sábado, 31 de dezembro de 2011

Os melhores de 2011 - parte 2

Assisti a 204 filmes em 2011, 89 lançados nos cinemas este ano. Foi um recorde pessoal, mas ainda abaixo do que eu pretendia (monografia da faculdade atrapalhou bastante). A seguir, os derradeiros melhores do ano:

10. Tio Boonmee, que Pode Recordar Suas Vidas Passadas, de Apichatpong Weerasethakul

O filme mais estranho e singular do ano, vale pela linda fotografia, pelo estilo único e a simplicidade de um cinema diferente, mas nem por isso menos belo.



9. Melancolia, de Lars Von Trier

Von Trier não precisa de polêmicas para se promover e Melancolia prova isso. Uma profunda história sobre a depressão, os rigores sociais e a fuga. Nunca o fim do mundo foi tão belo.


8. A Pele que Habito, de Pedro Almodóvar

A velha discussão almodovariana sobre identidade e sexualidade numa hitória de vingança surpreendente.



7. Rango, de Gore Verbinski

O maior espetáculo visual de 2011 veio de um diretor e de um estúdio que nunca haviam trabalhado com animações antes. E deixou a Pixar no chinelo.


6. X-men: Primeira Classe, de Matthew Vaughn

Mais um belo filme da franquia X-men, mais uma vez centrado na força de seus personagens, sem deixar de lado suas origens dos quadrinhos. Ah, se todo filme de super-heróis fossem assim...


5. Bravura Indômita, de Joel e Ethan Coen

Os Coen mais uma vez mostram que estão em uma fase incrível (que dura desde Onde os Fracos Não Têm Vez) e recriam um clássico muito superior ao original.


4. Cisne Negro, de Darren Aronofsky

Belo e assustador ao mesmo tempo, é um trabalho completo de Aronofsky, que casa perfeitamente com sua outra obra-prima O Lutador.


3. Cópia Fiel, de Abbas Kiarostami

Complexo e enigmático, é um exercício cinematográfico pouco usual sobre a natureza da arte e os arquétipos sociais.


2. Homens e Deuses, de Xavier Beauvois

A relação entre um grupo de pessoas e seus deuses de forma humanista e sóbria. Demonstração de como, acima da religião, somos todos humanos.


1. A Árvore da Vida, de Terrence Malick

Um espetáculo visual e sonoro, capaz de fazer refletir como poucos. A maior experiência cinematográfica do ano.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Os melhores de 2011 - parte 1

Dando uma conferida na minha lista de 2010, cheguei à conclusão que 2011 foi um ano menos regular, com poucos filmes realmente inesquecíveis. Tivemos sim algumas surpresas (as comédias Passe Livre e Missão Madrinha de Casamento, por exemplo), mas muitos filmes medianos entre os 89 filmes lançados no cinema este ano nos cinemas que pude assistir. Como restringi a lista aos lançamentos nacionais, alguns que já vi que certamente entrariam (como Drive e A Separação - que ficarão pro ano que vem - e Reino Animal - que não entrou em circuito no Brasil) ficaram de fora. Como destaques que acabaram não entrando entre os vinte melhores, posso citar Planeta dos Macacos - A Origem, Super 8, O Palhaço e O Garoto de Bicicleta.

A seguir, a primeira parte dos vinte melhores filmes do ano:


20. Tudo Pelo Poder, de George Clooney

Excelente retrato de uma campanha política, provocando reflexões sobre ética e ideologia. Um conto sobre a perda da inocência. Uma das ótimas atuações de Ryan Gosling no ano.



19. Missão Madrinha de Casamento, de Paul Feig

Uma das surpressas do ano. Comédia produzida por Judd Apatow, uma versão feminina de O Virgem de 40 Anos e Superbad. Melissa McCarthy rouba a cena nessa história sobre amizades femininas.


18. Trabalho Interno, de Charles Ferguson

Documentário vencedor do Oscar obrigatório sobre a crise financeira de 2008, com informações claras (mesmo que complexas) e entrevistas esclarecedoras. Entra na lista pela importância e relevância.


17. Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2, de David Yates

Final em grande estilo para a saga (essa faz jus à expressão) que, apesar de inferior ao filme anterior, cumpre muito bem o seu papel.



16. Namorados para Sempre, de Derek Cianfrance

Um romance denso e melancólico pessimamente distribuído no Brasil (além do título estúpido, foi lançado no dia dos namorados). Apesar disso, conta com um casal principal espetacular, formado por Michelle Williams e Ryan Gosling (de novo!) e faz refletir sobre a natureza dos relacionamentos.



15. Poesia, de Lee Chang-Dong

Um filme sensível sobre a vida, a doença e a capacidade de enxergar o belo mesmo em uma realidade cruel. É a jóia coreana do ano.



14. Meia Noite em Paris, de Woody Allen

Allen voltando a realizar um grande filme, com referências culturais, fantasia e situações hilárias. Não fica devendo em nada a um Hemingway, um Fitzgerald, um Picasso ou um Dali.




13. O Vencedor, de David O. Russell

Um drama familiar leve, profundo e muito bem atuado. Um dos injustiçados do Oscar 2011.




12. Um Lugar Qualquer, de Sofia Coppola

Coppola atinge a maturidade e dá uma bela cutucada na indústria cinematografica, no star system e na imprensa do oba-oba.



 11. Margin Call - O Dia Antes do Fim, de J. C. Chandler

Uma espécie de versão ficcional do documentário Trabalho Interno, com elenco afiado e ótimo roteiro. O melhor "filme de estreante" do ano.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Os piores de 2011

Final de ano, hora das listas. 2011 foi um ano bem mediano para o cinema. Poucos filmes realmente inesquecíveis, muitos medícres e algumas porcarias de sempre. Comecemos então pelos últimos. Entre os piores do ano, muitos blockbusters, o que demonstra que os últimos 12 meses não foram felizes para Hollywood em termos de qualidade (apesar de alguns dos piores de 2011 terem tido ótimas bilheterias). Apesar de estarem incluídos na lista apenas 10 filmes, é justo lembrar de alguns longas que decepcionaram bastante. 2011 não foi bom para os super-heróis: tanto os superestimados Thor e Capitão América: O Primeiro Vingador, quanto o bobo (mas não tão ruim quanto dizem) Lanterna Verde ficaram no limbo da medicridade. Quem também não se deu bem foi a Pixar: Carros 2 não só é o pior do estúdio como pode ser considerado a maior decepção do ano.

Mas vamos então aos piores filmes de 2011 (em ordem decrescente de ruindade):


10. Sucker Punch - Mundo Surreal, de Zach Snyder

Snyder precisa urgentemente ir a um terapeuta. Um filme que parece ter sido feito para colocar em prática o sonho molhado de todo pré-adolescente espinhento e virgem: meninas de mini-saia com metralhadoras. Mas nem o mais fanático dos fãs do diretor de Watchmen e 300 consegue suportar essa tortura sem pé nem cabeça.


9. Padre, de Scott Stewart

Filme de ação genérico que chama atenção pela péssima direção, roteiro furado, clichês abundantes e atuações ridículas.


8. Conan – O Bárbaro, de Marcus Nispel

Faz o longa de John Milius realizado em 1982 parecer um Cidadão Kane simério. Jason Momoa é até mais expressivo que Schwarzenegger, mas é desperdiçado numa trama boba dirigida por um incompetente.


7. Uma Manhã Gloriosa, de Roger Michell

Comediazinha romântica genérica que passaria despercebida se não fosse sua 'mensagem' final, que glorifica a estupidez e chama todos seus espectadores de imbecis.


6. Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles, de Jonathan Liebesman

Uma ode ao poderio militar norte-americano, repleto de estereótipos, glorificações à guerra e ao suposto 'heroísmo' militar. Um filme ruim até como propaganda do exército.


5. O Turista, de Florian Henckel von Donnersmarck

Uma confusão pessimamente escrita e horrorosamente dirigida pelo mesmo cara que fez o ótimo A Vida dos Outros. Demonstração de como Hollywood é capaz sugar o talento de gente promissora e cuspir qualquer porcaria.


4. A Garota da Capa Vermelha, de Catherine Hardwicke

Adaptação do conto infantil com romances de dar sono, atuações canhestras e reviravoltas bobas, além do óbvio subtexto machista. Tudo para agradar a geração Crepúsculo.


3. A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 1, de Bill Condon

Quem disse que não podia piorar? Panfleto misógino que prega que à mulher só cabe o sofrimento calado perante a sociedade. Não só um filme ruim, mas uma obra que só poderia ser aceita como 'normal' numa época anterior ao século XIX.


2. Cilada.com, de José Alvarenga Jr.

Série de esquetes televisivos sem graça, realizado por gente sem o mínimo talento para a coisa.


1. Transformers: O Lado Oculto da Lua, de Michael Bay

Michael Bay é igual à "saga" Crepúsculo: sempre se supera. Bobagem sem nexo e sem sentido, direção ridícula, diálogos estúpidos, machismo escancarado. É o padrão Bay de qualidade.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Histórias Cruzadas


Nota: 4/10

Um dos períodos mais vergonhosos da história americana se deu durante parte dos séculos XIX e XX quando, mesmo abolida a escravidão, os negros eram tratados como pessoas de segunda linha, sendo distinguidos dos brancos até mesmo nas leis e nos direitos civis. Histórias Cruzadas, segundo longa do diretor/roteirista Tate Taylor, aborda parte deste período, passando-se no início dos anos 1960, em uma cidade do Mississipi, então um dos estados mais racistas dos Estados Unidos. Centrado em personagens femininas (os homens são meros figurantes na história), o filme acompanha três famílias brancas e suas respectivas empregadas negras. A protagonista é Eugênia Skeeter (Emma Stone), uma jovem que, ao contrário de suas contemporâneas, sonha em ser jornalista e escritora ao invés de apenas se casar e ter filhos, como era o destino das mulheres à época. Contratada por uma grande editora, seu principal – e ousado – projeto é organizar um livro contendo depoimentos daquelas mulheres negras, ouvindo suas histórias e confissões, além de relatar os casos explícitos de racismo e humilhações que sofriam.

A premissa interessante, potencialmente dramática por ter como temas principais o racismo e a emancipação feminina, acaba desperdiçada pela mão pesada de Taylor, que resolve apostar no melodrama e no maniqueísmo ao invés de desenvolver suas personagens. Esses problemas ficam claros principalmente na caracterização do "núcleo" branco do longa, repleto de personagens rasas e estereotipadas. A principal delas é a Hilly Holbrook de Bryce Dallas Howard, retratada como uma vilã cartunesca que só faltava soltar uma risada cruel a cada maldade cometida. Mesmo os personagens que demonstram maior compaixão com os negros são mostrados como caricaturas, desde a protagonista "moderninha" de Emma Stone, até a perua fútil e estúpida interpretada por Jessica Chastain. Chastain, aliás, que entregou uma atuação sutil e eficiente em A Árvore da Vida, aqui aparece constrangedora, sendo inacreditável que seu nome esteja cotado ao Oscar de coadjuvante por este papel.



O contrário pode ser sido sobre Viola Davis e Octavia Spencer. Interpretando as principais personagens negras, as duas criam as figuras mais complexos do longa, demonstrando o sofrimento por que passam sem apelar para atuações caricatas e superficiais, fazendo o possível dentro do limitado texto de Taylor. Diferentes na forma como encaram o racismo e as humilhações que sofrem – Aibileen (Davis) é mais introspectiva e não demonstra seu sofrimento, enquanto que Minny (Spencer) se revolta mais facilmente –, elas conseguem transformar o longa em algo assistível toda vez que estão em cena. Davis, narradora da história, acaba sendo o maior trunfo do filme, retratando de forma sutil o carinho e o desespero de sua personagem. Já Spencer, por outro lado, serve mais como alívio cômico, o que mostra o quanto o roteiro e direção são equivocados (afinal, além de sofrer com o preconceito de suas patroas, ela ainda apanha do marido). Ainda assim, a atriz consegue ter uma ótima atuação, destacando-se sempre que se encontra em cena. 

É exatamente aí que mora o maior erro de Taylor: ele não percebe a história potencial que tem em mãos, focando mais nas irritantes personagens brancas, que são o centro do filme. Mesmo narrado por uma das empregadas, a verdadeira protagonista é a insossa personagem de Stone, sendo sempre perdido um tempo enorme com questões irrelevantes como o compromisso amoroso dela com Stuart (Chris Lowell) ou seus problemas com a mãe. Isso faz com que aquelas que o filme advoga que deveriam ter mais voz (os negros) acabam relegados ao segundo plano numa história que retrata mais as idiossincrasias dos costumes brancos daquela época do que a conquista da igualdade racial. Além disso, como se a própria existência do racismo não fosse suficiente para indignar seus expectadores, o diretor/roteirista força a barra, apelando para crianças chorando, diálogos forçados (como a empregada que pede dinheiro emprestado a Hilly) e personagens unidimensionais. 

Mesmo com aspectos técnicos muito bem feitos, em especial os figurinos, a direção de arte e a fotografia – com um ligeiro tom sépia –, Histórias Cruzadas acaba sendo uma historinha infantilizada e melodramática sobre um problema sério. E se Taylor mostra-se incompetente até ao escolher uma música de Bob Dylan, famoso pelas canções sobre direitos civis (ele opta por Don't Think Twice, It's All Right, sobre o fim de um relacionamento), ainda assim deve levar às lágrimas muitos espectadores, o que explica o sucesso comercial do filme lá fora. É exatamente essa aposta no melodrama artificial, mais do que suas qualidades, que o transformam em um candidato forte ao Oscar. Resumindo: Histórias Cruzadas tem tudo para ser o Um Sonho Possível de 2012. 

The Help (EUA, 2011). Dirigido por Tate Taylor. Com Emma Stone, Viola Davis, Bryce Dallas Howard, Octavia Spencer, Jessica Chastain, Ahna O'Reilly, Allison Janney, Sissy Spacek, Chris Lowell, Anna Camp, Cicely Tyson e Mike Vogel.