domingo, 20 de fevereiro de 2011

Top 5: Remakes

Bravura Indômita está em cartaz no Brasil e é um dos filmes com o maior número de indicações no Oscar deste ano. O filme é uma readaptação de um clássico de 1969. As refilmagens, ou remakes, aumentaram muito nos últimos anos, mas nunca foram uma novidade na história do cinema. Diversos diretores e produtores, por diferentes motivos, já adaptaram histórias criadas por outros autores. Que tal, então, relembrarmos algumas refilmagens marcantes?

 Scarface - A Vergonha de uma Nação (1932), de Howard Hawks

Scarface (1983), de Brian DePalma

Scarface - A Vergonha de uma Nação, filmado em 1932 por Howard Hawks tinha um claro subtexto político: servia como alerta dos produtores aos político e à sociedade sobre a violência de gângsters nas grandes cidades na época, principalmente naquelas afetas pela Lei Seca. Ainda assim, é um filme que se mostrou acima de seu tempo, permanecendo na história e influenciando praticamente tudo que foi feito no gênero dali em diante.

Extremamente violento para a época em que foi feito (somente alguns anos depois a censura de Hollywood seria mais dura e filmes como ele ficariam proibidos durante anos), o Scarface de Hawks ajudou a criar a mitologia dos gângsters glamurosos e elegantes, com seus chapéus e ternos de marca. Ironicamente, foi exatamente a refilmagem que Brian DePalma realizou cinquenta anos depois que quebrou essa mística, transformando esse universo em algo kitsch e brega.

Contando, ambas as versões, com atuações fantásticas de seus protagonistas (Paul Muni em 32 e Al Pacino em 83), tanto o filme de Hawks quanto o de DePalma são clássicos obrigatórios para os fãs do gênero. Vale dizer que a refilmagem é mais cínica e trágica para com o protagonista, que na versão original é muito mais simpático e galente, enquanto que na caracterização de Pacino é retratado como um monstro desumano.


 O Homem que Sabia Demais (1934), de Alfred Hitchcock

O Homem que Sabia Demais (1956), de Alfred Hitchcock

O Homem que Sabia Demais, de 1934, foi o primeiro grande sucesso de Alfred Hitchcock. Filmado ainda em seu período na Inglaterra, a fama do longa e de seu diretor atravessou o oceano e chegou aos Estados Unidos. Um casal (interpretado por Leslie Banks e Edna Best) passando as férias na Suíça presencia o assassinato de um homem que, antes de morrer, confidencia a eles que um político estrangeiro será assassinado em Londres. Logo depois, o filho do casal é sequestrados pelos planejadores do atentado, que ameçam a vida do menino caso eles contem o caso para a polícia.

Tempos depois, já em Hollywood, Hitchcock resolveu dar uma nova roupagem à sua obra. No auge da carreira (ele vinha de sucessos como Pacto Sinistro, Janela Indiscreta e Intriga Internacional, e faria alguns anos depois seus dois maiores clássicos, Um Corpo que Cai e Psicose) e com mais dinheiro, a segunda versão é bem superior à original. No filme de 1956, o casal agora é interpretado por James Stewart (parceiro de Hitchcok em várias obras da época) e a belíssima Doris Day (que também canta no filme).

Memorável, nas duas versões, é o clímax do filme, que se realiza no Royal Albert Hall. Nela, o pistoleiro está prestes a matar o alvo. O tiro, conforme fomos informados anteriormente, será disparado em sincronia com a ópera, no mesmo momento em que o tocador de pratos tocar seu instrumento. A mãe (Best no original; Day na refilmagem) é a única que tem conhecimento da situação e passa por um dilema: impede o assassinato e põe em risco seu filho ou permanece calada. Hitchcock filma tudo de maneira magistral. Vale dar uma conferida no resultado dos dois casos: aqui na versão de 1934 e aqui na de 1956.

Yojimbo (1961), de Akira Kurosawa

Por um Punhado de Dólares (1964), de Sergio Leone

Os filmes de samurai estão para o cinema japonês assim como os westerns estão para o cinema norte-americano. Não seria de se estranhar, portanto, que muitas dessas histórias da tradição oriental fossem adaptadas para o Ocidente. Ainda mais se estamos falando do cineasta japonês mais conhecido e idolatrado do lado de cá do planeta: Akira Kurosawa. Talvez a mais famosa dessas adaptações seja Sete Homens e um Destino (1960), remake de Os Sete Samurais (1954), mas não a mais importante.

Essa, sem dúvida, é Por um Punhado de Dólares, de Sergio Leone. O filme possui a mesma narrativa de Yojimbo, outro clássico de Kurosawa: um viajante (samurai no original, pistoleiro na refilmagem) chega a uma cidade e se depara com um local dividido pela briga entre duas grandes facções rivais. Os protagonistas de ambos os longas eram famosos parceiros dos dois diretores: Toshiro Mifune e Clint Eastwood.

Por um Punhado de Dólares não é o melhor filme da "Trilogia do Homem sem Nome" de Leone - na verdade, é o menor dos três. Mas foi um dos primeiros expontes de sucesso do western spaghetti, longas realizados por italianos que sacudiram e reinventaram o gênero, que andava bem desgastado e era tido como ultrapassado na época. E só o fato de ter lançado Eastwood ao estrelato já é motivo do filme ficar para a história.


Nosferatu - Uma Sinfonia do Horror (1922), de F. W. Murnau

Nosferatu - O Vampiro da Noite (1979), de Werner Herzog

Nosferatu, de 1922, foi a primeira adaptação famosa do romance de Bram Stoker, Drácula. Sem os direitos autorais do livro, F. W. Murnau mudou o nome da obra e criou uma das figuras mais marcantes da história do cinema. Representante famoso do Expressionismo Alemão, Nosferatu narrava a história de Stoker com a estética apurada de Murnau, criando planos e sequências antológicas, contrastes de luz marcantes e tornando-se um dos percursores do cinema de horror.

A refilmagem realizada por Werner Herzog, em 1979, é mais uma homenagem ao original do que uma tentativa de dar um novo olhar para a história. Sem pretenções comerciais e apenas artísticas, Herzog pensa seu Nosferatu em como Murnau o teria filmado se existisse som na sua época. Mas as sequências mais marcantes continuam sendo as praticamente mudas, em que o diretor recria, com cores, os enquadramentos do original. O resultado é uma obra que ultrapassa a original, dando um tom mais sombrio, principalemente em seu final.


Conflitos Internos (2002), de Wai-Keung Lau e Alan Mak

Os Infiltrados (2006), de Martin Scorsese

Nos anos 2000, o cinema norte-americano tem passado por uma fase que pode ser muito bem chamada de "era dos remakes". E nem mesmo Martin Scorsese, talvez o maior diretor americano vivo, ficou de fora dessa onda. Os Infiltrados não foi a primeira refilmagem de Scorsese - ele já havia realizado Cabo do Medo em 1991, remake do filme homônimo de 1962 -, mas certamente é a melhor. Foi com esta obra que ele venceu seu primeiro e único Oscar, depois de bater na trave várias vezes.

Os Infiltrados é a refilmagem do chinês Conflitos Internos, que fez tanto sucesso em seu país natal que ganhou duas continuações (as quais eu não assisti). Conta a história de dois personagens: um deles é um criminoso infiltrado na polícia, enquanto o outro é um policial desfarçado na máfia. O objetivo dos dois é descobrir quem é o espião - e, claro, não ser desmascarado. No original, os protagonistas eram interpretados por Tony Leung e Andy Lau, enquanto que na refilmagem os papéis ficaram com Matt Damon e Leonardo DiCaprio.

Ambos os longas são mais do que um filme policial e retratam com sensibilidade os personagens. Há uma oposição clara entre a vida dos dois: enquanto o criminoso disfarçado leva uma vida normal, com relacionamentos amorosos e um apartamento de luxo, o policial precisa abrir mão de tudo para convencer em seu disfarce - e tanto Lau quanto DiCaprio têm atuações fantásticas nos dois filmes. As obras são muito semelhantes e a única grande mudança entre uma versão e outra é o final que, apesar disso, funciona nos dois casos.


Aliás, uma curiosidade: pode passar despercebido, mas Scorses utiliza, durante todo o filme, detalhes em "x" para indicar as futuras mortes. Só que nem isso é original, já que o diretor faz uma homenagem ao primeiro filme desta lista, Scarface - A Vergonha de uma Nação, que utilizava o mesmo artifício.
 

Como podemos ver, a história do cinema está repleta de versões, reinterpretações e homenagens.

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