sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Super 8

Super 8 é uma ode ao cinema de Steven Spielberg. Produzido pelo próprio Spielberg, é em suas referências que o diretor e roteirista J. J. Abrams bebe sem a mínima sutileza. O resultado é um filme que traz dentro de si um sentimento gostoso de nostalgia, de inocência e de aventura pura e simples que há muito não se via. Apesar disso, a obsessão de Abrams com o estilo spielberguiano – e as comparações que inevitavelmente surgem a partir daí – são exatamente o que acaba tirando um pouco – só um pouco – do brilho do projeto.

O filme conta a história de Joe Lamb (Joel Courtney), um jovem que recentemente perdeu a mãe, morta em um acidente na fábrica onde trabalhava. Vivendo sozinho com o exigente pai, Jackson (Kyle Chandler), Joe tem se ocupado ultimamente em ajudar seu melhor amigo Charles (Riley Griffiths) e seus colegas de escola a realizar um filme de zumbis com uma câmera super 8. Durante as filmagens, ele se aproxima de Alice (Elle Fanning), menina cujo pai (Ron Eldard) possui certas desavenças com Jackson. Durante uma filmagem, os jovens presenciam o descarrilamento de um trem e o que a princípio parecia apenas um acidente se mostra ser mais do que isso.

Ambientado no final dos anos 1970, o longa lembra em todos os aspectos os trabalhos dirigidos e produzidos por Spielberg no auge de sua carreira. Da pequena cidade onde acontece a história, passando pelas bicicletas, roupas e cortes de cabelo da época, ou até mesmo por certas sequências (a aproximação dos militares após o acidente, com lanternas brancas e seus rostos nas sombras, lembra sequência idêntica de E.T.), tudo parece ter sido criado pelo mesmo pelo diretor de Indiana Jones e Tubarão. Só que as referências não se limitam a Spielberg: Super 8 também lembra de outros ícones da época, como Halloween, Goonies e até mesmo os zumbis de George A. Romero.


Mas Abrams sabe que a nostalgia e a homenagem não são suficientes para criar um bom filme. Por isso investe no desenvolvimento de seus personagens, principalmente as crianças, ajudando a criar figuras carismáticas e facilmente identificáveis. Os arquétipos, aliás, também são dos jovens dos clássicos oitentistas (ficando clara, aqui, a influência dos Goonies): há o nerd medroso, o gordinho mandão, o colecionador de bugigangas (no caso, de explosivos) e o mocinho imaginativo e curioso. Todo o elenco jovem é muito bom, com destaque para o protagonista vivido por Joel Courtney e para a Alice de Elle Fanning, que depois do ótimo Um Lugar Qualquer se consolida como a maior revelação do ano (mostrando-se até mais promissora do que a irmã). É inegável que, quando o filme deixa de se concentrar nas crianças e passa a se focar no pai de Joe, perde muito da sua força.

Só que a maior decepção de Super 8 se encontra no que poderia ser seu trunfo: o monstro. Abrams se aproxima de seu mentor ao emular o suspense e tensão de um Tubarão, mas falha enormemente ao buscar a dramaticidade de um E.T.. O seu monstro funciona mais como ameaça do que como figura dramática. Não que o longa não tente dar maior peso à criatura: basta reparar que, depois de confrontado por Joe, podemos vislumbrar seus pequenos olhos, numa tentativa de humaniza-lo. O problema é que a artificialidade do ser (que lembra mais um filhote de Cloverfield do que um extraterrestre digno de compaixão) atrapalha esse desenvolvimento. E nesse caso, a homenagem acaba pesando contra o diretor: basta nos lembrarmos da adorável criatura do filme de 1982, muito mais palpável e menos artificial, e as diferenças ficam ainda mais gritantes. Abrams só volta a acertar a mão quando novamente concentra o peso dramático de sua obra no protagonista, como mostra a bela cena final com o relicário de sua mãe.

Super 8 ganha muito quando se concentra em seus personagens de carne e osso e se perde quando se foca nos efeitos especiais ou em monstros grandiosos – curiosamente, um tipo de vício que também vitimou Spielberg em seus últimos blockbusters. O filme agrada muito exatamente por nos fazer relembrar que já existiu um cinema de entretenimento puro que não ofendia seus espectadores. Abrams se consolida como um bom diretor (é dele o também ótimo Star Trek), com sensibilidade e talento para ser mais do que um simples funcionário da indústria. Basta agora se desgarrar do mestre e começar a caminhar com suas próprias pernas.

Super 8 (idem, EUA). Dirigido por J. J. Abrams. Com Joel Courtney, Joel Chandler, Elle Fanning, Riley Griffths, Ryan Lee, Gabriel Basso, Zach Mills, Ron Eldard, David Gallagher e Noah Emmerich.

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