sábado, 31 de dezembro de 2011

Os melhores de 2011 - parte 2

Assisti a 204 filmes em 2011, 89 lançados nos cinemas este ano. Foi um recorde pessoal, mas ainda abaixo do que eu pretendia (monografia da faculdade atrapalhou bastante). A seguir, os derradeiros melhores do ano:

10. Tio Boonmee, que Pode Recordar Suas Vidas Passadas, de Apichatpong Weerasethakul

O filme mais estranho e singular do ano, vale pela linda fotografia, pelo estilo único e a simplicidade de um cinema diferente, mas nem por isso menos belo.



9. Melancolia, de Lars Von Trier

Von Trier não precisa de polêmicas para se promover e Melancolia prova isso. Uma profunda história sobre a depressão, os rigores sociais e a fuga. Nunca o fim do mundo foi tão belo.


8. A Pele que Habito, de Pedro Almodóvar

A velha discussão almodovariana sobre identidade e sexualidade numa hitória de vingança surpreendente.



7. Rango, de Gore Verbinski

O maior espetáculo visual de 2011 veio de um diretor e de um estúdio que nunca haviam trabalhado com animações antes. E deixou a Pixar no chinelo.


6. X-men: Primeira Classe, de Matthew Vaughn

Mais um belo filme da franquia X-men, mais uma vez centrado na força de seus personagens, sem deixar de lado suas origens dos quadrinhos. Ah, se todo filme de super-heróis fossem assim...


5. Bravura Indômita, de Joel e Ethan Coen

Os Coen mais uma vez mostram que estão em uma fase incrível (que dura desde Onde os Fracos Não Têm Vez) e recriam um clássico muito superior ao original.


4. Cisne Negro, de Darren Aronofsky

Belo e assustador ao mesmo tempo, é um trabalho completo de Aronofsky, que casa perfeitamente com sua outra obra-prima O Lutador.


3. Cópia Fiel, de Abbas Kiarostami

Complexo e enigmático, é um exercício cinematográfico pouco usual sobre a natureza da arte e os arquétipos sociais.


2. Homens e Deuses, de Xavier Beauvois

A relação entre um grupo de pessoas e seus deuses de forma humanista e sóbria. Demonstração de como, acima da religião, somos todos humanos.


1. A Árvore da Vida, de Terrence Malick

Um espetáculo visual e sonoro, capaz de fazer refletir como poucos. A maior experiência cinematográfica do ano.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Os melhores de 2011 - parte 1

Dando uma conferida na minha lista de 2010, cheguei à conclusão que 2011 foi um ano menos regular, com poucos filmes realmente inesquecíveis. Tivemos sim algumas surpresas (as comédias Passe Livre e Missão Madrinha de Casamento, por exemplo), mas muitos filmes medianos entre os 89 filmes lançados no cinema este ano nos cinemas que pude assistir. Como restringi a lista aos lançamentos nacionais, alguns que já vi que certamente entrariam (como Drive e A Separação - que ficarão pro ano que vem - e Reino Animal - que não entrou em circuito no Brasil) ficaram de fora. Como destaques que acabaram não entrando entre os vinte melhores, posso citar Planeta dos Macacos - A Origem, Super 8, O Palhaço e O Garoto de Bicicleta.

A seguir, a primeira parte dos vinte melhores filmes do ano:


20. Tudo Pelo Poder, de George Clooney

Excelente retrato de uma campanha política, provocando reflexões sobre ética e ideologia. Um conto sobre a perda da inocência. Uma das ótimas atuações de Ryan Gosling no ano.



19. Missão Madrinha de Casamento, de Paul Feig

Uma das surpressas do ano. Comédia produzida por Judd Apatow, uma versão feminina de O Virgem de 40 Anos e Superbad. Melissa McCarthy rouba a cena nessa história sobre amizades femininas.


18. Trabalho Interno, de Charles Ferguson

Documentário vencedor do Oscar obrigatório sobre a crise financeira de 2008, com informações claras (mesmo que complexas) e entrevistas esclarecedoras. Entra na lista pela importância e relevância.


17. Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2, de David Yates

Final em grande estilo para a saga (essa faz jus à expressão) que, apesar de inferior ao filme anterior, cumpre muito bem o seu papel.



16. Namorados para Sempre, de Derek Cianfrance

Um romance denso e melancólico pessimamente distribuído no Brasil (além do título estúpido, foi lançado no dia dos namorados). Apesar disso, conta com um casal principal espetacular, formado por Michelle Williams e Ryan Gosling (de novo!) e faz refletir sobre a natureza dos relacionamentos.



15. Poesia, de Lee Chang-Dong

Um filme sensível sobre a vida, a doença e a capacidade de enxergar o belo mesmo em uma realidade cruel. É a jóia coreana do ano.



14. Meia Noite em Paris, de Woody Allen

Allen voltando a realizar um grande filme, com referências culturais, fantasia e situações hilárias. Não fica devendo em nada a um Hemingway, um Fitzgerald, um Picasso ou um Dali.




13. O Vencedor, de David O. Russell

Um drama familiar leve, profundo e muito bem atuado. Um dos injustiçados do Oscar 2011.




12. Um Lugar Qualquer, de Sofia Coppola

Coppola atinge a maturidade e dá uma bela cutucada na indústria cinematografica, no star system e na imprensa do oba-oba.



 11. Margin Call - O Dia Antes do Fim, de J. C. Chandler

Uma espécie de versão ficcional do documentário Trabalho Interno, com elenco afiado e ótimo roteiro. O melhor "filme de estreante" do ano.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Os piores de 2011

Final de ano, hora das listas. 2011 foi um ano bem mediano para o cinema. Poucos filmes realmente inesquecíveis, muitos medícres e algumas porcarias de sempre. Comecemos então pelos últimos. Entre os piores do ano, muitos blockbusters, o que demonstra que os últimos 12 meses não foram felizes para Hollywood em termos de qualidade (apesar de alguns dos piores de 2011 terem tido ótimas bilheterias). Apesar de estarem incluídos na lista apenas 10 filmes, é justo lembrar de alguns longas que decepcionaram bastante. 2011 não foi bom para os super-heróis: tanto os superestimados Thor e Capitão América: O Primeiro Vingador, quanto o bobo (mas não tão ruim quanto dizem) Lanterna Verde ficaram no limbo da medicridade. Quem também não se deu bem foi a Pixar: Carros 2 não só é o pior do estúdio como pode ser considerado a maior decepção do ano.

Mas vamos então aos piores filmes de 2011 (em ordem decrescente de ruindade):


10. Sucker Punch - Mundo Surreal, de Zach Snyder

Snyder precisa urgentemente ir a um terapeuta. Um filme que parece ter sido feito para colocar em prática o sonho molhado de todo pré-adolescente espinhento e virgem: meninas de mini-saia com metralhadoras. Mas nem o mais fanático dos fãs do diretor de Watchmen e 300 consegue suportar essa tortura sem pé nem cabeça.


9. Padre, de Scott Stewart

Filme de ação genérico que chama atenção pela péssima direção, roteiro furado, clichês abundantes e atuações ridículas.


8. Conan – O Bárbaro, de Marcus Nispel

Faz o longa de John Milius realizado em 1982 parecer um Cidadão Kane simério. Jason Momoa é até mais expressivo que Schwarzenegger, mas é desperdiçado numa trama boba dirigida por um incompetente.


7. Uma Manhã Gloriosa, de Roger Michell

Comediazinha romântica genérica que passaria despercebida se não fosse sua 'mensagem' final, que glorifica a estupidez e chama todos seus espectadores de imbecis.


6. Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles, de Jonathan Liebesman

Uma ode ao poderio militar norte-americano, repleto de estereótipos, glorificações à guerra e ao suposto 'heroísmo' militar. Um filme ruim até como propaganda do exército.


5. O Turista, de Florian Henckel von Donnersmarck

Uma confusão pessimamente escrita e horrorosamente dirigida pelo mesmo cara que fez o ótimo A Vida dos Outros. Demonstração de como Hollywood é capaz sugar o talento de gente promissora e cuspir qualquer porcaria.


4. A Garota da Capa Vermelha, de Catherine Hardwicke

Adaptação do conto infantil com romances de dar sono, atuações canhestras e reviravoltas bobas, além do óbvio subtexto machista. Tudo para agradar a geração Crepúsculo.


3. A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 1, de Bill Condon

Quem disse que não podia piorar? Panfleto misógino que prega que à mulher só cabe o sofrimento calado perante a sociedade. Não só um filme ruim, mas uma obra que só poderia ser aceita como 'normal' numa época anterior ao século XIX.


2. Cilada.com, de José Alvarenga Jr.

Série de esquetes televisivos sem graça, realizado por gente sem o mínimo talento para a coisa.


1. Transformers: O Lado Oculto da Lua, de Michael Bay

Michael Bay é igual à "saga" Crepúsculo: sempre se supera. Bobagem sem nexo e sem sentido, direção ridícula, diálogos estúpidos, machismo escancarado. É o padrão Bay de qualidade.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Histórias Cruzadas


Nota: 4/10

Um dos períodos mais vergonhosos da história americana se deu durante parte dos séculos XIX e XX quando, mesmo abolida a escravidão, os negros eram tratados como pessoas de segunda linha, sendo distinguidos dos brancos até mesmo nas leis e nos direitos civis. Histórias Cruzadas, segundo longa do diretor/roteirista Tate Taylor, aborda parte deste período, passando-se no início dos anos 1960, em uma cidade do Mississipi, então um dos estados mais racistas dos Estados Unidos. Centrado em personagens femininas (os homens são meros figurantes na história), o filme acompanha três famílias brancas e suas respectivas empregadas negras. A protagonista é Eugênia Skeeter (Emma Stone), uma jovem que, ao contrário de suas contemporâneas, sonha em ser jornalista e escritora ao invés de apenas se casar e ter filhos, como era o destino das mulheres à época. Contratada por uma grande editora, seu principal – e ousado – projeto é organizar um livro contendo depoimentos daquelas mulheres negras, ouvindo suas histórias e confissões, além de relatar os casos explícitos de racismo e humilhações que sofriam.

A premissa interessante, potencialmente dramática por ter como temas principais o racismo e a emancipação feminina, acaba desperdiçada pela mão pesada de Taylor, que resolve apostar no melodrama e no maniqueísmo ao invés de desenvolver suas personagens. Esses problemas ficam claros principalmente na caracterização do "núcleo" branco do longa, repleto de personagens rasas e estereotipadas. A principal delas é a Hilly Holbrook de Bryce Dallas Howard, retratada como uma vilã cartunesca que só faltava soltar uma risada cruel a cada maldade cometida. Mesmo os personagens que demonstram maior compaixão com os negros são mostrados como caricaturas, desde a protagonista "moderninha" de Emma Stone, até a perua fútil e estúpida interpretada por Jessica Chastain. Chastain, aliás, que entregou uma atuação sutil e eficiente em A Árvore da Vida, aqui aparece constrangedora, sendo inacreditável que seu nome esteja cotado ao Oscar de coadjuvante por este papel.



O contrário pode ser sido sobre Viola Davis e Octavia Spencer. Interpretando as principais personagens negras, as duas criam as figuras mais complexos do longa, demonstrando o sofrimento por que passam sem apelar para atuações caricatas e superficiais, fazendo o possível dentro do limitado texto de Taylor. Diferentes na forma como encaram o racismo e as humilhações que sofrem – Aibileen (Davis) é mais introspectiva e não demonstra seu sofrimento, enquanto que Minny (Spencer) se revolta mais facilmente –, elas conseguem transformar o longa em algo assistível toda vez que estão em cena. Davis, narradora da história, acaba sendo o maior trunfo do filme, retratando de forma sutil o carinho e o desespero de sua personagem. Já Spencer, por outro lado, serve mais como alívio cômico, o que mostra o quanto o roteiro e direção são equivocados (afinal, além de sofrer com o preconceito de suas patroas, ela ainda apanha do marido). Ainda assim, a atriz consegue ter uma ótima atuação, destacando-se sempre que se encontra em cena. 

É exatamente aí que mora o maior erro de Taylor: ele não percebe a história potencial que tem em mãos, focando mais nas irritantes personagens brancas, que são o centro do filme. Mesmo narrado por uma das empregadas, a verdadeira protagonista é a insossa personagem de Stone, sendo sempre perdido um tempo enorme com questões irrelevantes como o compromisso amoroso dela com Stuart (Chris Lowell) ou seus problemas com a mãe. Isso faz com que aquelas que o filme advoga que deveriam ter mais voz (os negros) acabam relegados ao segundo plano numa história que retrata mais as idiossincrasias dos costumes brancos daquela época do que a conquista da igualdade racial. Além disso, como se a própria existência do racismo não fosse suficiente para indignar seus expectadores, o diretor/roteirista força a barra, apelando para crianças chorando, diálogos forçados (como a empregada que pede dinheiro emprestado a Hilly) e personagens unidimensionais. 

Mesmo com aspectos técnicos muito bem feitos, em especial os figurinos, a direção de arte e a fotografia – com um ligeiro tom sépia –, Histórias Cruzadas acaba sendo uma historinha infantilizada e melodramática sobre um problema sério. E se Taylor mostra-se incompetente até ao escolher uma música de Bob Dylan, famoso pelas canções sobre direitos civis (ele opta por Don't Think Twice, It's All Right, sobre o fim de um relacionamento), ainda assim deve levar às lágrimas muitos espectadores, o que explica o sucesso comercial do filme lá fora. É exatamente essa aposta no melodrama artificial, mais do que suas qualidades, que o transformam em um candidato forte ao Oscar. Resumindo: Histórias Cruzadas tem tudo para ser o Um Sonho Possível de 2012. 

The Help (EUA, 2011). Dirigido por Tate Taylor. Com Emma Stone, Viola Davis, Bryce Dallas Howard, Octavia Spencer, Jessica Chastain, Ahna O'Reilly, Allison Janney, Sissy Spacek, Chris Lowell, Anna Camp, Cicely Tyson e Mike Vogel.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Oscar 2012: a corrida vai começar

Em alguns dias começa a temporada de prêmios do cinema norte-americano que culmina com a entrega do Oscar. Mas a corrida começa bem antes. No dia 15 de dezembro saem os indicados ao Globo de Ouro. Ainda durante todo o mês que vem, serão anunciados os premiados pelas várias associações de críticos espalhadas pelos EUA. No início de 2012, é a vez dos sindicatos (de atores, produtores, diretores, etc.) anunciarem seus favoritos. Por fim, os indicados da Academia saem em 24 de janeiro, um mês antes da premiação, que acontecerá no dia 26 de fevereiro.

Com tantas “prévias”, não é a toa que o Oscar tem se tornado, ano após ano, em um evento previsível e sem novidades. Para 2012, a Academia resolveu inovar, mudando as regras para os indicados a melhor filme. Os escolhidos agora podem variar entre um mínimo de cinco e um máximo de dez filmes. Além de terem boa votação entre os mais de seis mil membros da Academia, os longas devem possuir um mínimo de 5% de votos em primeiro lugar. Ou seja: não basta apenas ter um número grande de simpatizantes, o filme agora precisa ser eleito por parte dos votantes como o melhor. Isso acaba gerando um pouco de incerteza quanto aos concorrentes, mas a tendência é que, depois de anunciados os indicados, a previsibilidade seja a mesma.

 The Descendants:nome certo entre os indicados

Em 2010, nessa altura do ano, as coisas já estavam mais ou menos encaminhadas. A impressão – que veio a ser confirmada – era de uma disputa polarizada entre A Rede Social e O Discurso do Rei (até então, o filme de David Fincher era considerado favorito, mas foi aos poucos sendo ultrapassado pelo do rei gago). Minhas Mães e Meu Pai e Inverno da Alma eram os indies da vez, enquanto que A Origem já parecia presença garantida (inclusive a indicação de Christopher Nolan, que acabou não acontecendo). Os nomes de Colin Firth e Natalie Portman (Cisne Negro) já eram considerados favoritos aos prêmios de melhor ator e atriz. Bravura Indômita, O Vencedor e 127 Horas também eram aguardados com ansiedade e tidos como nomes fortes.

Este ano, existem mais dúvidas que certezas. Até agora, apenas dois filmes estão sendo considerados certos entre os indicados: The Descendants, primeiro longa de Alexander Payne desde Sideways, de 2003; e The Artist, do francês Michel Hazanavicious. O problema é que nenhum dos dois tem “cara” de vencedor do Oscar. O filme de Payne desponta como favorito, mas seria independente demais. Já The Artist, além de ser francês (mas com vários americanos no elenco), é um filme mudo passado na década de 1920, início da era de ouro de Hollywood. Pesam a favor de ambos as ótimos críticas que vêm recebendo, além do fato de Payne já ser conhecido (e já ter sido indicado e premiado anteriormente), e do longa de Hazanavicious ser uma homenagem ao cinema clássico norte-americano.

 War Horse: Spielberg na disputa

O favoritismo de filmes pouco usuais para o Oscar também é reflexo da incerteza com relação aos competidores mais tradicionais. J. Edgar, de Clint Eastwood, até um mês atrás cotadíssimo para estar entre os indicados, tem recebido críticas pesadas e suas chances foram consideravelmente diminuídas (é difícil até que seja indicado). Já War Horse, de Steven Spielberg, continua na briga, mas ainda não estreou. O trailer não deixou muita gente animada – na verdade, As Aventuras de Tintin, também dirigido por ele, tem gerado bem mais expectativa.

Dos filmes que estrearam lá fora há mais tempo, podemos destacar dois: Meia-noite em Paris, de Woody Allen e The Help (Histórias Cruzadas, no Brasil), de Tate Taylor. O primeiro é considerado uma volta ao grande estilo do diretor/roteirista (Allen deve receber sua 15ª indicação a melhor roteiro original). Já o segundo, apesar de não ter sido uma unanimidade de crítica, foi um sucesso de público e seu tema (racismo) tem potencial para emocionar muitos membros da Academia. Outro filme cotado é Moneyball (br: O Homem que Mudou o Jogo), que de forma discreta ganhou destaque e já aparece nas listas de possíveis indicados. Enquanto isso, A Árvore da Vida, de Terrence Malick, permanece uma incógnita. O filme é uma obra difícil e não possui a menor característica de "oscarizável", mas pode ser favorecido pelas novas regras, já que seus admiradores costumam colocá-lo entre os melhores do ano. Não seria surpresa vê-lo entre os indicados, apesar disso não ser o mais provável.

Extremely Loud: quarta indicação de Stephen Daldry?

A lista não termina por aí. Extremely Loud and Incredibly Close (br: Tão Forte e Tão Perto), de Stephen Daldry, está presente em todas as listas de possíveis indicados, mas também não estreou. Aliás, uma curiosidade: caso receba a nomeação a melhor diretor, Daldry manterá a escrita de ser indicado por todos os seus filmes (os outros foram Billy Elliot, As Horas e O Leitor). Já A Invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorsese, tem sido muito bem recebido e, apesar de não ser um típico filme de Oscar (é voltado ao público infantil), conta com um nome de peso na direção. Pode ser que repita o feito de Babe, o Porquinho Atrapalhado, indicado a melhor filme em 1996.

Além de todos os citados, alguns outros filmes correm por fora. Tinker, Taylor, Soldier, Spy (br: O Espião que Sabia Demais) foi bem recebido no festival de Veneza e está na briga (só que possui mais chances na categoria de melhor ator). Enquanto isso, We Bought a Zoo, novo de Cameron Crowe, e Os Homens que Não Amavam as Mulheres, de David Fincher, ainda não foram exibidos e podem entrar entre os indicados na última hora. Outro que pode entrar na disputa é Young Adult, projeto que volta a reunir Jason Reitman na direção e Diablo Cody no roteiro (dupla que fez sucesso com Juno). Já Harry Potter 7.2 possui algumas chances. A Warner tem promovido bastante o filme, em busca de ao menos uma indicação. Se ela vier, deve parar por aí.

Como podemos ver, ainda tem muita coisa para acontecer e a temporada de prêmios nem começou. Aqui no blog continuaremos acompanhando e, nos próximos dias, falaremos sobre como andam as disputas pelos prêmios nas outras categorias.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Planeta dos Macacos: A Origem


Quando a Fox planejava produzir Planeta dos Macacos em 1968, baseado no livro de Pierre Boulle, deparou-se com um problema: como caracterizar os os símios do filme de maneira realista, fazendo com que as pessoas levassem tanto o longa quanto seus personagens a sério. Os produtores foram salvos pela maquiagem revolucionária de John Chambers, que não apenas era bastante realista como permitia que os atores por trás das máscaras pudessem se expressar através de movimentos faciais e, principalmente, do olhar.

Mais de 40 anos depois, o estúdio resolveu novamente retornar à franquia (depois da fracassada versão de Tim Burton em 2001). Ao invés de readaptar a obra original, a escolha foi por fazer um prequel, explicando como a Terra viria a se tornar o planeta dominado pelos símios. E mais uma vez a escolha sobre como retratar os protagonistas se mostrou crucial. Na era pós-Senhor dos Aneis e King Kong, foi natural a escolha de Andy Serkis e da WETA Digital para dar vida a essas criaturas através do sistema de captura de movimentos. Se aqui e ali os animais revelam sua origem artificial, na maior parte das vezes eles surgem mais humanos do que os próprios protagonistas de carne e osso. Isso graças ao talento que Serkis já havia demonstrado ao interpretar Gollum e o macaco gigante: o de passar sentimentos complexos através do olhar.

Mas se há uma clara preocupação com o desenvolvimento das criaturas digitais, ela praticamente inexiste com aquelas de carne e osso. Somente a relação entre Will Rodman (James Franco) e seu pai Charles (John Lithgow) é mais aprofundada pelo roteiro de Rick Jaffa e Amanda Silver. Rodman é um cientista testando um novo tipo de vírus que pode vir a ser a cura para o mal de Alzheimer - doença que seu pai sofre. É durante testes com macacos que ele percebe que o vírus melhora aspectos da cognição dos símios, tornando-os superinteligentes. Depois de um problema no laboratório que faz com que os animais sejam sacrificados, Will leva para casa o chimpanzé recém-nascido Cesar (Serkis), filho de uma macaca que já havia sido inoculada com o vírus. Conforme cresce, Cesar vai demonstrando uma capacidade cada vez maior de raciocínio e compreensão do mundo à sua volta.


Tanto Franco quanto Lithgow entregam performances boas com seus personagens, fazendo com que acreditemos naquela relação e nas motivações do cientista. Já os outros humanos da trama são extramemente mal caracterizados. O chefe de Will, Steven Jacobs (David Oyelowo), é retratado de forma maniqueísta, como um executivo que só busca o lucro a qualquer custo, um típico vilão cartunesco que só faltava gargalhar ao fim de suas falas crueis. Já Brian Cox não compromete tanto, apesar de seu personagem também ser caricatural, enquanto que Tom Felton repete seu Draco Malfoy, correndo o risco de ficar marcado por esse tipo de papel. E o que dizer de Freida Pinto, claramente um desperdício de celulose, já que sua personagem não possui a menor justificativa para existir na trama a não ser o de haver ao menos uma presença feminina no filme.

O fato é que Planeta dos Macacos: A Origem só funciona por causa de seus protagonistas símios. É emocionante vermos a evolução de Cesar como líder e a forma como ele conquista a confiança dos outros animais. O confronto durante o clímax é tenso e muito bem dirigido por Rupert Wyatt, que não compromete na maior parte do longa. O triste é constatar que os roteiristas acreditam que a única forma de fazer com que "torçamos" contra a raça humana é retratar a maioria de seus membros como criaturas unidimensionais. Um artifício pobre que já havia sido usado recentemente em Distrito 9, filme com temática parecida, e que volta a aparecer aqui. Claramente uma afronta à inteligência de seu público.

Aquém do clássico de 1968, Planeta dos Macacos: A Origem agrada graças às criaturas digitais criadas por Serkis e pela WETA, servindo como uma boa introdução à série. E pela característica demonstrada pelos humanos no longa não é difícil imaginá-los se transformando nos seres mudos e estúpidos vistos na obra original.

Rise of the Planet of the Apes (EUA, 2011). Dirigido por Rupert Wyatt. Com Andy Serkis, James Franco, John Lithgow, Freida Pinto, David Oyelowo, Brian Cox, Tom Felton, Tyler Labine e Jamie Harris. 

 

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A Árvore da Vida

Em toda a sua filmografia, Terrence Malick aborda constantemente o quanto o ser humano é pequeno em relação à natureza. Seja na rebeldia à la Bonnie e Clyde de Terra de Ninguém, ou durante a grande depressão em Cinzas do Paraíso, na guerra total de Além da Linha Vermelha ou até nas descobertas mútuas de europeus e americanos em O Novo Mundo, essa temática sempre era retomada de alguma forma. Em A Árvore da Vida, seu trabalho mais complexo e profundo, o cineasta exacerba essa questão, entrelaçando uma narrativa fragmentada, composta por lembranças da adolescência de seu protagonista, com imagens da origem do universo e da vida em nosso planeta, para analisar exatamente a maneira como nós lidamos com nossa própria existência.

O protagonista citado é Jack O’Brien (Sean Penn como adulto e Hunter McCracken como jovem) que, durante o que poderíamos chamar de “crise existencial” (literalmente, como veremos), passa a se lembrar dos momentos de sua infância e adolescência. Somos apresentados primeiro a sua mãe (Jessica Chastain) e a seu rígido pai (Brad Pitt) e posteriormente a seu irmão mais velho, R. L. (Laramie Eppler). A narrativa, fragmentada e não linear, conta sobre a formação de Jack como indivíduo, desde as brincadeiras com os irmãos, passando pelos conflitos com o pai, a relação doce com a mãe, até a morte de R. L., aos 19 anos. Ao mesmo tempo, Malick contempla o espectador com imagens do início da vida na Terra, lembrando-nos de que a vida de Jack (e de todos nós) começou, de fato, há bilhões de anos.

Tecnicamente brilhante, A Árvore da Vida é uma obra profundamente cinematográfica. Malick consegue gerar reflexões profundas somente com imagens e com pouca narração ao fundo. Fotografado de forma magistral por Emmanuel Lubezki, o filme é um espetáculo inebriante de formas, cores e sequências espetaculares, que vão de galáxias e supernovas gigantes aos seres vivos microscópicos com o mesmo apuro estético.  É de se admirar, também, a forma naturalista como Lubezki retrata boa parte da história, que se passa nos anos 1950, em contraponto com a frieza da modernidade composta pelos prédios altos, sufocantes, dos dias de hoje.

A Árvore da Vida não é um espetáculo só para os olhos, mas principalmente para a mente. O que pode parecer confuso devido à fragmentação narrativa (característica da filmografia de Malick), na verdade é uma bela alegoria sobre a relação do ser humano com a natureza, a espiritualidade e a religião. O cineasta não faz julgamentos, mas analisa de forma profunda a maneira como lidamos com o mundo. Em vários momentos, o protagonista/narrador parece questionar uma determinada entidade, num momento de oração para um suposto “deus”. A procura por essa divindade é constante na obra, seja através da narrativa ou da religiosidade do sr. O’Brien. Só que a abordagem de Malick é bastante secularista: diante de todo o espetáculo grandioso proporcionado pela natureza, a procura do homem por um “deus” é vista como algo até natural, devido a suas dúvidas, incertezas e carências diante do que ele considera um milagre. O que muda, segundo o filme, é a maneira com que as pessoas expressam sua espiritualidade. Para o diretor, é compreensível tanto a relação de determinadas pessoas com um "deus" personalista quanto daquelas que admiram a existência por si só, com uma visão de mundo mais materialista.

Nesse ponto é relevante notar a importância da narrativa central. A relação de Jack com seus pais nada mais é do que a própria relação do homem com a natureza e a religião. Apesar de ficar claro o amor de ambos para com os filhos, seus comportamentos são opostos: enquanto a mãe é uma figura calma e compassiva, o pai é rígido e autoritário. O sr. O'Brien é a clara representação da divindade clássica das religiões monoteístas: ao mesmo tempo em que visa o bem de suas “crias”, pode-se mostrar intransigente e cruel, apostando no medo como única forma de obediência. O dogmatismo do personagem se revela até mesmo em sua história de vida, já que ele abandonou o sonho de ser músico (sua “vocação” natural) para tornar-se militar. Não é a toa que é o pai o responsável pela educação religiosa das crianças, enquanto que, por outro lado, a mãe parece viver muito mais em harmonia com a natureza e a própria vida, ficando afastada de qualquer dogmatismo ou rigidez – sem deixar, com isso, de ter sua própria espiritualidade. Essa dualidade fica clara depois da morte de R. L.: enquanto o pai se refugia dentro de uma igreja, a mãe chora no jardim de sua casa, em contato com o mundo físico.


Na verdade, não interessa a Malick discutir a existência ou não de uma divindade (ou inteligência) criadora, ou se há vida após a morte. O que importa para ele é exatamente a forma como nós, humanos, enxergamos nossa vida e lidamos com ela. A genialidade do diretor está em como ele demonstra isso, levantando reflexões sobre o tamanho da importância que nós damos ao nosso próprio ego (seja como indivíduo, seja como humanidade). A vida, na visão de Malick, é algo mutável, em eterna construção, e independe da existência humana. É a nossa relação com a beleza da existência e do temor à morte que nos leva a reagir e buscar certo conforto, recorrendo à espiritualidade e à religião. O belíssimo final, aberto a várias interpretações, demonstra que, apesar de nossa passagem ser breve e de não sabermos o que vem a seguir – se é que vem algo -, nossa vida vai continuar a existir sempre na memória daqueles que nos amaram e, nesse caso, a morte está longe de ser o fim.

Não é à toa que A Árvore da Vida tem sido comparado com 2001 – Uma Odisseia no Espaço. Essas duas obras-primas do cinema casam-se com perfeição tanto na sua narrativa quanto na temática. Se o clássico de Stanley Kubrick tratava exatamente da racionalização extrema do ser humano do futuro (a ponto de um robô demonstrar mais emoção que o homem), Malick, por outro lado, faz uma profunda reflexão sobre a espiritualidade humana, lembrando que, assim como a razão, essa também é uma característica inerente à nossa espécie. Em ambos os casos temos filmes que remetem à origem do homem e aos simbolismos, muito mais do que a uma narrativa clássica com começo meio e fim. Afinal, a vida é um processo inacabado e em constante mutação.

The Tree of Life (EUA). Dirigido por Terrence Malick. Com Hunter McCracken, Brad Pitt, Jessica Chastain, Laramie Eppler, Sean Penn, Tye Sheridam e Fiona Shaw.


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Super 8

Super 8 é uma ode ao cinema de Steven Spielberg. Produzido pelo próprio Spielberg, é em suas referências que o diretor e roteirista J. J. Abrams bebe sem a mínima sutileza. O resultado é um filme que traz dentro de si um sentimento gostoso de nostalgia, de inocência e de aventura pura e simples que há muito não se via. Apesar disso, a obsessão de Abrams com o estilo spielberguiano – e as comparações que inevitavelmente surgem a partir daí – são exatamente o que acaba tirando um pouco – só um pouco – do brilho do projeto.

O filme conta a história de Joe Lamb (Joel Courtney), um jovem que recentemente perdeu a mãe, morta em um acidente na fábrica onde trabalhava. Vivendo sozinho com o exigente pai, Jackson (Kyle Chandler), Joe tem se ocupado ultimamente em ajudar seu melhor amigo Charles (Riley Griffiths) e seus colegas de escola a realizar um filme de zumbis com uma câmera super 8. Durante as filmagens, ele se aproxima de Alice (Elle Fanning), menina cujo pai (Ron Eldard) possui certas desavenças com Jackson. Durante uma filmagem, os jovens presenciam o descarrilamento de um trem e o que a princípio parecia apenas um acidente se mostra ser mais do que isso.

Ambientado no final dos anos 1970, o longa lembra em todos os aspectos os trabalhos dirigidos e produzidos por Spielberg no auge de sua carreira. Da pequena cidade onde acontece a história, passando pelas bicicletas, roupas e cortes de cabelo da época, ou até mesmo por certas sequências (a aproximação dos militares após o acidente, com lanternas brancas e seus rostos nas sombras, lembra sequência idêntica de E.T.), tudo parece ter sido criado pelo mesmo pelo diretor de Indiana Jones e Tubarão. Só que as referências não se limitam a Spielberg: Super 8 também lembra de outros ícones da época, como Halloween, Goonies e até mesmo os zumbis de George A. Romero.


Mas Abrams sabe que a nostalgia e a homenagem não são suficientes para criar um bom filme. Por isso investe no desenvolvimento de seus personagens, principalmente as crianças, ajudando a criar figuras carismáticas e facilmente identificáveis. Os arquétipos, aliás, também são dos jovens dos clássicos oitentistas (ficando clara, aqui, a influência dos Goonies): há o nerd medroso, o gordinho mandão, o colecionador de bugigangas (no caso, de explosivos) e o mocinho imaginativo e curioso. Todo o elenco jovem é muito bom, com destaque para o protagonista vivido por Joel Courtney e para a Alice de Elle Fanning, que depois do ótimo Um Lugar Qualquer se consolida como a maior revelação do ano (mostrando-se até mais promissora do que a irmã). É inegável que, quando o filme deixa de se concentrar nas crianças e passa a se focar no pai de Joe, perde muito da sua força.

Só que a maior decepção de Super 8 se encontra no que poderia ser seu trunfo: o monstro. Abrams se aproxima de seu mentor ao emular o suspense e tensão de um Tubarão, mas falha enormemente ao buscar a dramaticidade de um E.T.. O seu monstro funciona mais como ameaça do que como figura dramática. Não que o longa não tente dar maior peso à criatura: basta reparar que, depois de confrontado por Joe, podemos vislumbrar seus pequenos olhos, numa tentativa de humaniza-lo. O problema é que a artificialidade do ser (que lembra mais um filhote de Cloverfield do que um extraterrestre digno de compaixão) atrapalha esse desenvolvimento. E nesse caso, a homenagem acaba pesando contra o diretor: basta nos lembrarmos da adorável criatura do filme de 1982, muito mais palpável e menos artificial, e as diferenças ficam ainda mais gritantes. Abrams só volta a acertar a mão quando novamente concentra o peso dramático de sua obra no protagonista, como mostra a bela cena final com o relicário de sua mãe.

Super 8 ganha muito quando se concentra em seus personagens de carne e osso e se perde quando se foca nos efeitos especiais ou em monstros grandiosos – curiosamente, um tipo de vício que também vitimou Spielberg em seus últimos blockbusters. O filme agrada muito exatamente por nos fazer relembrar que já existiu um cinema de entretenimento puro que não ofendia seus espectadores. Abrams se consolida como um bom diretor (é dele o também ótimo Star Trek), com sensibilidade e talento para ser mais do que um simples funcionário da indústria. Basta agora se desgarrar do mestre e começar a caminhar com suas próprias pernas.

Super 8 (idem, EUA). Dirigido por J. J. Abrams. Com Joel Courtney, Joel Chandler, Elle Fanning, Riley Griffths, Ryan Lee, Gabriel Basso, Zach Mills, Ron Eldard, David Gallagher e Noah Emmerich.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

X-men: Primeira Classe

No início da última década, X-men inaugurou uma nova era de adaptações dos quadrinhos para o cinema. Seu sucesso propiciou obras como Homem-Aranha e O Cavaleiro das Trevas, culminando com a entrada da própria Marvel no ramo dos estúdios de cinema. O filme de Bryan Singer marcava o desejo de muitos nerds que sempre sonharam em ver seus personagens favoritos transpostos para a tela grande de forma digna, ao mesmo tempo que mostrava a Hollywood que os heróis poderiam se transformar em uma garantia de lucros exorbitantes.

O fato é que a trilogia original, apesar de tratar de um mundo fantástico povoado por mutantes superpoderosos, tinha um pé fincado fortemente no realismo. Nada de roupas coloridas ou vilões megalomaníacos: haviam motivações claras de todos os lados e uma discussão pertinente sobre aceitação, preconceito e intolerância.

Primeira Classe retoma essa temática depois dos fracassos de X-men: O Confronto Final e X-men origens: Wolverine, mas esteticamente as mudanças são profundas. Some a sobriedade e o realismo dos longas iniciais, aparecendo aqui características marcantes dos quadrinhos. É como se, hoje, o público já estivesse familiarizado com esse universo. E a escolha de Matthew Vaughn para a direção mostra-se mais do que acertada.

Vaughn, que quase dirigiu O Confronto Final, já havia demonstrado em Kick Ass - Quebrando Tudo que tem talento para homenagear a nona arte na telona. Percebe-se essa reverência não apenas na caracterização dos personagens, mas também nas escolhas estéticas do filme. Seja no posicionamento da câmera (o rosto de um personagem refletindo em uma barra de ouro durante um diálogo), a decupagem (a revelação do 'arsenal' de Sebastian Shaw enquanto conversa com o jovem Magneto) ou até mesmo os travellings (quando a câmera se afasta para um plano geral e mostra Emma Frost em uma geleira), é como se estivessemos lendo uma história em quadrinhos bem ali, dentro do cinema. Só que o talento de Vaughn é grande o bastante para não deixar que essa experiência deixe de ser cinematográfica (coisa que Zack Snyder falhou tremendamente no chatíssimo 300).


Mas não é só a direção de Vaughn que transforma Primeira Classe no segundo melhor longa da fanquia (X2 ainda é imbatível). Para ajudar nesse recomeço, nada melhor como ambientar a história nos anos 60, começo da Era de Prata dos quadrinhos e época do surgimento dos heróis mais famosos da Marvel. Esse é apenas um dos acertos do ótimo roteiro co-escrito por Vaughn junto a Ashley Miller, Zack Stentz e Jane Goldman. A presença de Singer na produção também ajuda: ninguém como ele para ensinar que, para se fazer um bom filme de super-heróis, não basta apenas investir na ação, mas também na profundidade de seus personagens.

Todos os diálogos entre Charles Xavier e Erik Lehnsherr (vulgo Magneto) já estão entre os momentos mais memoráveis do ano. A doçura e confiança de James McAvoy junto à convicção e à energia de Michael Fassbender se complementam em cena. Os dois atores criam personagens cativantes que carregam o filme nas costas. Mas não estão sozinhos. Unem-se a eles os ótimos jovens Jennifer Lawrence e Nicholas Hoult, como Mística e Fera, dois dos mutantes que mais contribuem para a temática "séria" do filme. E claro, há também Kevin Bacon como o maquiavélico Sebastian Shaw, um vilão que saiu diretamente das páginas clássicas para o cinema. Ao mesmo tempo em que traz personagens bem construídos e uma história coesa, Primeira Classe abraça os exageros, não negando suas origens.

De certa forma, X-men: Primeira Classe é apenas mais uma obra que mostra que as histórias de super-heróis podem, sim, ser feitas para adultos, com maturidade e complexidade. Sem fugir, claro, da estética característica do entretenimento puro. Afinal, há mais de meio século, as histórias em quadrinhos deixaram de ser "coisa de criança".

X-men: First Class (EUA, 2011). Dirigido por Matthew Vaughn. Com James McAvoy, Michael Fassbender, Kevin Bacon, Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult, Rose Byrne, January Jones, Caleb Landry Jones, Lucas Till, Zoë Kravitz, Álex González, Jason Fleming, Edi Gathegi e Oliver Platt.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Notícias da semana

- Inicio essa nova seção do blog, que deve ser semanal, com o resultado do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, entregue ontem no Rio de Janeiro. Como esperado, foi uma lavada de Tropa de Elite 2, com oito prêmios, entre eles o de filme, longa de ficção pelo voto popular, diretor (José Padilha), ator (Wagner Moura) e roteiro. O troféu de melhor atriz foi para Glória Pires, a única coisa acima da média em Lula, o Filho do Brasil. É bacana a ideia de transformar o prêmio em um 'Oscar brasileiro', mas a cerimônia podia ser mais organizada e atrativa para o público. E ver filmes como De Pernas pro Ar e O Bem Amado concorrendo é bastante constrangedor. Todos os premiados podem ser conferidos aqui.

- O Renato Silveira publicou uma lista com os filmes exibidos no Festival de Cannes já adquiridos pelas distribuidoras nacionais. Ele promete atualizá-la conforme forem saindo as datas, mas algumas estreias já foram confirmadas. A primeira é simplesmente do vencedor da Palma de Ouro, A Árvore da Vida, marcada para o próximo dia 23. Se por um lado é bom não esperar tanto para assistir à aguardadíssima obra de Terrence Malick, por outro é preciso constatar um problema sério da distribuição de filmes no país: a falta de sala. A Árvore da Vida estreia numa época complicada e vai ter que concorrer com filmes como X-men: Primeira Classe, Carros 2 e Kung Fu Panda 2 - além de Transformers 3 e Capitão América, que estrearão nas semanas seguintes. Não há dúvidas de que, com tantos arrasa-quarteirões na área, o vencedor de Cannes será relegado ao segundo plano pelos exibidores.

- Na última semana começaram as campanhas de divulgação de filmes esperados para o final do ano. O destaque fica por conta do novo de David Fincher (A Rede Social), Os Homens que Não Amavam as Mulheres (confira abaixo). A peça dá o tom do que será o filme e já é melhor do que a fraca versão sueca digirida por Niels Arden Oplev. Outro que também começou sua divulgação foi The Descendents, novo trabalho de Alexander Payne (Sideways), que traz George Clooney como protagonista. Os dois longas são cotados para estar entre os indicados ao Oscar do ano que vem.



- Falando em Oscar 2012, o blog The Filme Experience atualizou suas apostas para os possíveis indicados ao prêmio. Entre as novidades, estão as indicações de Kirsten Dunst a melhor atriz por Melancolia e de Woody Allen a melhor roteiro por Meia-Noite em Paris (seria a 15ª indicação dele nesta categoria). Tudo influência de Cannes.

- Mais um brasileiro confirmado em Elysium, segundo trabalho de Neil Blomkamp (Distrito 9). Depois de Wagner Moura, é Alice Braga que entra para o elenco, que tem como protagonistas Matt Damon e Jodie Foster.

- Para finalizar, uma obviedade: Se Beber, Não Case 3 vai ser produzido e já contratou roteirista. A segunda parte da franquia bateu recordes de bilheteria em seu fim de semana de estreia e lá vem mais uma continuação caça-níqueis desnecessária.