quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

127 Horas

Danny Boyle sempre foi um diretor mais preocupado com o estilo de suas obras do que com a história a ser contada. É assim desde Trainspotting, filme que o revelou para o mundo em 1996, culminando com o Oscar vencido por Quem quer ser um milionário?. Não é de se surpreender que ele tenha aceito o desafio de levar ao cinema a história de Aron Ralston, um jovem engenheiro que, apaixonado por esportes radicais, decide passar um fim de semana praticando rapel e outras modalidades num deserto cheio de canyons e falhas geológicas. O que era para ser um fim de semana de muita aventura se torna traumático depois que um acidente acontece e seu braço fica preso abaixo de uma pedra, e Ralston permanece no mesmo local por 127 horas até finalmente conseguir se libertar.

Representa um grande desafio dar agilidade a um filme que se passa quase totalmente centrado em apenas um personagem em uma situação estática. Nesse ponto, as características de Danny Boyle acabam ajudando o filme - mas atrapalham também. Ele investe em montagens paralelas, flashbacks, sonhos que se confundem com a realidade, tela dividida, entre outras trucagens e efeitos. Tudo isso ajuda a dar dinâmica à narrativa, retratando a agonia do protagonista. Mas Boyle tende muito ao exagero, forçando a mão até em momentos que poderiam ser mais íntimos e reflexivos. Talvez ao tentar dar a 127 Horas o mesmo ar cool de vídeoclipe que possui Quem quer ser um milionário?, a direção acaba muitas vezes chamando mais atenção para si do que para a própria história.

Que acaba sendo salva pela performance sensível de James Franco. Ralston é uma pessoa experiente e não apenas um esportista ocasional de fim de semana. Logo depois do acidente mantém uma seriedade e confiança de que conseguirá sair do local em breve. Um tanto por isso, quando finalmente o personagem cede à loucura, à sede e a fome, sentimos o impacto sobre aquele indíviduo inteligente e seguro que parecia que conseguiria se libertar num instante. A atuação de Franco é o ponto alto do longa e seu nome em qualquer lista de premiações é mais do que justa.

No fim, 127 Horas acaba sendo mais um daqueles filmes em que o protagonista passa a rever sua vida e suas atitudes depois de passar por uma situação extrema. Com o diferencial de ter sido realizado por um diretor estiloso (muitas vezes em excesso) e com um ator que demonstra talento a cada filme que faz.

127 Hours (2010). Dirigido por Danny Boyle. Com James Franco, Kate Mara, Amber Tamblyn, Treat Williams e Clémence Poésy.

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