sábado, 5 de fevereiro de 2011

O Vencedor

O boxe sempre rendeu boas histórias. Surgindo quase como um subgênero do cinema norte-americano, os filmes sobre esse esporte serviram como metáforas para diferentes períodos da história daquele país, além de representarem o que os aquilo que os estadunidenses mais prezam: contos de perserverança e superação. Alguns personagens se tornaram clássicos, como o Rocky de Sylvester Stallone ou o Jake LaMotta de Robert DeNiro, em Touro Indomável. O Vencedor, apesar de menor e menos pretensioso, certamente entrará no rol dos grandes filmes sobre o esporte.

O filme conta a história real de Micky Ward (Mark Wahlberg), um boxista ligeiramente talentoso, mas péssimo nas escolhas profissionais. Ele é treinado pelo irmão Dicky Eklund (Christian Bale), um ex-esportista que tem como a única glória ter derrotado um peso-pesado dos anos 80 no auge da carreira. Hoje, além de empresariar o irmão junto com a mãe (Melissa Leo), Eklund é um viciado em crack com delírios de grandeza. Assessorado pela família, Ward acaba sempre seguindo os conselhos trágicos de seus parentes, o que acaba levando sempre ao fracasso. Ele só começa a tomar consciência dessa situação depois que conhece Charlene Fleming (Amy Adams), uma garçonete independente que logo chama a atenção de Ward.


O filme é dirigido por David O. Russell, que andava sumido desde 2004, quando realizou Huckabees - A Vida é uma comédia. Ele não faz grandes invenções, dirigindo o filme com segurança e com estilo realista e cru, demonstrado pela fotografia e direção de arte. E deixa para seus atores a responsabilidade de carregar o filme. Coisa que eles fazem muito bem. Como mostra a sinopse - e as indicações ao Oscar - O Vencedor é basicamente um filme sobre seus personagens. Mark Wahlberg cria um Micky Ward simples, em alguns momentos tímido, que leva muito a sério o que faz. Contrasta com as duas mulheres fortes que o envolvem: e nesse ponto tanto Melissa Leo quanto Amy Adams dão um show. A primeira é uma madame que usa o filho para se sustentar, apesar de demonstrar amor pelos filhos de um jeito não usual; já Adams foge do papel tradicional que interpreta - a mocinha frágil e indefesa - transformando sua Charlene em uma personagem forte que faz com que Ward saia da inércia, mesmo tendo que enfrentar sua complicada família.

Mas quem rouba todas as cenas em que aparece é mesmo Chistian Bale. Com manias de grandeza, Eklund é um personagem trágico que não percebe a própria decadência. Convencido de que a equipe de TV que o acompanha faz um documentário sobre sua lendária vitória sobre Sugar Ray Leonard -  na verdade, realizam um programa sobre o vício de crack - ele tenta manter uma aparência saudável, escondendo dos outros e de si mesmo os seus problemas. Ainda assim, sua intenção de ajudar o irmão é notável, mesmo que seu comportamento e alguns de seus conselhos sejam desastrosos para Ward. Bale, que emagreceu quilos para interpretar o personagem (coisa, aliás, que já havia feito em O Sobrevivente, de Werner Herzog) certamente receberá um dos Oscars mais merecidos deste ano.

Pecando apenas pela mudança súbita no final, que não parece natural e faz com que os personagens percam um pouco da força, O Vencedor é mais um grande filme sobre boxe, mesmo se concentrando mais nas relações humanas do que na modalidade em si. Mas o que é o esporte senão o reflexo da própria convivência humana?

The Fighter (2010). Dirigido por David O. Russell. Com Mark Wahlberg, Christian Bale, Amy Adams, Melissa Leo, Jack McGee, Melissa McMeekin, Bianca Hunter, Erica McDermott, Dendrie Taylor, Jenna Lamia e Frank Renzulli.

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