quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Tron - O Legado

Vamos admitir: tirando alguns fanáticos por ficção científica, são poucos os que lembrariam hoje de Tron - Uma Odisseia Eletrônica. Filmado em 1982, o filme foi o primeiro a utilizar efeitos digitais em larga escala, mas seu roteiro confuso tornou o longa um tanto enfadonho. Hoje valeria apenas como curiosidade histórica, não ficando entre as obras mais memoráveis dos anos 80.

É curioso, portanto, que Hollywood tenha resolvido resgatar a história quase 30 anos depois. Trazendo como protagonista o jovem Sam Flynn (o insosso Garrett Hedlund), filho de Kevin Flynn (interpretado pelo mesmo Jeff Bridges do filme de 82), Tron - O Legado traz as ideias do original para o século XXI. Se naquela época Bill Gates mal havia criado a Microsoft e os conceitos de internet e interatividade estavam restritos apenas ao meio universitário, tornou-se inevitável adptar a história para abranger essa nova realidade. Ainda assim, podemos perceber uma certa igenuidade - também presente no primeiro longa - na maneira como a tecnologia e o mundo virtual são tratados. É como se o ciberespaço ainda fosse uma novidade inexplorada, não tendo havido nenhuma mudança nos últimos 28 anos na mentalidade de seus usuários.

Os roteiristas Edward Kitsis e Adam Horowitz não se preocupam muito em desenvolver e explicar a mitologia da série aos novos espectadores, o que é frustrante. Isso evidencia uma certa arrogância dos realizadores, que talvez imaginem o original como uma obra de relevância maior do que ela realmente tem, não havendo nenhuma introdução àquela realidade. É como se Kevin Flynn, a Grade e Tron fossem ícones de uma geração como Darth Vader, Spock ou os replicantes.

Assim como o longa de 82, Tron - O Legado aposta fortemente no visual e isso talvez seja seu único trunfo. Resgatando algumas marcas do original, como o design dos veículos e das roupas dos personagens, a fotografia nos mergulha num mundo sombrio, cujas unicas luzes são aquelas que representam os lados opostos na batalha (o azul dos mocinhos e o vermelho dos antagonistas). Vale como exercício assistir aos dois filmes e acompanhar como evoluiram os efeitos visuais criados por computador em 30 anos. Mesmo com tanto avanço, incomoda bastante a versão jovem de Jeff Bridges que, criada digitalmente, demonstra uma artificialidade que mais parece de um boneco de cera do que de um ser humano. 

Bridges, como era de se imaginar, acaba criando o personagem mais interessante do filme, mesmo com as limitações impostas pelo roteiro. Comparações com o "Dude" de O Grande Lebowski foram feitas e são pertinentes - apesar do ator desta vez não ter uma atuação tão memorável. Quem acaba roubando a cena nos poucos momentos em que aparece é Michal Sheen, que interpreta uma espécie de Ziggy Stardust do mundo digital.

Mas a maior decepção com relação ao filme fica por conta do mal uso do 3D. Há até a tentativa do diretor Joseph Kosinski em criar uma espécie de "efeito O Mágico de Oz" ao empregar o 3D apenas nas cenas passadas dentro da Grade. Só que o próprio cineasta acaba se boicotando, ao gravar o filme com profundidade de campo baixa na maioria de suas cenas e mudando constantemente o foco da imagem. Ora, se o longa aposta na visão tridimensional porque usar técnicas típicas da linguagem em duas dimensões? Há que se considerar os fatores econômicos (o filme precisa ser vendido também em 2D, principalmente as cópias em DVD e Bluray, já que a maioria dos lares ainda não possuem tal tecnologia), mas fica claro que há sérias limitações na linguagem.

Apesar da ótima trilha sonora da dupla Daft Punk, Tron - O Legado fica abaixo até mesmo do original, que já não era grande coisa. Em breve será relegado ao esquecimento, não servindo nem como curiosidade histórica para os fãs de ficção científica e tecnologia.

Tron: Legacy (2010) - Dirigido por Joseph Kosinski; Com Garrett Hedlund, Jeff Bridges, Olivia Wilde, Michael Sheen, James Frain e Beau Garrett.

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