story 3
Chances remotíssimas: Como Treinar Seu Dragão
Em quem eu votaria: Toy Story 3

Toy Story foi um marco na história do cinema ao ser o primeiro filme em animação 3D (e o primeiro longa da Pixar). Sua continuação fez jus ao original. Só que quando os dois filmes foram lançados, não existia o prêmio de Melhor Animação. Portanto, agora a Academia deve premiar a terceira parte para homeagear toda a trilogia. E covenhamos: não há nenhum filme melhor que esse na cerimônia, então é justíssimo.

Melhor Documentário

Favorito por um triz: Trabalho Interno
Tem chances: Exit Through the Gift Shop
Em quem eu votaria: Exit Through the Gift Shop

Mais uma categoria em que votam apenas os que comprovarem ter visto os cinco indicados. Portanto, é difícil prever. Na minha opinião, os favoritos são Trabalho Interno e o sensacional Exit Through the Gift Shop. Aliás, seria muito bacana ver esse último vencendo. Será que o enigmático e anônimo artista de rua Banksy, diretor do filme, vai aparecer?

Melhor Montagem

Favorito: Angus Wall e Kirk Baxter, A Rede Social
Com chances: Tariq Anwar, O Discurso do Rei
Em quem eu votaria: Scott Pil... Hã? Não foi indicado? Tá, então A Orig... O quê? Também não? Hum, ok, vai lá, A Rede Social

Numa categoria em que os melhores trabalhos ficaram de fora, chama mais a atenção o trabalho dos montadores Angus Wall e Kirk Baxter, que conseguem dar ritmo e coerência a um filme de estrutura complexa. Não dá para ignorar também uma vitória do trabalho esquizofrênico de Jon Harris em 127 Horas, mas acho que não corremos esse risco.

Melhor Fotografia

Deve vencer: Roger Deakins, Bravura Indômita
Segundo favorito: Wally Pfister, A Origem
Em quem eu votaria: Deakins

Deakins já foi nomeado oito vezes e nunca venceu. Chegou a hora, pelo trabalho estupendo em Bravura Indômita. Mas Pfister vem logo atrás, já que a fotografia de A Origem ganhou a premiação da categoria. É uma briga interessante.

Melhor Direção de Arte

Favorito: Robert Stromberg e Karen O'Hara, Alice
Podem vencer também: Guy Hendrix Dias, Larry Dias e Doug Mowat, A Origem; Eve Stewart e Judy Farr, O Discurso do Rei;
Em quem eu votaria: Jess Gonchor e Nancy Haigh, Bravura Indômita

Mais uma categoria sem favoritos claros. O Discurso do Rei poderia sair na frente pela popularidade que tem com os votantes. Mas podem resolver compesar os Oscars perdidos por A Origem aqui. E o trabalho de Alice chama a atenção aqui e em Figurino. Como é difícil que perca os dois prêmios, aqui o filme de Tim Burton tem mais chances de vencer. Já eu ficaria muito feliz de Bravura Indômita levasse.

Melhor Figurino

Favorito: Sandy Powell, O Discurso do Rei e Colleen Atwood, Alice
Quem também pode vencer: Mary Zophres, Bravura Indômita
Em quem eu votaria: Alice

Aqui vale a mesma coisa de Melhor Direção de Arte. Pode ser que Discurso divida com Alice os dois prêmios. Tudo incerto ainda.

Melhor Maquiagem

Favorito: Rick Baker e Dave Elsey, O Lobisomem
Tem chances: Edouard F. Henriques, Gregory Funk e Yolanda Toussieng, Minha Versão do Amor
Em quem eu votaria: O Lobisomem

Categoria curiosa essa, que traz três filmes com sua única indicação. Aqui a briga é entre estilos: o belo trabalho de transformação de O Lobisomem ou o envelhecimento de Paul Giamatti em Minha Versão do Amor? O trabalho de Baker e Elsey sai na frente, mas não seria de descartar uma vitória do segundo.

Melhores Efeitos Visuais

Favorito: Paul Franklin, Chris Corbould, Andrew Lockley e Peter Bebb, A Origem
Pode vencer: Ken Ralston, David Schaub, Carey Villegas e Sean Phillips, Alice
Em quem eu votaria: A Origem

Filme com efeitos especiais precisa ser bom, por isso votaria em A Origem e não em Alice. Fora isso, aqui é mais uma chance que a Academia tem para compensar o filme de Christopher Nolan.

Melhor Trilha Sonora

Favorito: Alexandre Desplat, O Discurso do Rei
Com chances: Trent Reznor e Atticus Ross, A Rede Social
Em quem eu votaria: A Rede Social

A trilha mais legal do ano é de A Rede Social, mas é bem provável que ganhe a melodia mais convecional (e eficiente) de O Discurso do Rei.

Melhor Canção

Favorito: "We Belong Together", Toy Story 3
Pode vencer: "If I Rise", 127 Horas
Em quem eu votaria: Toy Story 3

Aqui é a chance de a Academia fazer com que Toy Story 3 saia da cerimônia com mais de um Oscar. Mas é uma categoria que costuma ter zebras, então não dá para descartar os outros concorrentes.

Melhor Mixagem de Som

Favorito: Lora Hirschberg, Gary A. Rizzo e Ed Novick, A Origem
Tem chances: Skip Lievsay, Craig Berkey, Greg Orloff e Peter F. Kurland, Bravura Indômita
Em quem eu votaria: A Origem

Mais uma vez: aqui A Origem pode ser compensado e seria muito justo.

Melhor Edição de Som

Favorito: Richard King, A Origem
Tem chances: Skip Lievsay e Craig Berkey, Bravura Indômita
Em quem eu votaria: A Origem

O mesmo de Melhor Mixagem de Som.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Top 5: Remakes

Bravura Indômita está em cartaz no Brasil e é um dos filmes com o maior número de indicações no Oscar deste ano. O filme é uma readaptação de um clássico de 1969. As refilmagens, ou remakes, aumentaram muito nos últimos anos, mas nunca foram uma novidade na história do cinema. Diversos diretores e produtores, por diferentes motivos, já adaptaram histórias criadas por outros autores. Que tal, então, relembrarmos algumas refilmagens marcantes?

 Scarface - A Vergonha de uma Nação (1932), de Howard Hawks

Scarface (1983), de Brian DePalma

Scarface - A Vergonha de uma Nação, filmado em 1932 por Howard Hawks tinha um claro subtexto político: servia como alerta dos produtores aos político e à sociedade sobre a violência de gângsters nas grandes cidades na época, principalmente naquelas afetas pela Lei Seca. Ainda assim, é um filme que se mostrou acima de seu tempo, permanecendo na história e influenciando praticamente tudo que foi feito no gênero dali em diante.

Extremamente violento para a época em que foi feito (somente alguns anos depois a censura de Hollywood seria mais dura e filmes como ele ficariam proibidos durante anos), o Scarface de Hawks ajudou a criar a mitologia dos gângsters glamurosos e elegantes, com seus chapéus e ternos de marca. Ironicamente, foi exatamente a refilmagem que Brian DePalma realizou cinquenta anos depois que quebrou essa mística, transformando esse universo em algo kitsch e brega.

Contando, ambas as versões, com atuações fantásticas de seus protagonistas (Paul Muni em 32 e Al Pacino em 83), tanto o filme de Hawks quanto o de DePalma são clássicos obrigatórios para os fãs do gênero. Vale dizer que a refilmagem é mais cínica e trágica para com o protagonista, que na versão original é muito mais simpático e galente, enquanto que na caracterização de Pacino é retratado como um monstro desumano.


 O Homem que Sabia Demais (1934), de Alfred Hitchcock

O Homem que Sabia Demais (1956), de Alfred Hitchcock

O Homem que Sabia Demais, de 1934, foi o primeiro grande sucesso de Alfred Hitchcock. Filmado ainda em seu período na Inglaterra, a fama do longa e de seu diretor atravessou o oceano e chegou aos Estados Unidos. Um casal (interpretado por Leslie Banks e Edna Best) passando as férias na Suíça presencia o assassinato de um homem que, antes de morrer, confidencia a eles que um político estrangeiro será assassinado em Londres. Logo depois, o filho do casal é sequestrados pelos planejadores do atentado, que ameçam a vida do menino caso eles contem o caso para a polícia.

Tempos depois, já em Hollywood, Hitchcock resolveu dar uma nova roupagem à sua obra. No auge da carreira (ele vinha de sucessos como Pacto Sinistro, Janela Indiscreta e Intriga Internacional, e faria alguns anos depois seus dois maiores clássicos, Um Corpo que Cai e Psicose) e com mais dinheiro, a segunda versão é bem superior à original. No filme de 1956, o casal agora é interpretado por James Stewart (parceiro de Hitchcok em várias obras da época) e a belíssima Doris Day (que também canta no filme).

Memorável, nas duas versões, é o clímax do filme, que se realiza no Royal Albert Hall. Nela, o pistoleiro está prestes a matar o alvo. O tiro, conforme fomos informados anteriormente, será disparado em sincronia com a ópera, no mesmo momento em que o tocador de pratos tocar seu instrumento. A mãe (Best no original; Day na refilmagem) é a única que tem conhecimento da situação e passa por um dilema: impede o assassinato e põe em risco seu filho ou permanece calada. Hitchcock filma tudo de maneira magistral. Vale dar uma conferida no resultado dos dois casos: aqui na versão de 1934 e aqui na de 1956.

Yojimbo (1961), de Akira Kurosawa

Por um Punhado de Dólares (1964), de Sergio Leone

Os filmes de samurai estão para o cinema japonês assim como os westerns estão para o cinema norte-americano. Não seria de se estranhar, portanto, que muitas dessas histórias da tradição oriental fossem adaptadas para o Ocidente. Ainda mais se estamos falando do cineasta japonês mais conhecido e idolatrado do lado de cá do planeta: Akira Kurosawa. Talvez a mais famosa dessas adaptações seja Sete Homens e um Destino (1960), remake de Os Sete Samurais (1954), mas não a mais importante.

Essa, sem dúvida, é Por um Punhado de Dólares, de Sergio Leone. O filme possui a mesma narrativa de Yojimbo, outro clássico de Kurosawa: um viajante (samurai no original, pistoleiro na refilmagem) chega a uma cidade e se depara com um local dividido pela briga entre duas grandes facções rivais. Os protagonistas de ambos os longas eram famosos parceiros dos dois diretores: Toshiro Mifune e Clint Eastwood.

Por um Punhado de Dólares não é o melhor filme da "Trilogia do Homem sem Nome" de Leone - na verdade, é o menor dos três. Mas foi um dos primeiros expontes de sucesso do western spaghetti, longas realizados por italianos que sacudiram e reinventaram o gênero, que andava bem desgastado e era tido como ultrapassado na época. E só o fato de ter lançado Eastwood ao estrelato já é motivo do filme ficar para a história.


Nosferatu - Uma Sinfonia do Horror (1922), de F. W. Murnau

Nosferatu - O Vampiro da Noite (1979), de Werner Herzog

Nosferatu, de 1922, foi a primeira adaptação famosa do romance de Bram Stoker, Drácula. Sem os direitos autorais do livro, F. W. Murnau mudou o nome da obra e criou uma das figuras mais marcantes da história do cinema. Representante famoso do Expressionismo Alemão, Nosferatu narrava a história de Stoker com a estética apurada de Murnau, criando planos e sequências antológicas, contrastes de luz marcantes e tornando-se um dos percursores do cinema de horror.

A refilmagem realizada por Werner Herzog, em 1979, é mais uma homenagem ao original do que uma tentativa de dar um novo olhar para a história. Sem pretenções comerciais e apenas artísticas, Herzog pensa seu Nosferatu em como Murnau o teria filmado se existisse som na sua época. Mas as sequências mais marcantes continuam sendo as praticamente mudas, em que o diretor recria, com cores, os enquadramentos do original. O resultado é uma obra que ultrapassa a original, dando um tom mais sombrio, principalemente em seu final.


Conflitos Internos (2002), de Wai-Keung Lau e Alan Mak

Os Infiltrados (2006), de Martin Scorsese

Nos anos 2000, o cinema norte-americano tem passado por uma fase que pode ser muito bem chamada de "era dos remakes". E nem mesmo Martin Scorsese, talvez o maior diretor americano vivo, ficou de fora dessa onda. Os Infiltrados não foi a primeira refilmagem de Scorsese - ele já havia realizado Cabo do Medo em 1991, remake do filme homônimo de 1962 -, mas certamente é a melhor. Foi com esta obra que ele venceu seu primeiro e único Oscar, depois de bater na trave várias vezes.

Os Infiltrados é a refilmagem do chinês Conflitos Internos, que fez tanto sucesso em seu país natal que ganhou duas continuações (as quais eu não assisti). Conta a história de dois personagens: um deles é um criminoso infiltrado na polícia, enquanto o outro é um policial desfarçado na máfia. O objetivo dos dois é descobrir quem é o espião - e, claro, não ser desmascarado. No original, os protagonistas eram interpretados por Tony Leung e Andy Lau, enquanto que na refilmagem os papéis ficaram com Matt Damon e Leonardo DiCaprio.

Ambos os longas são mais do que um filme policial e retratam com sensibilidade os personagens. Há uma oposição clara entre a vida dos dois: enquanto o criminoso disfarçado leva uma vida normal, com relacionamentos amorosos e um apartamento de luxo, o policial precisa abrir mão de tudo para convencer em seu disfarce - e tanto Lau quanto DiCaprio têm atuações fantásticas nos dois filmes. As obras são muito semelhantes e a única grande mudança entre uma versão e outra é o final que, apesar disso, funciona nos dois casos.


Aliás, uma curiosidade: pode passar despercebido, mas Scorses utiliza, durante todo o filme, detalhes em "x" para indicar as futuras mortes. Só que nem isso é original, já que o diretor faz uma homenagem ao primeiro filme desta lista, Scarface - A Vergonha de uma Nação, que utilizava o mesmo artifício.
 

Como podemos ver, a história do cinema está repleta de versões, reinterpretações e homenagens.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Burlesque

Uma jovem sonhadora deixa o interior dos Estados Unidos rumo à Hollywood para tentar a vida no mundo do show business. Assim que chega lá tem que provar a todos o seu talento até que, finalmente reconhecida, chega ao estrelato. A história, como podem perceber, é extremamente batida. Os personagens e as situações também. Pior: serve somente como promoção de uma cantora pop medíocre e de uma veterana sumida de quem ninguém sentia falta. Este é Burlesque, e por mais que Christina Aguillera e Cher tenham fãs, o filme não possui nenhum tipo de atrativo sequer para justificar sua existência.

O longa já traz em seus minutos iniciais a falta de sutileza do péssimo roteiro, quando Alice (Aguillera) demonstra sua bondade e coragem ao enfrentar o malvado (sim, esse é o adjetivo) patrão e deixar a cidade rumo a seu sonho. Em Los Angeles, acaba chegando à casa noturna Burlesque, comandada pela ex-dançarina Tess (Cher). Lutando para ser aceita na casa, Alice acaba sendo a esperança da proprietária para aumentar a renda do local e pagar as dívidas acumuladas durante anos.

Piegas e esquemático, o texto escrito pelo diretor estreante Steve Antin é também extremamente artificial. A protagonista, por exemplo, muda de comportamento de um instante a outro, surgindo em alguns momentos como uma moça tímida e insegura para, na cena seguinte, aparecer confiante e cheia de si. Além disso, Burlesque possui uma narrativa bastante problemática, com personagens entrando e saindo de cena convenientemente e com conflitos dramáticos bastante artificiais - em um momento, Jack (Cam Gigandet), barman do Burlesque que recebe Alice em sua casa, praticamente a expulsa do local para, logo em seguida, propor à moça que continue morando com ele.


Ambientando toda a ação em uma casa noturna (um clichê em se tratando de musicais), a produção sequer tenta apostar em uma identidade visual para o local, que surge convencional e sem vida. Além disso, os números musicais surgem sem nenhuma graça, com todas as músicas e coreografias sendo falcilmente esquecíveis. Antin as dirige de uma forma burocrática e sem emoção - e nesse ponto, Burlesque parece um Nine piorado. Todos as canções não possuem finalidade narrativa, não servindo para desenvolver a história ou os personagens. Num determinado momento, o técnico de som do Burlesque chama Tess para um ensaio, num artifício do roteiro criado só para que Cher tenha um número musical, já que, durante o filme, nunca vemos a personagem se apresentando no palco, a não ser em uma breve cena inicial.

Cher, aliás, ressucita com este filme e está inexpressiva como sempre. Felizmente tem uma voz bonita, o que torna suas canções menos desagradáveis. O mesmo não pode ser dito de Aguillera. A moça faz parte dessas cantoras que gostam de ficar berrando por aí e isso ela faz o filme inteiro, para desespero dos ouvidos mais refinados. A cantoria só não é pior que sua atuação, sem nenhuma sutileza ou emoção. Enquanto isso, o sempre ótimo Stanley Tucci se esforça para criar o único personagem simpático e tridimensional do filme apesar do péssimo roteiro. Já Kristen Bell é bonita e só (não que seu papel ajude, claro).

Burlesque é no final mais uma bobeira inventada para atrair fãs de cantoras pop passageiras para dentro das salas de cinema. Já tivemos as Spice Girls e Britney Spears e agora chegou a vez de Aguillera (com o aval de Cher, o equivalente a ela nos anos 80). Quanto tempo até uma Lady Gaga da vida se juntar a essa nada honrosa lista?

Burlesque (2010). Dirigido por Steve Antin. Com Christina Aguillera, Cher, Cam Gigandet, Stanley Tucci, Kristen Bell, Eric Dane, Julianne Hough e Alan Cumming.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

127 Horas

Danny Boyle sempre foi um diretor mais preocupado com o estilo de suas obras do que com a história a ser contada. É assim desde Trainspotting, filme que o revelou para o mundo em 1996, culminando com o Oscar vencido por Quem quer ser um milionário?. Não é de se surpreender que ele tenha aceito o desafio de levar ao cinema a história de Aron Ralston, um jovem engenheiro que, apaixonado por esportes radicais, decide passar um fim de semana praticando rapel e outras modalidades num deserto cheio de canyons e falhas geológicas. O que era para ser um fim de semana de muita aventura se torna traumático depois que um acidente acontece e seu braço fica preso abaixo de uma pedra, e Ralston permanece no mesmo local por 127 horas até finalmente conseguir se libertar.

Representa um grande desafio dar agilidade a um filme que se passa quase totalmente centrado em apenas um personagem em uma situação estática. Nesse ponto, as características de Danny Boyle acabam ajudando o filme - mas atrapalham também. Ele investe em montagens paralelas, flashbacks, sonhos que se confundem com a realidade, tela dividida, entre outras trucagens e efeitos. Tudo isso ajuda a dar dinâmica à narrativa, retratando a agonia do protagonista. Mas Boyle tende muito ao exagero, forçando a mão até em momentos que poderiam ser mais íntimos e reflexivos. Talvez ao tentar dar a 127 Horas o mesmo ar cool de vídeoclipe que possui Quem quer ser um milionário?, a direção acaba muitas vezes chamando mais atenção para si do que para a própria história.

Que acaba sendo salva pela performance sensível de James Franco. Ralston é uma pessoa experiente e não apenas um esportista ocasional de fim de semana. Logo depois do acidente mantém uma seriedade e confiança de que conseguirá sair do local em breve. Um tanto por isso, quando finalmente o personagem cede à loucura, à sede e a fome, sentimos o impacto sobre aquele indíviduo inteligente e seguro que parecia que conseguiria se libertar num instante. A atuação de Franco é o ponto alto do longa e seu nome em qualquer lista de premiações é mais do que justa.

No fim, 127 Horas acaba sendo mais um daqueles filmes em que o protagonista passa a rever sua vida e suas atitudes depois de passar por uma situação extrema. Com o diferencial de ter sido realizado por um diretor estiloso (muitas vezes em excesso) e com um ator que demonstra talento a cada filme que faz.

127 Hours (2010). Dirigido por Danny Boyle. Com James Franco, Kate Mara, Amber Tamblyn, Treat Williams e Clémence Poésy.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O Discurso do Rei


Existe um determinado tipo de filme que parece ter sido feito para receber prêmios. Essas obras geralmente ficam apenas no feijão com arroz, simples, mas eficientes. Contam histórias dramáticas, bem construídas e que funcionam bem para o público em geral. Infelizmente, a falta de ousadia acaba relegando-os ao esquecimento pouco tempo depois. Em épocas de Oscar, esses filmes aparecem aos montes. Nos últimos anos, vinham sofrendo fracassos constantes, já que a principal premiação do cinema norte-americano dava mostras de que tinha se modernizado ao consagrar obras mais relevantes cinematograficamente. Mas este ano esse fantasma volta a rondar a Academia e tudo indica que o inglês O Discurso do Rei - um clássico "filme de Oscar" - deve levar as principais estatuetas.

Dirigido por Tom Hooper - que antes deste longa havia realizado apenas um filme sobre a curta passagem do técnico Brian Clough pelo clube inglês Leeds United, além de séries de TV -, O Discurso do Rei narra a história de George VI (Colin Firth) que tenta superar sua gagueira para poder assumir o trono britânico. Às vésperas da Segunda Guerra Mundial e com a popularização do rádio como meio de comunicação de massa, a realeza precisa aprender a se comunicar bem para não perder o prestígio. Para isso, conta com a ajuda do excêntrico Lionel Logue (Geoffrey Rush), um ator fracassado que dá aulas de dicção e “cura” problemas como o do futuro rei.

Hooper tenta retratar o deslocamento de George VI, que nunca almejou o trono e é forçado pelas circunstâncias a fazê-lo, enquadrando Firth muitas vezes no canto da tela, além de apostar em ângulos pouco usuais, demonstrando a estranheza do ambiente e do estado de espírito de seu protagonista. O problema é que em outros momentos o diretor realiza tomadas mais convencionais, quebrando essa interpretação e fazando parecer que não existe um propósito para essas escolhas, além de exibicionismo do cineasta. Outro grande equívoco é abordagem que o roteiro de David Seidler dá ao filme, que é quase uma ode à monarquia, relegando figuras históricas como Winston Churchill a papéis irrelevantes – é como se a Guerra tivesse sido vencida não pela habilidade política do primeiro-ministro mas apenas pela presença de espírito de George VI.


O que acaba tornando O Discurso do Rei em um bom filme são as belíssimas atuações de seu elenco. A começar por Colin Firth, que pelo segundo ano seguido tem uma performance espetacular (ano passado foi com Direito de Amar). Compondo um rei contido e claramente avesso a aparições públicas, Firth retrata com realismo as dificuldades de George VI em se expressar. Em contraste, o Lionel Longue de Geoffrey Rush esbanja energia e vivacidade. Rush, aliás, diverte-se bastante no papel do animado professor, sendo o maior destaque do longa depois de Firth. Já Helena Bonham Carter demonstra com eficiência o carinho que a rainha sente pelo marido, exibindo um olhar triste e piedoso sempre que ele se encontra em situações constrangedoras por causa da gagueira. Enquanto isso, Guy Pearce é o único que destoa do elenco, já que seu Eduardo VIII é quase uma caricatura, culpa também do roteiro que desenvolve pouco o personagem - uma figura tão interessante quanto o protagonista.

Apostando em reviravoltas dramáticas criadas apenas para dar peso ao filme, O Discurso do Rei funciona bem como drama, apesar de suas falhas evidentes. Sua provável vitória no Oscar indicaria sim um retrocesso, mas não seria nenhum vexame colossal como em outras ocasiões. Pena que o filme deva ser esquecido facilmente poucos meses depois.

The King's Speech (Reino Unido, Austrália, EUA; 2010). Dirigido por Tom Hooper. Com Colin Firth, Geoffrey Rush, Helena Bonham Carter, Guy Pearce, Michael Gambon, Derek Jacobi e Timothy Spall.