quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Desenrola

É difícil assistir a Desenrola e não se lembrar de As melhores coisas do mundo, lançado ano passado. Assim como aquele filme, o longa da diretora Rosane Svartmann retrata a juventude da classe média brasileira, com suas dúvidas e dilemas. A única diferença é geográfica: ao invés de São Paulo, a história aqui se passa no Rio de Janeiro. Só que ao contrário da obra de Laís Bodanski, mais sensível e profunda, Desenrola acaba apostando mais na comédia e nos clichês, o que torna a comparação entre os dois filmes possível de ser feita apenas pela superfície.

O filme conta a história de Priscila (Olivia Torres), que realiza o sonho de todo adolescente e fica 20 dias sozinha em casa depois que a mãe parte em uma viagem a trabalho. Nesse tempo, a menina aproveita para tentar conquistar o coração de Rafa (Kayky Brito) e conquistar o que parece ser o objetivo da vida da personagem (e de praticamente todos os jovens do longa): perder a virgindade. Durante esse processo somos apresentados a outros personagens que também passam por essa dilema, numa mistura de Malhação com American Pie.

Aqui temos a grande diferença entre os filmes de Bodanski e Svartmann: As melhores coisas do mundo também falava sobre as paixões da adolescência e das primeiras relações sexuais, mas não se resumia a isso; retratava acima de tudo as dúvidas e incertezas por quais passamos nessa fase da vida, desde as relações conflituosas com os pais até questões como assumir responsabilidades e tornar-se adulto. Já Desenrola abandona qualquer pretenção e é apenas uma comédia sobre adolescentes, com alguns momentos inspirados e outros nem tanto. O filme até tenta abordar temas mais complicados, como gravidez precoce e a descoberta da homossexualidade, mas eles são relegados ao segundo plano, recebendo um tratamento bastante superficial.

E como explicar a escalação de Pedro Bial (que desistiu definitivamente de ser jornalista e aqui se assume de vez como celebridade - mesmo ainda estando longe de ser considerado "ator")? A "inpretação" do apresentador nos joga completamente para fora do filme, nos dando a impressão de que estamos assistindo ao Big Brother na TV e não dentro de uma sala cinema. Outro que parece estar lá só pela fama é Kayky Brito, surgindo canastrão mesmo ao interpretar um personagem que é apenas músculos.

Apesar desses problemas, o elenco formado pelos jovens atores vai muito bem. As interpretações são seguras, realistas e sinceras. Destaque para a protagonista Olivia Torres e principalmente para os garotos Lucas Salles (Boca), Daniel Passi (Caco) e Vitor Thiré (Amaral). Todos aparecem muito naturais nos papéis, tanto nas cenas de humor quanto nas mais intimistas. São a alma da obra e por isso Desenrola acaba se tornando um filme verdadeiro acima de tudo, aproximando-o de seu público-alvo: os adolescentes.

Uma pena, portanto, que ele não consiga fascinar os espectadores mais maduros e nos fazer lembrar com nostalgia de quando todos éramos jovens e inseguros.

Desenrola (2011). Dirigido por Rosane Svartmann. Com Olivia Torres, Lucas Salles, Daniel Passi, Vitor Thiré, Kayky Brito, Marcela Barroso, Juliana Paiva, Claudia Ohana, Marcello Novaes, Letícia Spiller e Pedro Bial.

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