quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Planeta dos Macacos: A Origem


Quando a Fox planejava produzir Planeta dos Macacos em 1968, baseado no livro de Pierre Boulle, deparou-se com um problema: como caracterizar os os símios do filme de maneira realista, fazendo com que as pessoas levassem tanto o longa quanto seus personagens a sério. Os produtores foram salvos pela maquiagem revolucionária de John Chambers, que não apenas era bastante realista como permitia que os atores por trás das máscaras pudessem se expressar através de movimentos faciais e, principalmente, do olhar.

Mais de 40 anos depois, o estúdio resolveu novamente retornar à franquia (depois da fracassada versão de Tim Burton em 2001). Ao invés de readaptar a obra original, a escolha foi por fazer um prequel, explicando como a Terra viria a se tornar o planeta dominado pelos símios. E mais uma vez a escolha sobre como retratar os protagonistas se mostrou crucial. Na era pós-Senhor dos Aneis e King Kong, foi natural a escolha de Andy Serkis e da WETA Digital para dar vida a essas criaturas através do sistema de captura de movimentos. Se aqui e ali os animais revelam sua origem artificial, na maior parte das vezes eles surgem mais humanos do que os próprios protagonistas de carne e osso. Isso graças ao talento que Serkis já havia demonstrado ao interpretar Gollum e o macaco gigante: o de passar sentimentos complexos através do olhar.

Mas se há uma clara preocupação com o desenvolvimento das criaturas digitais, ela praticamente inexiste com aquelas de carne e osso. Somente a relação entre Will Rodman (James Franco) e seu pai Charles (John Lithgow) é mais aprofundada pelo roteiro de Rick Jaffa e Amanda Silver. Rodman é um cientista testando um novo tipo de vírus que pode vir a ser a cura para o mal de Alzheimer - doença que seu pai sofre. É durante testes com macacos que ele percebe que o vírus melhora aspectos da cognição dos símios, tornando-os superinteligentes. Depois de um problema no laboratório que faz com que os animais sejam sacrificados, Will leva para casa o chimpanzé recém-nascido Cesar (Serkis), filho de uma macaca que já havia sido inoculada com o vírus. Conforme cresce, Cesar vai demonstrando uma capacidade cada vez maior de raciocínio e compreensão do mundo à sua volta.


Tanto Franco quanto Lithgow entregam performances boas com seus personagens, fazendo com que acreditemos naquela relação e nas motivações do cientista. Já os outros humanos da trama são extramemente mal caracterizados. O chefe de Will, Steven Jacobs (David Oyelowo), é retratado de forma maniqueísta, como um executivo que só busca o lucro a qualquer custo, um típico vilão cartunesco que só faltava gargalhar ao fim de suas falas crueis. Já Brian Cox não compromete tanto, apesar de seu personagem também ser caricatural, enquanto que Tom Felton repete seu Draco Malfoy, correndo o risco de ficar marcado por esse tipo de papel. E o que dizer de Freida Pinto, claramente um desperdício de celulose, já que sua personagem não possui a menor justificativa para existir na trama a não ser o de haver ao menos uma presença feminina no filme.

O fato é que Planeta dos Macacos: A Origem só funciona por causa de seus protagonistas símios. É emocionante vermos a evolução de Cesar como líder e a forma como ele conquista a confiança dos outros animais. O confronto durante o clímax é tenso e muito bem dirigido por Rupert Wyatt, que não compromete na maior parte do longa. O triste é constatar que os roteiristas acreditam que a única forma de fazer com que "torçamos" contra a raça humana é retratar a maioria de seus membros como criaturas unidimensionais. Um artifício pobre que já havia sido usado recentemente em Distrito 9, filme com temática parecida, e que volta a aparecer aqui. Claramente uma afronta à inteligência de seu público.

Aquém do clássico de 1968, Planeta dos Macacos: A Origem agrada graças às criaturas digitais criadas por Serkis e pela WETA, servindo como uma boa introdução à série. E pela característica demonstrada pelos humanos no longa não é difícil imaginá-los se transformando nos seres mudos e estúpidos vistos na obra original.

Rise of the Planet of the Apes (EUA, 2011). Dirigido por Rupert Wyatt. Com Andy Serkis, James Franco, John Lithgow, Freida Pinto, David Oyelowo, Brian Cox, Tom Felton, Tyler Labine e Jamie Harris. 

 

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