quarta-feira, 8 de junho de 2011

X-men: Primeira Classe

No início da última década, X-men inaugurou uma nova era de adaptações dos quadrinhos para o cinema. Seu sucesso propiciou obras como Homem-Aranha e O Cavaleiro das Trevas, culminando com a entrada da própria Marvel no ramo dos estúdios de cinema. O filme de Bryan Singer marcava o desejo de muitos nerds que sempre sonharam em ver seus personagens favoritos transpostos para a tela grande de forma digna, ao mesmo tempo que mostrava a Hollywood que os heróis poderiam se transformar em uma garantia de lucros exorbitantes.

O fato é que a trilogia original, apesar de tratar de um mundo fantástico povoado por mutantes superpoderosos, tinha um pé fincado fortemente no realismo. Nada de roupas coloridas ou vilões megalomaníacos: haviam motivações claras de todos os lados e uma discussão pertinente sobre aceitação, preconceito e intolerância.

Primeira Classe retoma essa temática depois dos fracassos de X-men: O Confronto Final e X-men origens: Wolverine, mas esteticamente as mudanças são profundas. Some a sobriedade e o realismo dos longas iniciais, aparecendo aqui características marcantes dos quadrinhos. É como se, hoje, o público já estivesse familiarizado com esse universo. E a escolha de Matthew Vaughn para a direção mostra-se mais do que acertada.

Vaughn, que quase dirigiu O Confronto Final, já havia demonstrado em Kick Ass - Quebrando Tudo que tem talento para homenagear a nona arte na telona. Percebe-se essa reverência não apenas na caracterização dos personagens, mas também nas escolhas estéticas do filme. Seja no posicionamento da câmera (o rosto de um personagem refletindo em uma barra de ouro durante um diálogo), a decupagem (a revelação do 'arsenal' de Sebastian Shaw enquanto conversa com o jovem Magneto) ou até mesmo os travellings (quando a câmera se afasta para um plano geral e mostra Emma Frost em uma geleira), é como se estivessemos lendo uma história em quadrinhos bem ali, dentro do cinema. Só que o talento de Vaughn é grande o bastante para não deixar que essa experiência deixe de ser cinematográfica (coisa que Zack Snyder falhou tremendamente no chatíssimo 300).


Mas não é só a direção de Vaughn que transforma Primeira Classe no segundo melhor longa da fanquia (X2 ainda é imbatível). Para ajudar nesse recomeço, nada melhor como ambientar a história nos anos 60, começo da Era de Prata dos quadrinhos e época do surgimento dos heróis mais famosos da Marvel. Esse é apenas um dos acertos do ótimo roteiro co-escrito por Vaughn junto a Ashley Miller, Zack Stentz e Jane Goldman. A presença de Singer na produção também ajuda: ninguém como ele para ensinar que, para se fazer um bom filme de super-heróis, não basta apenas investir na ação, mas também na profundidade de seus personagens.

Todos os diálogos entre Charles Xavier e Erik Lehnsherr (vulgo Magneto) já estão entre os momentos mais memoráveis do ano. A doçura e confiança de James McAvoy junto à convicção e à energia de Michael Fassbender se complementam em cena. Os dois atores criam personagens cativantes que carregam o filme nas costas. Mas não estão sozinhos. Unem-se a eles os ótimos jovens Jennifer Lawrence e Nicholas Hoult, como Mística e Fera, dois dos mutantes que mais contribuem para a temática "séria" do filme. E claro, há também Kevin Bacon como o maquiavélico Sebastian Shaw, um vilão que saiu diretamente das páginas clássicas para o cinema. Ao mesmo tempo em que traz personagens bem construídos e uma história coesa, Primeira Classe abraça os exageros, não negando suas origens.

De certa forma, X-men: Primeira Classe é apenas mais uma obra que mostra que as histórias de super-heróis podem, sim, ser feitas para adultos, com maturidade e complexidade. Sem fugir, claro, da estética característica do entretenimento puro. Afinal, há mais de meio século, as histórias em quadrinhos deixaram de ser "coisa de criança".

X-men: First Class (EUA, 2011). Dirigido por Matthew Vaughn. Com James McAvoy, Michael Fassbender, Kevin Bacon, Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult, Rose Byrne, January Jones, Caleb Landry Jones, Lucas Till, Zoë Kravitz, Álex González, Jason Fleming, Edi Gathegi e Oliver Platt.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Notícias da semana

- Inicio essa nova seção do blog, que deve ser semanal, com o resultado do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, entregue ontem no Rio de Janeiro. Como esperado, foi uma lavada de Tropa de Elite 2, com oito prêmios, entre eles o de filme, longa de ficção pelo voto popular, diretor (José Padilha), ator (Wagner Moura) e roteiro. O troféu de melhor atriz foi para Glória Pires, a única coisa acima da média em Lula, o Filho do Brasil. É bacana a ideia de transformar o prêmio em um 'Oscar brasileiro', mas a cerimônia podia ser mais organizada e atrativa para o público. E ver filmes como De Pernas pro Ar e O Bem Amado concorrendo é bastante constrangedor. Todos os premiados podem ser conferidos aqui.

- O Renato Silveira publicou uma lista com os filmes exibidos no Festival de Cannes já adquiridos pelas distribuidoras nacionais. Ele promete atualizá-la conforme forem saindo as datas, mas algumas estreias já foram confirmadas. A primeira é simplesmente do vencedor da Palma de Ouro, A Árvore da Vida, marcada para o próximo dia 23. Se por um lado é bom não esperar tanto para assistir à aguardadíssima obra de Terrence Malick, por outro é preciso constatar um problema sério da distribuição de filmes no país: a falta de sala. A Árvore da Vida estreia numa época complicada e vai ter que concorrer com filmes como X-men: Primeira Classe, Carros 2 e Kung Fu Panda 2 - além de Transformers 3 e Capitão América, que estrearão nas semanas seguintes. Não há dúvidas de que, com tantos arrasa-quarteirões na área, o vencedor de Cannes será relegado ao segundo plano pelos exibidores.

- Na última semana começaram as campanhas de divulgação de filmes esperados para o final do ano. O destaque fica por conta do novo de David Fincher (A Rede Social), Os Homens que Não Amavam as Mulheres (confira abaixo). A peça dá o tom do que será o filme e já é melhor do que a fraca versão sueca digirida por Niels Arden Oplev. Outro que também começou sua divulgação foi The Descendents, novo trabalho de Alexander Payne (Sideways), que traz George Clooney como protagonista. Os dois longas são cotados para estar entre os indicados ao Oscar do ano que vem.



- Falando em Oscar 2012, o blog The Filme Experience atualizou suas apostas para os possíveis indicados ao prêmio. Entre as novidades, estão as indicações de Kirsten Dunst a melhor atriz por Melancolia e de Woody Allen a melhor roteiro por Meia-Noite em Paris (seria a 15ª indicação dele nesta categoria). Tudo influência de Cannes.

- Mais um brasileiro confirmado em Elysium, segundo trabalho de Neil Blomkamp (Distrito 9). Depois de Wagner Moura, é Alice Braga que entra para o elenco, que tem como protagonistas Matt Damon e Jodie Foster.

- Para finalizar, uma obviedade: Se Beber, Não Case 3 vai ser produzido e já contratou roteirista. A segunda parte da franquia bateu recordes de bilheteria em seu fim de semana de estreia e lá vem mais uma continuação caça-níqueis desnecessária.